quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Portugal Terra de Mistérios. Paulo Alexandre Loução. «Está hoje mais do que provado que o símbolo da cruz, exoterizado pelo cristianismo, é universal, perdendo-se a sua origem na noite dos tempos. Aparece em documentos da China, do Egipto, da América Pré-Colombiana…»


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O Mistério da Cruz Templária
«(…) Passamos agora à análise do seu simbolismo e antiguidade. Muito poucos saberão que uma cruz muito semelhante com um círculo central já existia e era um símbolo sagrado para os Assírios do século IX antes de Cristo. Mourant Brock, da Universidade de Oxford, divulga, num trabalho sobre as origens do símbolo da cruz, um peitoral pertencente ao rei-sacerdote assírio Samsi-Voul, datado de 835 a. C.! Este académico inglês faz questão de sublinhar:

E não se pense que esta cruz é única; ou que ela seja um ornamento acidental na história assíria e nos seus signos sagrados. Entre vários exemplos, existe outra, do rei da Assíria, Assur-Nazir-Pal, cuja enorme estátua, também talhada em pedra, se encontra no mesmo grupo de peças de Samsi-Voul. As duas cruzes são idênticas.

Nós próprios pudemos verificar a existência destas cruzes no Museu Britânico. O arqueólogo Alexander Wilder tinha razão quando afirmou no século passado que muitos dos ritos e doutrinas incluídos nos outros sistemas. O Zoroastrianismo [doutrina oriunda da Ásia Menor] antecipou muitas mais coisas do que se imagina. A cruz, as vestes sacerdotais e os símbolos, os sacramentos, o sabbath, as festas e os aniversários são milhares de anos anteriores à era cristã. Podemos encontrar esta cruz em templos românicos, como é o caso do Mosteiro de Arnoso. Também a encontramos (embora com os braços mais arredondados) em castelos Templários, como é o caso de Almourol.
É um facto que de modo algum podemos identificar a origem desta cruz com o drama cristão do calvário, devendo antes associá-la à tradição antiquíssima da cruz inscrita no círculo. Por outro lado, não nos podemos esquecer de que a cruz só começou a ser utilizada regularmente pelos cristãos no século V d. C. e o crucifixo só foi vulgarizado a partir do Concílio de Constantinopla, realizado em 692. Antes, um dos símbolos mais utilizados era os peixes, já que as iniciais da frase Iesus Christos, Theou Uios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador) conformam a palavra Ichtus, que em grego significa peixe. Porém, a nosso ver, é lógico que a adopção deste símbolo teve o objectivo esotérico de veicular a energia nascente da era astrológica de Peixes, que então se iniciava.
Está hoje mais do que provado que o símbolo da cruz, exoterizado pelo cristianismo, é universal, perdendo-se a sua origem na noite dos tempos. Aparece em documentos da China, do Egipto, da América Pré-Colombiana, etc.; e em Cnossos, na ilha de Creta, foi encontrada uma cruz de mármore datada do século XV a. C.. A cruz de quatro braços iguais, apontando para os quatro pontos cardeais, é um símbolo da totalidade do Cosmos, inspirando por isso as mandalas. Para a ciência hermética, é também um símbolo da harmonização dos quatro elementos (Terra, Água, Ar e Fogo), sendo o centro o motor imóvel, o quinto elemento, raiz do movimento. A cruz orbicular é a cruz inscrita no círculo em movimento (permanecendo sempre o centro [do mundo] imóvel), uma dupla hélice. Para a ciência dos mistérios da antiguidade os números são entidades divinas e as figuras geométricas são a sua expressão. Por essa razão, Platão afirmava que Deus é geómetra e vedava o acesso à sua Academia a quem não entendesse de geometria, fazendo Pitágoras o mesmo a quem não fosse matemático». In Paulo Alexandre Loução, Portugal Terra de Mistérios, Edição Ésquilo, 2001, ISBN 972-860-504-8.

Cortesia de EÉsquilo/JDACT