sábado, 20 de abril de 2019

A Cidade Perdida. James Rollins. «Safia al-Maaz acordou num pânico de morte. Sirenes soavam de todos os lados. Clarões de luzes rubras de emergência entrecortavam as paredes do quarto»

Cortesia de wikipedia e jdact

The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) Por fim, alcançou a sala mais distante, uma das maiores. Esta continha objectos de maior interesse para um naturalista, todos da região: pedras e jóias raras, restos fossilizados, ferramentas neolíticas. A fonte do brilho tornou-se clara. Perto do centro da sala abobadada, um globo de luz azulada com meio metro de diâmetro flutuava indolentemente cruzando o espaço. Tremulava e a sua superfície parecia envolta numa chama de óleo azul prismático. Enquanto Harry o observava, o globo atravessou um armário de vidro como se fosse feito de ar. Estacou aturdido. Um odor sulfúreo chegou-lhe às narinas, emanando da bola de luz cerúlea. O globo rolou por uma das lâmpadas de segurança carmesins, eliminando-a com um estoiro chiante. O ruído fez Harry recuar um passo, assustado. O mesmo destino devia ter calhado à câmara cinco na sala anterior. Lançou um olhar rápido à câmara da sala onde se encontrava. Uma luz vermelha cintilava sobre ela. Ainda estava a funcionar. Como que notando a sua atenção, Johnson voltou ao rádio. Por alguma razão, não havia perturbação estática. Harry, é melhor saíres daí! Permaneceu paralisado, em parte por medo, em parte por assombro. Além disso, o fenómeno flutuava para longe, em direcção ao recanto escurecido da sala.
O brilho do globo iluminou uma massa de metal dentro de um cubo de vidro. Era um pedaço de ferro avermelhado do tamanho de um vitelo, um vitelo ajoelhado. A ficha de exposição descrevia-o como um camelo. A semelhança era no melhor dos casos evasiva, mas Harry percebeu a representação pretendida. O objecto tinha sido descoberto no deserto. O brilho ficou suspenso sobre o camelo de ferro. Harry recuou com precaução e pegou no rádio. Céus! A tremeluzente bola de luz desceu através do vidro e pousou sobre o camelo. O seu brilho extinguiu-se tão rapidamente como uma vela soprada. A súbita escuridão cegou Harry por um instante. Ergueu a lanterna. O camelo de ferro permanecia no interior do cubo de vidro, imperturbado. Desapareceu... Estás bem? Sim. Que raio era aquilo? Johnson respondeu, o receio estampado na voz: uma estuporada bola de raios, acho eu! Ouvi histórias de tipos em aviões de guerra quando atravessavam tempestades de trovões. A trovoada deve tê-lo cuspido. Mas diabos me levem se não foi brilhante!
Já não é mais brilhante, pensou Harry com um suspiro e abanou a cabeça. O que quer que fosse, pelo menos tinha-o salvo da embaraçosa chacota dos colegas. Baixou a lanterna. Mas quando desviou a luz, o camelo de ferro continuou a brilhar na escuridão. Um brilho vermelho intenso. Que raio é agora?, resmungou Harry e agarrou no rádio. Um forte choque de eletricidade estática atingiu os seus dedos. Praguejando, sacudiu. Ergueu o rádio. Há algo de estranho. Acho que... O brilho do ferro inflamou-se. Harry recuou. O ferro fluía pela superfície do camelo, fundindo-se como se exposto a uma torrente de chuva ácida. Ele não foi o único a notar a mudança. O rádio ladrou na sua mão: Harry, sai daí! Não discutiu. Deu meia volta, mas era demasiado tarde. O receptáculo de vidro explodiu. Lanças penetrantes perfuraram-lhe o flanco esquerdo. Um fragmento denteado cortou-lhe a face. Mas ele mal sentiu os golpes, quando uma onda de calor abrasante o atingiu, cauterizando-o, consumindo todo o oxigênio. Um grito projectou-se nos seus lábios, para nunca ser expelido. A explosão seguinte arrancou Harry do chão e lançou o seu corpo até ao outro extremo da galeria. Mas apenas ossos em chamas atingiram o portão de segurança, fundindo-se no gradeado de aço.

01h53
Safia al-Maaz acordou num pânico de morte. Sirenes soavam de todos os lados. Clarões de luzes rubras de emergência entrecortavam as paredes do quarto. O terror apertou-a como num torno. Não conseguia respirar; um suor frio gotejou na sua testa, espremido pela pele comprimida. Os dedos em gancho agarraram os lençóis junto à garganta. Incapaz de pestanejar, ficou presa por instantes entre o passado e o presente. Sirenes a retinir, explosões a ecoar à distância..., mais perto ainda, os gemidos dos feridos, dos moribundos, a sua própria voz ajuntar-se ao coro de dor e de choque... Altifalantes rugiam desde as ruas abaixo do apartamento. Deixem passar os carros de combate! Abram caminho! Inglês..., não árabe, não hebreu...» In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.

Cortesia de BertrandE/JDACT