sexta-feira, 29 de novembro de 2019

A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D. Afonso V (1448-1481). Douglas M. Xavier Lima. «Acrescenta-se que o meio académico brasileiro, caracterizado pelo exponencial crescimento da oferta de cursos de graduação e pós-graduação em relações internacionais…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Doutor Douglas Xavier Lima

«(…) Como ponto de partida, observa-se que a antiguidade e o mundo moderno, tal como o medievo, também constituem temporalidades pouco privilegiadas pelas pesquisas da área, ocupando apenas um lugar introdutório na composição da História da Diplomacia e da formação das Relações Internacionais. Lucien Bély, ao analisar o cenário académico francês, discute a desconfiança lançada sobre aqueles que se inclinam a estudar as relações internacionais entre os séculos XV e XVII, assim como o lugar modesto ocupado pelos estudos. Acredita-se que tal facto ocorre por duas vias, tanto pela orientação das relações internacionais para o cenário contemporâneo, como pelo afastamento dos historiadores da temática. Acrescenta-se que o meio académico brasileiro, caracterizado pelo exponencial crescimento da oferta de cursos de graduação e pós-graduação em relações internacionais, tem contribuído para esse quadro que concentra a área nos desafios da contemporaneidade. A fim de caracterizar os caminhos que levaram às vias indicadas, passa-se a algumas considerações acerca do desenvolvimento da produção na área, destacando, em primeiro lugar, a constituição das Relações Internacionais. A formação do campo de estudos da História Diplomática, área preocupada com a exposição e a explicação das relações entre Estados mediante a sua expressão política, tem as suas raízes nos séculos XVIII e XIX, o que não exclui a importância de obras anteriores ligadas à delimitação dos grandes feitos externos e militares dos reinos. No entanto, foi na sociedade oitocentista que se observou a ampliação dos interesses de reconstituição das histórias nacionais. Esse processo também se observa na História com a história metódica, pois a produção historiográfica do período foi marcada pela construção do Estado-nação e pelo estabelecimento das tradições nacionais. Paralelas à constituição da própria disciplina, tais inclinações colocaram a área na busca de critérios de cientificidade, e nesse processo o foco dos historiadores direccionou-se ao estabelecimento de factos, cronologias e no levantamento de documentos seguros que pudessem compor a história nacional, ou mesmo a recomposição de grandes batalhas, tratados e estadistas.
Em meio a essas orientações e fundando-se no conhecimento amplo de textos e fontes oficiais, assim como na publicação de colecções documentais, o campo da História Diplomática consolidou-se com o pioneiro trabalho de Gaëtan Flassan, Histoire générale et raisonnée de la diplomatie française depuis la fondation de la Monarchie jusqu' à la fin du règime de Louis XVI, publicado em sete volumes no início do século XVIII. Do mesmo período destacam-se ainda as obras: Foedera, conventiones, literae et cujuscumque generis acta publica inter reges Anglae et alios quosvis imperatores, reges, pontífices, principes, vel communitates, de Thomas Rymer, publicada entre 1704 e 1717; e Recueil des principaux traités d’alliance, de paix, de trêve, de neutralité, de commerce, de limites, l’Echange etc., conclus par les puissances de l’Europe tant entre eles qu’avec les puissances et États dans d’autres parties du monde depuis de 1761 jusqu’à présent, do jurista Georg Friedrich von Martens, publicada entre 1791 e 1801. Não obstante, como argumenta Jean Thobie, foi com a Revue d'Histoire diplomatique, fundada em 1887 e ligada à Sociedade de História Diplomática, que se formou a História Diplomática científica. No bojo desse movimento se inserem as obras Quadro Elementar das Relações Políticas e Diplomáticas de Portugal com as diversas potencias do mundo desde o principio da Monarchia portugueza até os nossos dias, de visconde de Santarém, redigida em Paris em meados do século XIX; Collecção dos tratados, convenções, contratos e actos públicos celebrados entre a coroa de Portugal e as mais potencias desde 1640 até o presente, coordenada por José Ferreira Borges Castro; e Corpo diplomático português contendo os actos e relações políticas e diplomáticas com as diversas potências do mundo, desde o século XVI até os nossos dias, de Luís Augusto Rebelo Silva, publicada em 15 volumes entre 1862 e 1936. Elas expressam as preocupações historiográficas do período e permanecem um marco na academia portuguesa, constituindo um relevante fundo documental para os medievalistas e modernistas do século XXI. Porém, mesmo com a destacada importância essas obras monumentais não deixaram de ser alvo de críticas coetâneas e, como sublinha José Amado Mendes, historiadores portugueses como António Ferrão discutiam a falta de explicações teórico-interpretativas e de abordagens temáticas em tais obras». In Douglas M. Xavier Lima, A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D. Afonso V (1448-1481), Tese de Doutoramento História Medieval, Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, Niterói, 2016.

Cortesia de UFFluminense/DHistória/JDACT