sábado, 20 de abril de 2019

Dia do Mar. Sophia de Mello B. Andresen. «Mergulhar as mãos nas ondas escuras até que elas fossem essas mãos solitárias e puras que eu sonhei ter»

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«(…)
Espera
«Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.

Esgotei o meu mal, agora
Queria tudo esquecer, tudo abandonar,
Caminhar pela noite fora
Num barco em pleno mar.

Mergulhar as mãos nas ondas escuras
Até que elas fossem essas mãos
Solitárias e puras
Que eu sonhei ter».
In Sophia de Mello B. Andresen, Dia do Mar, Obra Poética, Editorial Caminho, 2009, ISBN 978-972-211-586-5.

Cortesia de ECaminho/JDACT