terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Poesia num dia de Fevereiro. Maria Tereza Horta. «… e que me iludem me rasgam curam e descuram me vestem de amor e de ventura»


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Intervalo
«No silêncio que guardo
Quando partes
Que escondes sob
Os dedos
Que se prende
Que me deixa no corpo
Este calor
Da falta do teu corpo como sempre»


Os Teus Olhos
«Direi verde
do verde dos teus olhos
de um rugoso mais verde
e mais sedento
Daquele não só íntimo
ou só verde
daquele mais macio
mais ave
ou vento
Direi vácuo
volume
direi vidro
Direi dos olhos verdes
os teus olhos
e do verde dos teus olhos vício
Voragem mais veloz
mais verde
ou vinco
voragem mais crespada
ou precipício»


As Tuas Mãos
«As tuas mãos
compridas e serenas
de pele esticada sobre os dedos
as tuas mãos macias
como vales
que prendem me prendem e desprendem
as tuas mãos
sedentas
mais profundas de secretas razões
e que se afundam
nas partes fundas
do meu corpo
que me fazem gemer
e que me iludem
me rasgam
curam e descuram
me vestem de amor e de ventura»
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo

In Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa, 2014, ISBN 978-972-204-903-0.

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