sábado, 20 de agosto de 2011

Bracara Augusta. A Casa Romana das Carvalheiras: «A habitação das Carvalheiras representa um exemplo bem conservado do modo como se organizavam as áreas residenciais da cidade romana. Os pórticos que ladeiam as ruas e as numerosas lojas que se instalavam ao longo das fachadas, no piso térreo das casas…»

Inserção da ínsula das Carvalheiras na malha urbana de «Bracara Augusta»
Cortesia de roteiros arqueologicos

Localização e inserção urbana
«O conjunto das Carvalheiras situa-se no sector noroeste de «Bracara Augusta», encontrando-se limitado, a este, pelo cardo máximo e, a sul, pelo decumano máximo. Estamos, assim, perante uma área habitacional que se situava perto da zona monumental da cidade romana. Essa zona está definida pelo «fórum», localizado na plataforma mais alta da cidade.
Constituído pela totalidade de uma habitação, rigorosamente limitada por quatro ruas e ocupando a área de uma «ínsula», com um «actus» de área construída, o conjunto arqueológico das Carvalheiras oferece ainda vestígios de outras duas habitações desenhadas nos limites do terreno a sul e oeste, infelizmente mal conservados. No limite norte da área escavada foi igualmente descoberto parte do pórtico sul de uma outra habitação, actualmente não visível.

Cortesia de roteiros arqueologicos

A delimitação da casa das Carvalheiras, rodeada por outras construções similares, permitiu identificar um módulo construtivo urbano, definido por ruas perpendiculares. Esse módulo viria a ser confirmado noutros sectores da cidade, designadamente nos terrenos anexos ao Antigo Albergue Distrital e no Alto da Cividade, onde se ergue a construção mais antiga conhecida até hoje em «Bracara Augusta», datável dos inícios do século I.
A habitação das Carvalheiras representa, assim, um exemplo bem conservado do modo como se organizavam as áreas residenciais da cidade romana, oferecendo características urbanísticas e arquitectónicas, observadas também noutros locais de Braga. Entre essas características destacamos os pórticos que ladeiam as ruas e as numerosas lojas que se instalavam ao longo das fachadas, no piso térreo das casas. A abundância destas últimas nos lados sul e oeste da casa das Carvalheiras demonstra que esta se situava numa área de intensa actividade comercial. Tal actividade poderia justificar-se pela proximidade da zona do «fórum», ao qual era possível aceder através da rua que ladeia a casa pelo lado este.


Objectos de adorno
Cortesia de roteiros arqueologicos

Cronologia e evolução da Casa das Carvalheiras
As escavações realizadas na zona das Carvalheiras revelaram materiais datáveis da primeira metade do século I da nossa era. No entanto, os mais antigos vestígios de construções presentes no local não podem ser datados anteriormente ao último quartel desse século. Podemos, assim, afirmar que a casa das Carvalheiras foi erguida na época flávia, ou seja, posteriormente ao ano 70 da nossa era, desconhecendo-se o tipo de construção que aí poderia ter existido anteriormente.
O primitivo conjunto residencial corresponde a uma casa de átrio, «atrium» e peristilo «peristylium». Projecto de excelente qualidade, a habitação revela uma cuidada adaptação às condicionantes topográficas do terreno e uma métrica rigorosa que obedece aos típicos cânones vitruvianos.

A habitação desenvolve-se em duas plataformas distintas que solucionam de um modo hábil o declive natural da vertente. O desnível entre os dois tabuleiros é marcado por uma parede interna. Esta separa a plataforma mais alta, onde se situa o átrio e compartimentos envolventes, à cota da rua e do pórtico sul, da plataforma mais baixa, que se desenvolve em torno do peristilo». In Bracara Augusta. A Casa Romana das Carvalheiras, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, 2000, ISBN 972-9382-11-5.

(Continua)
Cortesia de Roteiros Arqueológicos/JDACT