sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Fundação Oriente. Exposição Permanente. Presença Portuguesa na Ásia. «Um pequeno conjunto de desenhos e uma encantadora pinturinha lembram a prolongada presença de vinte e sete anos em Macau do famoso pintor britânico Georges Chinnery (1774-1852), expoente do paisagismo romântico no Oriente, que deixou um notável registo das paisagens urbana, natural e humana do território no derradeiro período do seu esplendor como entreposto entre a China e o Ocidente»


Cortesia da foriente

Presença Portuguesa na Ásia
«O conceito gerador deste grande módulo expositivo foi a construção de uma utopia oriental pelos Portugueses, desde o século XV até aos nossos dias, baseada no comércio, na missionação e no encontro de culturas. Dados os referidos condicionalismos da colecção alusiva à presença portuguesa na Ásia, houve que fazer um enorme esforço de conceptualização e de encenação narrativa para de algum modo potenciar os seus indiscutíveis valores e minorar as suas fraquezas. O visitante é acolhido no espaço central do piso 1, que é dedicado a Macau, território outrora sob administração portuguesa onde foi fundada a Fundação Oriente, em 1988. Este amplo espaço é dominado pela exposição de quatro magníficos biombos chineses da colecção: o mais antigo representa uma nau portuguesa nos mares da China e encontra-se ladeado por outros dois, um de carácter essencialmente decorativo, decorado com as armas da família Gonçalves Zarco, e um outro, dito “do Coromandel”, com interessante iconografia cristã, eco da escola de pintura criada no Japão pelos Jesuítas, que mais tarde se estenderia a Macau. O quarto biombo, raríssimo exemplar decorado com as representações das cidades de Cantão e de Macau, encontra-se junto à secção dedicada à iconografia da Cidade do Nome de Deus de Macau, com exemplares que remontam aos séculos XVII e XVIII e se estendem pelo século XIX.

Uma estátua em granito, representando toscamente um holandês, evoca a tentativa frustrada de conquista de Macau pelos Holandeses, em 1622. Neste módulo expositivo destacam-se ainda várias pinturas e gravuras do chamado período “China Trade” (séculos XVIII-XIX), tanto de autores ocidentais como de autores chineses. Um pequeno conjunto de desenhos e uma encantadora pinturinha lembram a prolongada presença de vinte e sete anos em Macau do famoso pintor britânico Georges Chinnery (1774-1852), expoente do paisagismo romântico no Oriente, que deixou um notável registo das paisagens urbana, natural e humana do território no derradeiro período do seu esplendor como entreposto entre a China e o Ocidente. Nas vistas da Praia Grande ou das sampanas junto ao Templo de A-Má surpreendem-se instantâneos do quotidiano que envolvem dominantemente a presença da população chinesa nas suas tarefas, em cenários marcados por uma nostálgica presença europeia.

O papel de Macau no comércio internacional está extensivamente documentado na secção oposta, salientando-se a colecção de porcelana brasonada, formando, na disposição de pratos, travessas, terrinas ou jarras, um dragão.
Cortesia da foriente

Contudo, não deixam de ser significativas as séries de gouaches “China Trade” que representam o fabrico e o comércio do chá e da porcelana, assim como os leques chineses, muito apreciados no Ocidente. Passando ao sector nascente do piso 1, fronteiro ao acesso por escada, sucedem-se os seguintes módulos:
  • E entre gente remota edificaram/Novo reino que tanto sublimaram. Presença portuguesa na Ásia, em que, “guiados” pelas palavras de Camões n’ Os Lusíadas mas também pelas de Fernão Mendes Pinto na Peregrinação, se procura documentar, a partir de uma criteriosa selecção de objectos (mobiliário, têxteis, ourivesaria, pintura e marfins), complementada por mapas e maquetas, o estabelecimento e a construção do Império Português do Oriente, centrado em Goa, com as suas cidades e praças-fortes, as suas sociedade e cultura miscigenadas, em que se deu o diálogo e o confronto entre culturas e religiões. Neste particular destacam-se um exemplar setecentista de um tratado escrito por um goês sobre o gentilismo hindu, assim como as aguarelas de um álbum que representa tipos populares, profissões e autoridades militares da Índia;
  • Ásia Extrema, em que se evidencia a descoberta, pelos Portugueses, da cultura do Império do Meio e do lucrativo comércio de produtos de luxo que com ele poderiam realizar, não esquecendo o papel dos missionários que acompanhavam os comerciantes e os soldados e deram início à Igreja Católica na China, inclusive os que sofreram o martírio pela Fé. O frutuoso encontro com o Japão nos séculos XVI e XVII é brilhantemente ilustrado por dois biombos e por lacas namban que estão entre as mais relevantes peças de toda a colecção.
Findo este sector, o visitante atravessa, de novo, o espaço central dedicado a Macau e entra no sector poente, em que se desenvolvem outros dois módulos:
  • Timor-Leste, povos e culturas, colecção muito rica que documenta, através de peças relacionadas quer com as vivências quotidianas e as tradições linhagísticas quer com o sagrado, a unidade e a diversidade das culturas em presença, assim como os estreitos laços que esses povos souberam manter com Portugal. O descaroçador e o banco situam-nos no mundo quotidiano dos instrumentos de trabalho, enquanto as pulseiras, os colares, as insígnias de poder ou as facas de circuncisão nos projectam no universo cerimonial e ritual, tal como acontece com as diversas máscaras presentes. Os vários tipos de panos tecidos pelas mulheres timorenses ilustram os patrimónios linhagísticos das comunidades, enquanto as portas e os painéis decorativos das casas ou a estatuária votiva nos projectam no microcosmo da casa timorense com a sua sucessão de andares — do nível térreo, morada dos animais e dos espíritos inferiores, passando pela residência dos vivos, até ao lugar de culto dos antepassados;
  • O coleccionismo de arte do Extremo Oriente, constituído pela colecção de terracotas e de outras antiguidades chinesas, japonesas e coreanas que foi adquirida pela Fundação Oriente, a que se acrescentaram os acervos em depósito provenientes do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, em que se destacam os legados do poeta Camilo Pessanha e do político e escritor Manuel Teixeira Gomes.


Cortesia da foriente

Atendendo ao elevado número de exemplares de cerâmica chinesa dos mais diversos períodos e técnicas, é possível documentar a evolução tipológica das terracotas funerárias, com exemplares que remontam ao Neolítico e se estendem até à dinastia Ming, assim como da cerâmica e da porcelana de uso quotidiano, nela incluindo alguma de exportação. Expõe-se também um pequeno mas significativo conjunto de bronzes provenientes, na sua maioria, da Colecção Camilo Pessanha, alguns deles de grande raridade pela sua antiguidade e pela qualidade artística. Um grupo de imagens de vária proveniência e algumas pinturas da Colecção Pessanha permitem referenciar a expressão artística mais erudita do budismo e do taoísmo. Graças à pintura e ao traje da Colecção Pessanha, evoca-se o ambiente do gabinete e o gosto artístico de um letrado chinês de oitocentos, com as “preciosidades”, as taças de libação, os ecrãs e os biombos, os objectos devocionais ou os rolos e álbuns de pintura tradicional chinesa e de caligrafia, bem como os respectivos apetrechos de execução.

Da notável colecção de frascos de rapé de fabrico chinês de Manuel Teixeira Gomes, a segunda maior da Europa, apresenta-se uma significativa selecção das diferentes tipologias que a constituem. O mesmo se passa com as peças japonesas da mesma proveniência: os inrô (pequenos contentores portáteis pessoais), as netzuke (fechos dos inrô em forma de máscara, com personagens, na sua maioria, do Teatro Nô) e as tsuba (guarda-mãos de espada), peças de cronologia alargada, a que se acrescentam, ainda no âmbito do Japão, as três monumentais armaduras e outros objectos de cerâmica, bronze, pintura e mobiliário.
Concluindo este módulo, expõem-se também peças coreanas: uma caixa em madeira lacada com incrustações de madrepérola e uma curiosa série de aguarelas de finais de oitocentos da autoria do pintor coreano Kim Jun-geun, conhecido pelo nome artístico de Kisan, sobre trajos, costumes e festas da Coreia, realizadas para o mercado europeu e americano». In Fundação Oriente, Exposição Permanente, Presença Portuguesa na Ásia, Museu do Oriente.

Cortesia de Fundação Oriente/JDACT