segunda-feira, 12 de março de 2012

Antologia Literária. Época Clássica. Século XVII. Maria Ema Ferreira. «A grandeza literária do nosso século XVII está na prosa; é a personalidade e a experiência humana de Vieira, a subtileza e o estilo de Bernardes e dos prosadores agora voltados para a biografia e a apologética, e daí para as notações da vida corrente e dos prodígios religiosos»

Cordesia de sannicolas

Século XVII
Escola Seiscentista ou Gongórica

«O espírito do século XVIII é simultaneamente de continuação do século anterior e de reacção contra ele. Continuação, ao extrair do bucolismo, do petrarquismo e dó neo-platonismo, do mesmo modo que do formalismo clássico, as últimas possibilidades estéticas. Reacção, ao opor à exuberância pagã do renascimento, o hábito da interiorização e da meditação moral (...); ao culto da nitidez e da simplicidade (...), a ânsia de evasão para outra realidade, em que tudo é imprecisão e misterioso». In A. Correia Oliveira, “Prefácio de As Segundas Três Musas”, Lisboa, 1945. 
«A grandeza literária do nosso século XVII está na prosa; é a personalidade e a experiência humana de Vieira, a subtileza e o estilo de Bernardes e dos prosadores agora voltados para a biografia e a apologética, e daí para as notações da vida corrente e dos prodígios religiosos». In Vitorino Nemésio, “Poesias Várias de Bocage” ,Lisboa, 1943. 
«Os poetas de Seiscentos são espíritos que procuram gozar, na quietude dos tempos, prazeres espirituais cuja delícia está na sua mesma inutilidade, e a poesia cultivam-na como agradável prenda de-sociedade. Exclui-se dela não só a gravidade da preocupação social, da comoção religiosa, mas até as efusões da emoção pessoal. Ela deve ser dirigida à inteligência, como seu gostoso manjar, e à memória, para seu fidalgo ornamento. Das dores mais profundas faz encantadoras charadas, artificiosas filigranas verbais». In Hernâni Cidade, “Lições de Cultura e Literatura Portuguesa, 1º vol., Lisboa, 1959.

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A deformação do ideal clássico no sentido do cultismo e do conceptismo, o barroco e a sua interpretação.
«O barroco é o contrapolo da maneira clássica. O simples e claro dos -processos clássicos insinua-se discreta e lentamente, encantando a inteligência e a alma inteira pela graça inabalável de uma beleza nua; o que o barroco visa, pelo contrário, é a explosão do espanto; é o dom de surpreender e de aturdir o espírito à força de ornamentar e de rebuscar». In António Sérgio, “Ensaios” V, Lisboa, 1955. 
«Os elementos da arte barroca são essencialmente os mesmos da arte renascentista. Mas é diferente o modo como o poeta ou o artista deles se servem por ser diferente o sentimento estético que exprimem. (...) Com o mesmo espírito que leva o arquitecto a preencher de estilizações de motivos, como que dominado pelo horror do vazio, os espaços que a arte greco-latina deixava livres, o poeta seiscentista sobrecarrega o verso de elementos pictóricos e musicais, por vezes para suprir a escassez temática, ou com intuito meramente decorativo; mas, quando se trata de um autêntico valor, normalmente como meio de expressão de uma realidade interior que, ou impõe esse requinte, ou não é traduzível por meios puramente lógicos». In A. Correia Oliveira, “Prefácio de As Segundas Três Musas”, Lisboa, 1945. 

In Maria Ema Tarracha Ferreira, Antologia Literária. Época Clássica. Século XVII, Editorial Aster, Lisboa, exemplar nº 3368.

Cortesia de Aster/JDACT