segunda-feira, 11 de junho de 2018

Isabel I. O Anoitecer de um Reinado. Margaret George. «Há muito tempo, amei-o desesperadamente, do jeito que uma mulher só consegue amar apenas uma vez na vida. O tempo mudou esse amor»

Cortesia de wikipedia

Isabel. Maio de 1588
«(…) Chegamos ao jardim das rosas, onde os canteiros eram feitos de acordo com a cor e a variedade. Havia madressilvas-dos-bosques, com pétalas cor-de-rosa abertas como molduras; pequenas rosas marfim almiscaradas, protegidas por seus arbustos espinhosos; vigorosos arbustos com rosas damasco com muitas pétalas vermelhas e brancas, e rosas da província; canteiros de rosas amarelas e vermelhas, exalando canela. Os aromas misturados estavam particularmente doces naquela tarde. Enganei-me ao chamá-la de lírio, ele explicou Vejo agora que as rosas reflectem melhor a sua verdadeira natureza. Há tantos tipos diferentes, assim como a senhora tem tantas facetas. Mas o meu lema pessoal é Semper eadem, Sempre a mesma, nunca mudar. Eu tinha escolhido tal lema por considerar que a imprevisibilidade num soberano era um grande fardo para os súbditos. Não seria assim que os seus conselheiros a descreveriam, ele disse. Nem os seus pretendentes. Ele desviou o olhar e acrescentou: eu deveria saber disso, já que vivi as duas situações. Ainda bem que não pude ver o rosto dele para interpretar o que quis dizer com aquele, mas acabei explicando. Apenas brinco de ser imprevisível, por dentro sou firme como uma rocha. Sou sempre leal e estou sempre presente. Mas um pouco de encenação dá um tempero à vida e mantém os meus inimigos em alerta. E os amigos também, Majestade, disse. Até mesmo sendo os seus olhos há muito tempo, às vezes não sei se devo acreditar no que vejo. Pode sempre perguntar-me, Robert. Sempre lhe responderei. Prometo-lhe.
Robert Dudley: a única pessoa para a qual poderia revelar a minha alma, com quem conseguia ser a pessoa mais honesta possível. Há muito tempo, amei-o desesperadamente, do jeito que uma mulher só consegue amar apenas uma vez na vida. O tempo mudou esse amor, transformando-o numa coisa mais resistente, espessa, forte e silenciosa, assim como dizem que acontece com casamentos muito longos. Os russos dizem: o martelo estilhaça vidro, mas forja o aço. Certa vez, disse a um embaixador que se eu me casasse algum dia seria como rainha e não como Elizabeth. Se algum dia eu fosse convencida de que um casamento era uma necessidade política, então levaria a situação adiante, apesar da minha relutância pessoal. Mas, em minha coroação, prometi aceitar a própria Inglaterra como o meu esposo. Permanecendo virgem, não me doando a ninguém a não ser ao meu povo, era o sacrifício visível que ele teria como prémio e honra e nos manteria unidos. E foi isso que aconteceu.
E, apesar de poupá-los dos horrores do enlace estrangeiro e do fantasma da dominação, deixei-os com a mesma coisa que fez meu pai virar o reino de cabeça para baixo para evitar que acontecesse: nenhum herdeiro para me suceder. Não posso dizer que isso não me preocupa. Mas tenho outras decisões mais importantes a tomar, de igual ou maior urgência para a sobrevivência do meu país. Francis Drake levou a maior parte da semana para atravessar os mais de 300 quilómetros que separavam Plymouth de Londres. Mas agora ele estava diante de todo o Conselho Privado, e eu, na sala de reunião no Whitehall. Não quis descansar, e sim vir directamente a nós. Vê-lo sempre fazia com que me sentisse mais segura. Ele tinha tal optimismo que conseguia convencer qualquer um a ouvir os seus planos e mostrar que todos eram realizáveis e sensatos». In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN 978-858-130-076-4.

Cortesia de GeraçãoE/JDACT