sexta-feira, 31 de maio de 2019

O Herege no 31. Bernard Cornwell. «O duque iniciou um protesto, mas naquele exacto momento uma trombeta soou e os besteiros iniciaram a descida…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Ele se recusara a desmontar do seu corcel, equipado com uma testeira de aço para proteger-lhe o rosto e um caparazão de malha brilhante para proteger-lhe o corpo dos arqueiros ingleses que, sem dúvida, estavam colocando as cordas nos arcos nas trincheiras. A auriflama, majestade, disse o duque. Devia ser um pedido, mas de algum modo parecia uma ordem. A auriflama? O rei fingiu não entender. Posso ter a honra, majestade, de levá-la na batalha? O rei suspirou. Vocês têm em relação ao inimigo uma superioridade numérica de dez para um, disse ele, e por isso praticamente não precisam da auriflama. Deixe-a aqui. O inimigo já deve tê-la visto. E o inimigo iria ver o que a auriflama enrolada significava. Ela instruía os franceses a não fazer prisioneiros, a matar todos, embora não houvesse dúvida de que qualquer cavaleiro inglês rico ainda seria capturado em vez de morto, porque um cadáver não rendia resgate. Ainda assim, a bandeira de três tiras, enrolada, deveria incutir o terror nos corações ingleses.
Ela vai ficar aqui, insistiu o rei. O duque iniciou um protesto, mas naquele exacto momento uma trombeta soou e os besteiros iniciaram a descida. Eles vestiam túnicas verde e vermelho, com o emblema do cálice de Génova no braço esquerdo, e cada qual era acompanhado por um infante segurando um pavés, um escudo enorme que iria proteger o besteiro enquanto ele recarregava sua desajeitada arma. A uns oitocentos metros de distância, à margem do rio, ingleses corriam da torre para as trincheiras de terra que tinham sido cavadas há tantos meses, que agora estavam cobertas com uma camada espessa de capim e algas. V. vai perder a sua batalha, disse o rei para o duque que, esquecendo o estandarte escarlate, girou o seu grande corcel protegido por armadura em direcção aos homens de sir Geoffrey.

Montjoie St. Denis!
O duque soltou o grito de guerra da França e os timbaleiros bateram os seus grandes timbales e uma dúzia de trombeteiros clamou seu desafio para os ares. Ouviram-se estalos quando as viseiras foram abaixadas. Os besteiros já estavam no sopé da encosta, espalhando-se para a direita a fim de envolver o flanco inglês. Então as primeiras flechas voaram: flechas inglesas, de penas brancas, adejando sobre a terra verde, e o rei, inclinando-se à frente na sua sela, viu que do lado do inimigo os arqueiros eram muito poucos. Em geral, sempre que os malditos ingleses combatiam, os seus arqueiros estavam em superioridade numérica em relação a seus cavaleiros e soldados, no mínimo de três para um, mas o posto avançado de Nieulay parecia estar guarnecido, na sua maioria, por soldados. Que Deus os acompanhe!, gritou o rei para os seus soldados. Ele fora tomado por um súbito entusiasmo, porque sentia o cheiro da vitória. As trombetas tornaram a soar, e agora a onda metálica de soldados despejou-se encosta abaixo. Berravam o grito de guerra e o som tinha a concorrência dos tambores, que martelavam as peles de cabra esticadas, e dos trombeteiros que tocavam como se pudessem derrotar os ingleses apenas com o som. Deus e São Denis!, gritava o rei». In Bernard Cornwell, O Herege, 2003, Editora Record, 2011, ISBN 978-850-106-867-5.

Cortesia de ERecord/JDACT