terça-feira, 12 de junho de 2018

Isabel I. O Anoitecer de um Reinado. Margaret George. «Drake bradou, olhando em redor com os olhos claros penetrando nas dúvidas dos conselheiros, e continuou a argumentar: devemos desarmar a frota»

Cortesia de wikipedia

Isabel. Maio de 1588
«(…) O grupo agora estava maior. Não era composto apenas do trio interno: Burghley, Leicester e Walsingham. Tínhamos também sir Francis Knollys; Henry Carey, o lorde Hunsdon; e John Whitgift, o arcebispo de Cantuária; bem como Charles Howard, o novo lorde almirante. Seja bem-vindo, disse a Drake. O que acha da nossa situação? Ele olhou ao redor. Era um homem atarracado, parecia um barril. Conveniente para alguém que destruiu as aduelas dos barris da Armada no ano passado. A cabeleira loira ainda era espessa, e, embora o rosto apresentasse marcas de expressão, parecia jovem. Estava avaliando uma possível oposição no Conselho antes de falar. Finalmente disse: Sabíamos que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. E é chegada a hora. Não havia como contradizê-lo. E a sua recomendação, qual é?, perguntei. A senhora sabe a minha recomendação, amável rainha. É sempre melhor atacar o inimigo e desarmá-lo antes que ele alcance a nossa costa. Uma acção ofensiva é mais fácil de ser controlada do que uma acção defensiva. Portanto, proponho que nossa frota zarpe das águas inglesas, navegando até interceptar a Armada antes que ela chegue aqui. Toda a frota?, perguntou Charles Howard. Isso nos deixaria desprotegidos. Se a Armada conseguir escapar, entrará aqui sem resistência alguma, afirmou, arqueando as sobrancelhas para expressar a sua preocupação.
Charles era um homem calmo, diplomático, que conseguia lidar com personalidades difíceis, o que fazia dele um alto comandante ideal. Mas Drake era difícil de ser controlado e acalmado. Nós os encontraremos, disse. E, quando encontrarmos, não poderemos ter poucos navios. Robert Dudley, conde de Leicester naquele ambiente formal, irritou-se com a afirmação e disse: preocupa-me mandar todos os navios de uma só vez. Parece uma velhota falando!, bradou Drake. Então somos duas velhotas, disse Knollys. Ele era reconhecidamente cauteloso e tinha muitos escrúpulos. Se fosse um monge, usaria uma camisa de silício com frequência para se punir a si mesmo. A sua militância pelo protestantismo foi um bom substituto. Somos três, disse Burghley, unindo-se aos demais. William Cecil sempre defendeu uma estratégia defensiva, tentando manter tudo dentro das fronteiras inglesas. Tudo depende de recebermos informações precisas sobre quando a Armada sairá de Lisboa, disse o secretário Walsingham. Caso contrário, será um risco inútil e perigoso. Achei que essa fosse a sua função, disse Drake. Walsingham ficou mais tenso e disse: faço o melhor que posso com o que está ao meu dispor. Mas não há meios para transmissão instantânea de notícias. Os navios são mais rápidos do que os meus mensageiros. Ah, posso ver portos distantes, disse Drake com uma risada. Não sabia disso?
Sei que os espanhóis creditam a El Draque, o dragão, esse feito, disse Walsingham. Mas eles são ingénuos e simplórios em geral. Concordo!, respondi. Chega dessa conversa. Quais são as outras opções de defesa? Proponho dividirmos a frota em duas: esquadrão oeste para vigiar a entrada do Canal e esquadrão leste para vigiar o estreito de Dover, explicou Charles Howard. Sei qual é o plano do inimigo, disse Drake, interrompendo Charles. A Armada não está vindo para lutar. O exército de Parma de Flandres fará isso, a Armada os escoltará pelo Canal. Vão vigiar os barcos cheios de soldados afim de encurtar a travessia. São somente trinta e poucos quilómetros. O exército inteiro poderia fazer a travessia entre oito e doze horas. Esse é o plano deles!
Drake bradou, olhando em redor com os olhos claros penetrando nas dúvidas dos conselheiros, e continuou a argumentar: devemos desarmar a frota. Devemos impedi-los de aportar na Costa de Flandres. Os nossos aliados holandeses nos ajudarão. Eles já vêm impedindo Parma de conseguir um porto para ancorar há anos e podem atrapalhar quando tentarem usar os canais menores. A imensa frota da Armada, destinada a assegurar uma travessia segura, pode ser também a sua ruína. Ele fez uma pausa e continuou a dizer: claro que um plano alternativo seria conquistar a Ilha de Wight do nosso lado do Canal e construir uma base lá. Mas, se passarem por ela, só avistarão um porto novamente quando chegarem a Calais. O nosso papel é apressá-los. Isto é, obviamente, supondo que consigam chegar lá. Agora, se seguirmos o meu plano original para interceptá-los...» In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN 978-858-130-076-4.

Cortesia de GeraçãoE/JDACT