quarta-feira, 28 de março de 2012

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Maurício provou naquele momento crítico a sua habilidade. Vai a Roma e consegue de Pascoal II, em 3 de Novembro de 1114, não só o reconhecimento do seu ponto de vista na questão de Coimbra e Zamora, mas também a anulação dos direitos de legado que o arcebispo de Toledo exercia sobre a província de Braga»

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Maurício de Braga e Diego de Compostela
«Mas mesmo abstraindo do facto de esta província ficar ao sul, muito afastada da diocese de Santiago, a situação geral para a sucessão de Santiago nos direitos metropolitanos de Mérida era pouco favorável, visto a parte cristã, desta província pertencer ao arcebispo de Toledo, que dispunha só duma parte da própria província e a quem por isso tinham entregado as sufragâneas de Mérida. É claro que a cúria se não podia facilmente decidir a tirar estes direitos ao toledano, seu legado.

Tratava-se, como se vê, de uma pessoa importante que Maurício buscava como aliado. Diego fez-se rogado por algum tempo e pôs também as suas condições: Maurício havia de sagrar bispo do Porto o arcediago Hugo, fiel servidor do compostelano mas que antes como depois se mostrou inimigo de Braga. Com esta condição, realizou-se em Março de 1113 um acordo, celebrado contra Bernardo de Toledo. No Verão de 1114 Diego continuava os seus esforços junto da cúria para que lhe fossem entregues os direitos sobre Mérida, detidos por Toledo.
Bernardo de Toledo não era, porém, adversário para se desprezar. Depois do se ver livre dos aragoneses, convocou, na sua qualidade de legado apostólico, o bispo Maurício perante o sínodo de Palência (Outubro de 1113) para que respondesse sobre os acontecimentos de Leão. Maurício não compareceu. Bernardo suspendeu-o e tomou mesmo conta das funções metropolitanas de Braga. Conseguiu também que o Papa confirmasse a suspensão em 18 de Abril de 1114.
O estado actual dos nossos conhecimentos sobre aquela época não nos permite dizer qual era o fundo político da controvérsia. A confusão naqueles anos foi grande, e pode ser que os príncipes da igreja houvessem tomado uma iniciativa que não era vulgar na Espanha. O conde Henrique parece ter morrido ainda em 1112; e a sua, viúva, D. Teresa, ambicionou sem dúvida a independência portuguesa, mas sem medir a importância da Igreja 
  • NOTA: A data da morte do conde Henrique é controversa porque as fontes ora dão 1112, ora 1114. J. P. Ribeiro, depois de minuciosas investigações, fixou a morte em 1 do Maio de 1112. Herculano decidiu-se porém por 1114, mas as suas razões não são convincentes. Não se justifica em especial a sua crítica à cronologia da História Compostellana estabelecida por Florez. Apesar do cálculo de Herculano ser em geral aceite mesmo pela historiografia espanhola, parece-me mais provável a hipótese de Ribeiro. Torna-se todavia necessário um exame renovado do problema baseado em materiais diplomáticos espanhóis e portugueses.

Manteve pessoalmente relações estreitas com Diego de Compostela, mas não se ocupou dos outros bispos portugueses que ficaram sem direcção nem conexão.

Cortesia de uc

Maurício provou naquele momento crítico a sua habilidade. Vai a Roma e consegue de Pascoal II, em 3 de Novembro de 1114, não só o reconhecimento do seu ponto de vista na questão de Coimbra e Zamora, mas também a anulação dos direitos de legado que o arcebispo de Toledo exercia sobre a província de Braga. Um mês depois recebe novo privilégio que lhe confere o título, longamente ambicionado, de arcebispo. É preciso lembrar que no privilégio que recebeu em 1109, era intitulado apenas “coepiscopus”, como o seu predecessor.


Só agora é reconhecido como metropolita independente e exclusivamente responsável perante a Santa Sé. O último vestígio da subordinação ao primado de Toledo desaparece, e na realidade já durante os trinta anos seguintes não há, questão jurisdicional de Toledo sobre Braga». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT