sábado, 16 de novembro de 2019

Alexandre VI. Volker Reinhardt. «Afonso V não via com bons olhos suspender o apoio a Bento XIII, que ignorou soberanamente a deposição pelo concilio, bem como seu sucessor Clemente VIII»

Cortesia de wikipedia e jdact

De Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…) Afonso V reinava não apenas sobre a metade setentrional da Península Ibérica, mas também sobre as Ilhas Baleares, a Córsega e a Sardenha. Mas o jovem monarca não estava ainda nem um pouco satisfeito com isso. Seus olhos estavam voltados com cobiça para a Itália. Para os seus planos ambiciosos, precisava de advogados competentes como Alonso Borja. Havia quase quatro décadas, Borja tinha colocado os seus notáveis conhecimentos jurídicos inteiramente ao serviço do rei. Era uma ferramenta perfeita nas mãos do monarca e chegou a actuar também nas difíceis disputas entre a Coroa de Aragão e o papado. Afonso V não via com bons olhos suspender o apoio a Bento XIII, que ignorou soberanamente a deposição pelo concilio, bem como seu sucessor Clemente VIII, sem obter amplas concessões de Roma. Nas negociações mantidas com os embaixadores enviados por Martinho V, Alonso Borja, por meio da sua experiência, ganhou o reconhecimento também pelo lado romano. De qualquer forma, por parte do rei, o reconhecimento era inconteste. No entanto, o amplo apoio que o homem de Xátiva passou a receber, a partir desse momento, não tinha nada de desinteressado. O facto de ter colocado o seu vice-chanceler em posições de liderança dentro da Igreja assegurava ao monarca acesso a uma grande parte dos seus recursos financeiros. Essa divisão de tarefas deu excelentes resultados ainda durante a administração da diocese de Maiorca por Alonso. E essa disponibilidade de dar ao rei aquilo que ele exigia qualificou-o a posições ainda mais altas. Em 1429, Alonso passou a ser bispo de Valência, ofuscando, dessa maneira, todo o sucesso que fora anteriormente alcançado pelas mais nobres ramificações da sua linhagem. Naturalmente, foi fundamental para isso a recomendação do seu senhor. Apesar dos doze anos de dedicados serviços, a sua nomeação, que fora aprovada por Martinho V, teve o seu preço. Favor significa o privilégio de poder comprar, por toda parte, as regras invioláveis da clientela. Alexandre VI, posteriormente, dominará essa arte com maestria absoluta. Seu tio, no entanto, teve de pagar uma fortuna ao seu rei pelo bispado de Valência. O facto de Martinho V ter dado sua aprovação reflecte uma mudança na política da Igreja. Do ponto de vista do rei, o antipapa, que se encontrava entrincheirado na península rochosa Peníscola, tinha cumprido a sua missão. E quando Alonso Borja comunicou-lhe a suspensão do apoio da casa real, Clemente VIII agiu da forma mais razoável possível: desistiu. Anos mais tarde, tornou-se lenda que a arte de persuasão do enviado teria contribuído para que o teimoso antipapa tomasse essa decisão. Fora de questão, no entanto, é o facto de que Alonso, como portador de uma mensagem sem margem a negociações, contribuiu, com a sua competência jurídica, para que esse acto transcorresse de forma rápida e indolor. E isso também agradou a Roma.
Os comprovados interesses da união mantiveram-se, mesmo depois de 1429. Como pastor de uma das mais ricas dioceses da Espanha, Alonso Borja não recusou os pedidos de subsídios da câmara de finanças real. O seu papel como conselheiro real também prevaleceu sobre as suas novas funções como bispo; o grande jurista era indispensável no tribunal e aumentou o número já grande de não residentes, ou seja, clérigos que não estavam em exercício das suas funções na sua diocese. Como prelado político por excelência, Alonso Borja imbuiu rigor exemplar ao seu estilo de vida. Repudiava os pecados capitais da gula e da luxúria, nisso estiveram de acordo até mesmo os seus inimigos. Afonso de Aragão também abriu as portas que levariam o seu favorecido à Itália. Nas intrincadas contendas pela coroa de Nápoles (à qual pertencia também a Sicília), que gozava de extremo prestígio, após muitos contratempos e prestes a atingir os seus objectivos, o rei promoveu a sucessão do seu conselheiro quase sexagenário em 1437. E com boas razões. Após longos conflitos, Afonso tinha conseguido prevalecer sobre seus rivais da Casa de Anjou, porém havia ainda uma última e difícil batalha pela frente. Essa seria com o papa, que ocupou a suserania sobre o reino fundado brilhantemente pelos normandos em 1130». In Volker Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN 978-857-960-127-9

Cortesia EEuropa/JDACT