sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Portugal. A Primeira Nação. Freddy Silva. «Depois da sua tirada, justificada, segundo alguns, Urbano instigou zelo suficiente entre a multidão reunida para dar início a uma cruzada e recuperar os locais sagrados cristãos»

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1125. Uma mesa de carvalho. Num grande salão de um pequeno Condado chamado Portugale...
«O pergaminho de velino envelhecido é uma doação de uma pequena vila perto da cidade de Braga. Diz: eu, rainha dona Tereja, dou a Deus e aos cavaleiros do templo de Salomão a aldeia chamada Fonte Arcada..., com todos os seus direitos e benefícios, pelo bem da minha alma. A generosa doação inclui nada menos do que dezassete concessões de terra adicionais por parte de famílias locais. Meticulosamente escrita a pena e tinta, está assinada: eu, Guilherme, procurador do Templo neste território, recebo este documento.
O signatário contém a chave de um mistério. Como procurador do Templo, Guilherme Ricardo está investido do poder e da autoridade para conduzir transações em nome do grão-mestre dos cavaleiros templários em Jerusalém, Hugo Payens. Mas é muito mais do que isso. O seu nome surge numa segunda concessão, desta vez como Magister Donus Ricardus, de metade da propriedade de Villa-nova, doada por Àffonso Annes a Deus, e à irmandade dos cavaleiros templários. Este Guilherme Ricardo é também o primeiro mestre dos cavaleiros templários num pequeno condado chamado Portugale. Estes acontecimentos são extraordinários porque o ano é 1125 e não se conhecem membros dos cavaleiros templários fora de Jerusalém, muito menos numa região do lado oposto da Europa. Mais estranho ainda, em 1111, sete anos antes de a irmandade templária surgir, foi atribuída aos cavaleiros uma propriedade estratégica no mesmo território.
Três coisas estão certas. Um: os cavaleiros templários juraram fidelidade não ao papa, mas a um monge influente no condado francês de Champanhe. Dois: num documento dirigido aos templários, um jovem destinado a ser rei de uma terra que será conhecida como Portugal revela que na vossa irmandade e em todas as vossas obras sou um irmão. Três: durante um interrogatório da Santa Inquisição (maldita), um cavaleiro templário fez uma afirmação críptica: existe na ordem uma lei tão extraordinária da qual se deve guardar tal segredo que qualquer cavaleiro preferiria que lhe cortassem a cabeça do que revelá-la a alguém.
E praticamente todos os templários capturados provaram isto ao serem queimados vivos. O que se segue é a verdadeira e inaudita história por detrás da primeira nação templária.

1095. Novembro. em Auvergne, uma região montanhosa no centro de França...
A crescente assembleia de abades, bispos, arcebispos, príncipes, nobres, senhores e leigos reuniu-se no interior do grande salão da igreja em Clermont e aguardou a chegada do papa. Quando avistaram a sua cabeça tonsurada a descer a nave, era óbvio que Urbano II estava menos do que satisfeito. O longo ano de viagem levara o pontífice a várias regiões de França e do Mediterrâneo, depois ao Norte de Itália, onde um conclave eclesiástico, em Placência, testou a sua paciência, e os resultados estavam longe do que esperava. Além disso, Placência, na Primavera, fora muito mais climaticamente gratificante do que o amargo frio de Novembro de Clermont, neste ano do Senhor de 1095.
Urbano II levantou-se do lugar e dirigiu-se ao conselho, começando com o seu relato sobre a situação da Igreja no Médio Oriente. Além do problema de os turcos seljúcidas terem dominado a Ásia Menor e tomado o controlo de grande parte do Levante, incluindo Jerusalém, este povo problemático também cortara o acesso aos locais sagrados cristãos, contrariamente aos seus mais tolerantes predecessores árabes.
E ainda não acabara. Urbano também tinha um problema com os cristãos. Vira clérigos traficar propriedade da Igreja, nobres e monarcas, em casa e no estrangeiro, que, espojando-se no luxo, violavam constantemente as leis da Igreja em paz, provocando lutas com árabes apenas pelos ganhos materiais. E, quanto aos seus cavaleiros, bem, portavam-se mais como mercenários.
Depois da sua tirada, justificada, segundo alguns, Urbano instigou zelo suficiente entre a multidão reunida para dar início a uma cruzada e recuperar os locais sagrados cristãos dos infiéis e assim canalizar toda aquela energia destrutiva para algo por que valesse a pena lutar: eu, ou antes, o Senhor roga-vos, como arautos de Cristo, que divulgueis isto em toda a parte e que busqueis que todas as pessoas, sejam de que classe forem, soldados rasos e cavaleiros, pobres e ricos, levem rapidamente auxílio a esses cristãos e que destruam essa raça vil das terras dos nossos amigos. Digo isto aos que estão presentes, destina-se também aos que estão ausentes. Além do mais, Cristo o ordena». In Freddy Silva, Portugal, a Primeira Nação Templária, 2017, Alma dos Livros, 2018, ISBN 978-989-890-700-4.

Cortesia de AlmadosLivros/JDACT