terça-feira, 5 de junho de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «De repente, o grupo inteiro diminuiu o ritmo da marcha. Está aproximando-se o Sabá, disse a Maria mais velha. O Sabá! Maria e as outras olharam entre si»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Olá, disse Lia. Não é de Nazaré. Seria uma pergunta? Um desafio?  Não, disse Maria. Eu, e minha amiga e minhas primas, aqui, somos de Magdala. Como Lia parecia não ter compreendido, Maria continuou: fica no mar da Galileia. O mar de Quinerete. Ah, já sei, disse Lia, contente. Parece um espelho de manhã cedo e ao pôr-do-sol. Tem sorte de morar lá. Deveria visitar-nos e eu lhe mostraria tudo. Talvez eu vá, disse, fazendo um gesto com o braço. Acho que já conheceu todos nós, menos o bebé, disse Lia. Olha ele ali. E apontou para um burrico de cor escura, com um pirralho sobre a sela, que era segurada com força por outro primo, que caminhava ao lado. É o Simão. Caminhavam, conversando, e nem Maria, nem Quezia, nem as suas primas repararam que o sol sumia do céu. Era gostoso viajar com esta família de Nazaré. Todos eles, ou, pelo menos, Maria, Jesus e Lia, pareciam prestar atenção a tudo que ela dizia e, de certa forma, o achavam importante. Maria percebia que Tiago também escutava, mas ele falava pouco. As perguntas que lhe faziam, por alguma razão misteriosa, eram as que ela queria responder, e não aquelas perguntas maçantes que todo o mundo fazia e faziam que as respostas fossem igualmente vazias.
De repente, o grupo inteiro diminuiu o ritmo da marcha. Está aproximando-se o Sabá, disse a Maria mais velha. O Sabá! Maria e as outras olharam entre si. Tinham esquecido por completo! E agora, a caravana teria que parar ali, bem no meio da Samaria, em respeito ao Sabá! Seria melhor voltarem para o seu grupo. Fique connosco, disse a Maria mais velha. Sim, passe a noite do Sabá connosco. Temos bastante espaço. Era Jesus que falava. Maria olhou para ele, tentando ver se falava com sinceridade ou se estava apenas sendo delicado. Por favor. E ele tinha um sorriso de boas-vindas. E será que a sua família não ficaria aborrecida? Ou preocupada? As pessoas visitam-se umas às outras a toda a hora, dizia Maria, a mais velha. É uma boa forma de celebrar o Sabá. Mas Jesus poderia ir avisar a sua família sobre onde está, para que não se preocupem. E as nossas famílias também?, perguntaram, excitadas, as primas e Quezia. Claro que sim. Muito obrigada, disse Maria, mordendo o lábio para não demonstrar a sua excitação com a perspectiva de passar o Sabá com aquelas pessoas estranhas, que eram tão misteriosas quanto reconfortantes.
Começaram a procurar um lugar adequado para acampar, mas com o pouco tempo que tinham antes que começasse o Sabá, não podiam ser muito exigentes. Rapidamente, escolheram um lugar que era plano e onde havia algumas árvores, que ofereciam protecção e onde se podiam amarrar os animais. As outras famílias de Nazaré também se acomodavam em volta deles, e em pouco tempo havia surgido uma cidadezinha de barracas. Rápido, agora, disse a Maria mais velha aos seus filhos. Vamos fazer a fogueira! Judas e Tiago começaram a apanhar gravetos, empilhando-os em frente à barraca e depois pondo fogo. Meninas, ajudem-me a preparar a comida para pôr na panela. Abriu um saco, de onde tirou panelas e conchas para servir e apontou para outro. O feijão, ali. Será que dá tempo de assar pão? E olhou na direcção do sol, avaliando a luz.
Entretanto, José estava cuidando dos jumentos, aliviando-os, dos arreios e das selas, e levava-os ao poço para beber água. Dentro da barraca maior, Maria, as primas e Quezia ocupavam-se preparando as cobertas onde as pessoas iriam dormir. As luzes!, disse a Maria mais velha, acenando para Rute. Por favor, filha, prepare as luzes do Sabá. Rute começou a procurá-las numa das trouxas e, por fim, achou duas lamparinas. Com destreza, encheu-as de azeite de oliva quase até o pavio e deixou-as prontas. Um pequeno fogareiro de barro foi colocado sobre as achas da fogueira e a panela com o feijão foi posta no fogo; a massa do pão, preparada às pressas, foi coberta e colocada para crescer. Havia um clima de expectativa, pela pressa e pelo que restava por fazer. Preparou-se mais comida, pois deveria haver o suficiente até ao pôr-do-sol do dia seguinte, e assim que ficou pronta, foi retirada do fogo, dando lugar a outra fornada». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT