domingo, 14 de agosto de 2011

Guimarães. D. Constança de Noronha: Parte I. «Nesse jacente, a duquesa apresenta-se com o hábito de clarissa ou de terceira franciscana, abdicando dos sinais indicadores da sua posição social, à semelhança do que faziam frequentemente os terceiros franciscanos do sexo masculinos que se apresentavam com o respectivo hábito»

Fotografia de Fernando José Teixeira
Cortesiadevotguimaraes

Com a devida vénia a Belmiro Jordão e Fernando José Teixeira.

«No absidíolo do lado do evangelho, na capela dos Almadas, encontra-se o jacente da sepultura de D. Constança de Noronha, segunda mulher de D. Afonso, 1º duque de Bragança, filho natural do rei D. João I, com quem casou em Julho de 1420 numa cerimónia íntima, pois são escassas as notícias a seu respeito. O contrato de casamento, assinado em Sintra a 23 de Julho de 1420, pelo rei D. João I, revela que esse consórcio foi tratado pelo próprio rei, comprometendo-se o soberano a dotá-la com treze mil dobras, das quais lhe entregava quatro mil; o Conde D. Afonso mais tarde entregar-lhe-ia de arras quatro mil coroas, dando como penhor as terras que possuía no termo de Guimarães.
D. Constança de Noronha nasceu em 1404 e era filha de D. Afonso, conde de Noronha e de Gijon, nas Astúrias, e de D. Isabel de Portugal. Era de descendência real, embora ilegítima: o seu pai era filho natural do rei Henrique II, rei de Castela, e a sua mãe, infanta D. Isabel, filha natural do nosso rei D. Fernando.

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Nesse jacente, a duquesa apresenta-se com o hábito de clarissa ou de terceira franciscana, abdicando dos sinais indicadores da sua posição social, à semelhança do que faziam frequentemente os terceiros franciscanos do sexo masculinos que se apresentavam com o respectivo hábito. Assim se apresentaram numerosos reis e rainhas castelhanos e portugueses, entre os a rainha Santa Isabel, cujo jacente apresenta-a também o hábito de clarissa, exemplo que deveria ser do conhecimento de D. Constança de Noronha.
Enviuvou em 1461 e faleceu sem deixar filhos em 16 ou 26 de Janeiro de 1480.

Segundo a tradição, D. Constança de Noronha, tomou o hábito franciscano em 1461 e frequentava a igreja do convento de S. Francisco de Guimarães, à qual doou a sua Fonte dos Cães e financiou o levantamento da sua capela-mor. Em 9 de Agosto de 1461, a duquesa, nos seus paços de Guimarães, fez escritura obrigando as rendas e direitos que possuía na vila de Guimarães ao pagamento de 12 000 dobras que havia prometido a D. João, filho de D. Fernando, duque de Bragança, em dote e casamento com D. Isabel de Noronha.

Cortesia de estadosentido

Há quem diga que no fecho da abóbada da ábside desta igreja está representado o seu brasão ducal, mas não é verdade. No fecho dos dois tramos da abóbada da capela-mor encontram-se as armas de D. João I, seu sogro, um escudo assente sobre a cruz de Avis, encimado pela coroa real. Era este o brasão de armas de D. João I, antes de a Cruz de Avis ser colocada dentro do escudo, tendo torres na bordadura, em vez de castelos.

D. Constança era uma princesa em tudo admirável pela formosura, agrado e afabilidade, dizia D. Caetano de Sousa. Se é verdade que viveu em penitência o seu casamento, disfarçando como podia essas penitências, a partir de 1461, viveu mais austeramente a sua viuvez no Paço dos Duques, em Guimarães, ainda em construção, entregando-se à caridade, deixando para trás a munificência régia «nos aparatos, nos ofícios, nas assistências e qualidades dos criados» de que fala a «Nobiliarquia Portuguesa». In Fernando José Teixeira, Agenda Franciscana, Venerável Ordem Terceira de São Francisco, Guimarães, 2007.

Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT