sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sonetos Completos. Antero Quental. «Quem, no meio do lidar da vida, roçando os braços pelas arestas cortantes que a erriçam de ângulos, pousar o olhar da alma sobre um soneto e não sentir o que os sequiosos sentem…»

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Ignoto Deo
«Que beleza mortal se te assemelha,
ó sonhada visão desta alma ardente,
que reflectes em mim teu brilho ingente,
lá como sobre o mar o Sol se espelha?

O mundo é grande, e esta ânsia me aconselha
a buscar-te na Terra: e eu, pobre crente,
pelo mundo procuro em Deus clemente,
mas a ara só lhe encontro…, nua e velha…

Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és aqui? Olhar de piedade,
gota de mel em taça de venenos…

Pura essência das lágrimas que choro
e sonho dos meus sonhos! Se és verdade,
descobre-te, visão, no céu ao menos».
Soneto de Antero de Quental, in ‘Sonetos Completos


In Antero de Quental, Sonetos Completos, 1886, Grandes Clássicos da Poesia, Publicações Europa-América, 1998, ISBN 972-104-421-0.

Cortesia de PEAmérica/JDACT