sexta-feira, 1 de abril de 2011

Antigas Caldas de Lafões.Termas de S. Pedro do Sul: A Presença de D. Afonso Henriques. «A vinda do monarca vai alterar a vida das velhas Caldas. Quando retirava da praça de Badajoz fracturou a perna direita, ao bater com ela no ferrolho de uma porta. Entre os físicos da época, crê-se que residente ou mesmo natural de Lafões, que teria aconselhado as águas...»

Cortesia de palimagem

Com a devida vénia a Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002, Palimage Editores, ISBN 972.8575-38-6.

A Presença de D. Afonso Henriques
«A partir do século XII, com a fundação da nacionalidade, as Caldas de Lafões afirmam-se como as mais importantes do Portugal nascente. As virtudes terapêuticas das suas águas são procuradas por nobres e plebeus.
A vinda de D. Afonso Henriques vai alterar por completo a vida das velhas Caldas. É sabido que o rei português, quando retirava da praça de Badajoz, atacado pelo genro, fracturou a perna direita ao bater com ela no ferrolho de uma porta. Ficou a sofrer da perna. Entre os físicos da época, teria aparecido um, crê-se que residente ou mesmo natural de Lafões, que teria aconselhado as águas. Dizem outros que o conselho teria vindo de D. Fernando Pedro, membro da Cúria Régia e senhor de Lafões. Hipótese de rejeitar, porque este nobre, à data, já era morto. Como quer que tenha sido, o primeiro rei, meses depois do desastre e ainda no mesmo ano (1169), veio às Caldas e, no dizer de Pires da Sylva, «com os banhos do Outono e primavera seguinte (?) ficou tão são, que ficou capaz de vencer muitas mais batalhas». Isto acrescentou o médico das Termas. Mas, a darmos crédito a Duarte Galvão, depois do desastre, o rei «nunqua mais quis, ou não pôde, talvez!, cavalgar en besta (…) andando em colo de homens, e outras oras em carros». Ambos terão exagerado. Parece que o rei não terá ficado tão são como diz Sylva, nem tão inválido como diz Galvão.

Cortesia de palimagem
Quanto aos banhos do Outono, não há a mínima dúvida. Atestam-no, as datas dos documentos ali lavrados. E não são poucos. Relativamente aos banhos da primavera seguinte, não há qualquer documento nem conhecemos outra fonte que ao refira, pelo que pomos muita reserva à afirmação de Pires da Silva, que, para muitos, erra num ano a data do cerco de Badajoz e faz mal a redução da Era de César à Era Cristã, a menos que se trate de erro tipográfico.
Em Setembro de 1169, o rei já estava em Lafões. Ali foram lavrados documentos que claramente o referem e mostram que, por mais que uma vez, ali se reuniu a Cúria Régia:
  • Escritura de doação de terras, em Fafe e Guimarães, a uma D. Sancha Pais, que termina: Facta carta apud Alafoen mense Septembrio Era Mª CCª VIIª.
  • Carta de doação à Ordem do Templo da terça parte dos bens que viessem a ser conquistados para além do Tejo, onde se lê: Facta scriptura mense Septembrio apud Alafoen Era Mª CCª VIIª.
No mês seguinte, o rei continuava nos banhos. Refere Viterbo que, no mês de Outubro, estando em Lafões, confirmou à Ordem do Templo a doação dos castelos de Cardiga e Tomar.

Cortesia de palimagem
E, em Novembro, a corte permanecia em Lafões. Novas reuniões da Cúria e novos documentos ali foram lavrados:
  • Uma doação feita à Sé de Zamora.
  • carta de couto, passada à Sé de Coimbra, de metade da vila de Midões, no concelho de Tábua, que termina: «Facta. est huius cauti firmitudo et confirmata apud Alafoe ldus Nouembris Era M.ª CC.ª VIIª».
  • carta de confirmação da doação e de couto de Oliveira de Frades a Santa Cruz de Coimbra, que diz: «Facta. est buius cauti firmitudo mense Nouembrio Era M.ª CC.ª VII.ª quando rex ueuit de Badalioz et iacebat infirmus in balneis de Alafoen», o que significa, em termos de data, «no mês de Novembro na era de 1207 quando o rei veio de Badajoz e estava enfermo nos banhos de Lafões».
Todos os documentos têm a data de 1207. Vem a propósito corrigir um erro cometido por Oliveira Mascarenhas, quando, ao citar este documento escreve: «Ha aqui um erro importantissimo, um visivel anachronismo a atender. Vê-se da escritura que D. Affonso Henriques estivera nas «Caldas de Lafões, em 1207, quando é certo, incontroverso, que este monarcha fallecera no anno de 1185»!
Não há qualquer erro. Quem errou foi Mascarenhas, que esqueceu, se é que não ignorava, que a data de 1207 se refere à Era de César, o que corresponde, precisamente, a 1169 da Era Cristã. E vai mais longe. Atribui as culpas àqueles que usam de «pouco cuidado e escrupulo na trasladação dos documentos». In Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002.

Com a amizade de MR
Cortesia de Palimage/JDACT