segunda-feira, 4 de junho de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «Não temos pescadores na família, disse. Por isso, temos de confiar nos outros. Fez uma pausa. Pelo menos, até agora. Será que algum de vós vai ser pescador?»

jdact

A Mulher que Amou Jesus
«(…) É lindo, disse Quezia. Maria, subitamente, não conseguia falar. Gostei muito de fazer esse trabalho, disse o jovem. Tinha uma voz agradável e, de certa forma, diferente. Preveni meu pai para que não o trouxesse nesta viagem. Se o perder, não posso prometer fazer um trabalho igual. Pelo menos, nunca seria igual. Nem sempre se podem fazer réplicas de um trabalho. Exactamente o que eu estava pensando, sobre perder aquele cajado, pensou Maria. Que estranho! Mas o que quis ele dizer com não poder esculpir outro castão? As coisas nunca ficam iguais da segunda vez, explicou novamente, como se lesse os seus pensamentos. Mesmo que o queira fazer. Então, sorriu, um sorriso sedutor e reconfortante, mudando por completo a sua fisionomia, com os olhos brilhando. De onde são?, perguntou, quando ela não respondeu de imediato ao seu comentário sobre o cajado. De Magdala, disse uma das primas. De Magdala, repetiu Maria.
Qual é o seu nome?, perguntou ele. Maria, respondeu ela, baixinho. O nome da minha mãe, disse Jesus. Deveria conhecê-la. Ela sempre gosta de conhecer outras Marias. Acenou para trás, com a mão, para uma mulher que caminhava cercada por crianças. Obedientes, Maria, suas primas e Quezia ficaram para trás, esperando para conhecer a outra Maria. Ela caminhava rapidamente, ocupada com os meninos à sua volta. Falava menos que o seu marido ou o filho mais velho, mas era acolhedora. Também fez perguntas, mas delicadamente, sem importunar. Queria saber de onde eram e quem eram as suas famílias. Sabia quem era Natã. E quem não ouvira falar dele e dos seus bem-sucedidos negócios?, e chegou a dizer que invejava os seus filhos, que tanto o ajudavam no trabalho. As suas feições, finas, faziam o seu rosto parecer clássico, como o da efígie de uma moeda ou de uma estátua. Tinha modos calmos e reconfortantes. Disse que ela, ou outra pessoa da família, viajava anualmente a Magdala para comprar peixes em conserva, que eram incomparáveis.
Não temos pescadores na família, disse. Por isso, temos de confiar nos outros. Fez uma pausa. Pelo menos, até agora. Será que algum de vós vai ser pescador? Dirigia-se aos três meninos que vinham caminhando atrás: um menino moreno, de cerca de 12 anos, seguido de outro, baixinho e atarracado, uns dois anos mais novo, e finalmente pelo caçula. Tiago, disse ela, mostrando o moreno e Judas. O caçula é José, mas nós o chamamos de Zé. Dois Josés na família gera confusão. O menino sorriu e acenou para elas, enquanto Tiago meneou a cabeça, em sinal de assentimento. Tiago mostra pouco interesse em brincar ao ar livre, disse a sua mãe, despreocupada. Gosta mais de ficar em casa, lendo. É como o meu irmão Eli, disse alegremente Maria. Talvez houvesse um deles em cada família. Ah, ele está aqui?, perguntou a Maria mais velha. Sim, está ali com o grupo de Magdala. Como se chama? Maria. Mas é também o meu nome!, disse, contente. Estou muito satisfeita por a ter conhecido. E parecia dizê-lo com sinceridade. Muito obrigada, disse Maria. Ninguém jamais lhe dissera isso. Então, somos as filhas de Miriam, disse a outra Maria, embora os nossos nomes sejam a forma grega da palavra. Fez um gesto para que se aproximassem as suas outras crianças. Esta aqui é Rute, disse, apresentando uma menina mais alta e mais velha que Maria. Rute baixou a cabeça. E Lia. E, de repente, apareceu uma menina forte, mais ou menos da idade de Maria». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT