terça-feira, 5 de novembro de 2019

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «… fronteira luso-castelhana do lado espanhol. Estas publicações são mais recentes que as apresentadas pela historiografia portuguesa, com especial destaque para o caso de Olivença e o tratado de Alcanizes»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de Noudar e a defesa do património nacional
O castelo de Noudar na historiografia Regional Portuguesa
«(…) Os circuitos comerciais também têm o seu lugar nos estudos de geografia histórica, onde podemos confirmar que a delimitação fronteiriça entre Portugal e Castela não terminou com circuitos de comércio fluvial no rio Guadiana, apenas mudou a sua organização. Nestas obras, podemos encontrar referências a produtos comercializados nesta área do Alentejo, transportados por meio fluvial, e também actividades ligadas aos recursos hídricos, como a pesca. Outros estudos geográficos, de carácter mais particular, dando ênfase apenas a um local específico da Andaluzia, podem ser benéficos para o nosso estudo, se deles nos quisermos servir, pois tratam, além de contextos históricos, de questões específicas que nos podem ser úteis, como toponímia, organização do espaço e povoamento. A geografia histórica comporta estudos importantes para a compreensão da relação entre o espaço e os homens, espaço esse onde o elemento humano desenvolve um conjunto de actividades que moldam a paisagem natural, de acordo com as suas necessidades, e a transforma num local de vivências diversas.

O castelo de Noudar e a defesa do património nacional
A Historiografia Espanhola
Do lado espanhol, existem poucas referências em histórias gerais em relação à margem esquerda do Guadiana. As Histórias gerais espanholas tratam muito pouco ou nada a questão da margem esquerda do Guadiana, preferindo dar ênfase ao avanço dos reinos cristãos hispânicos para o Sul da península, mais particularmente a conquista da Andaluzia no século XIII. As histórias da ocupação islâmica em Espanha também são omissas em relação aos territórios em questão, não havendo neste tipo de obras grandes referências que possamos encontrar. Face à abundância de publicações de história no país vizinho (histórias gerais e estudos vários), a margem esquerda do Guadiana não recebe muitas referências (não querendo dizer com isto que não a consideraram importante, historicamente e geograficamente) nos estudos sobre as monarquias castelhano-leonesas do século XIII, preferindo a historiografia espanhola dar atenção às conquistas territoriais destas últimas.
É a historiografia regional e local espanhola que, apresentando várias publicações, é mais específica em termos de estudos de fronteira, e dá mais importância ao caso da fronteira luso-castelhana do lado espanhol. Estas publicações são mais recentes que as apresentadas pela historiografia portuguesa, com especial destaque para o caso de Olivença e o tratado de Alcanizes. Nos estudos publicados do outro lado da fronteira que têm como objecto de estudo Olivença, a vila de Noudar é referida, mas no contexto do tratado que celebrou a definição de fronteira entre Portugal e Castela em 1297. É tida como estando no território para além do Guadiana que Portugal manteve contra a vontade de Fernando III, aparecendo como se fosse um objecto na mão de políticos hábeis, como a incorporação no concelho de Sevilha em 1253.
No lado espanhol, o caso de Olivença é sobejamente tratado, e Noudar é referida no contexto dos acordos de 1263-64 até Alcanizes. É igualmente referida como pertencente ao concelho de Sevilha a partir de 1253, aquando da fixação dos limites do mesmo concelho por Afonso X de Castela. A historiografia espanhola, no campo de estudo regional, é ampla, e temos outras obras do mesmo carácter sobre a fronteira, uma delas trata a questão da fronteira entre o reino de Sevilha e Portugal, onde a vila de Noudar é referida no contexto do escambo realizado por Afonso X de Castela com os hospitalários, e na doação de Serpa e Moura a dona Beatriz, mãe de Dinis». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.                                                                                                                      
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT