sábado, 24 de maio de 2014

Martim Gil de Soverosa. Crise de 1245-1248. «… o seu isolamento, pois junto de si encontram-se apenas o alferes Martim Anes de Riba de Vizela e os três Soverosa: Gil Vasques e os seus filhos Martim Gil e Vasco Gil, este último nascido do seu segundo casamento, com Sancha Gonçalves Orvaneja»

Cortesia de wikipedia

Martim Gil de Soverosa. O bisneto d'O Cativo
«(…) É precisamente nesse ano de 1236 que ocorre o afastamento do todo-poderoso chanceler mestre Vicente, episódio que desencadeou não só um processo de desorganização da administração central, mas também da administração regional, com o afastamento do bastardo de Sancho I, Rodrigo Sanches, das terras de Faria, da Maia, Vermoim e Lafões; de Gonçalo Mendes Sousa das terras de Lamego e Viseu; e de Vasco Mendes de Sousa das tenências de Panóias e de Bragança. Foram precisamente todas estas alterações que, decerto, abriram caminho para um maior protagonismo daqueles que ainda se mantinham próximos do rei, como era o caso de Martim Gil de Soverosa.
Consequência de toda aquela desorganização e alterações, o reino atravessa então um período de grande instabilidade. Mais acentuada na zona norte, em Trás-os-Montes, no Minho e na Beira Alta, expressa-se em roubos, raptos, tumultos, assassinatos e violências de toda a ordem, algumas das quais levadas a cabo pelo próprio irmão do rei, o infante Fernando, senhor de Serpa, mas também por diversos bandos nobres. Trata-se de um quadro de autêntica anarquia que se arrastará ao longo dos anos seguintes e que o rei, tal como os que lhe são mais próximos, se revelam incapazes ou, segundo alguns, sem vontade de controlar. São sobretudo estes, em particular Martim, e não tanto o monarca, que os contemporâneos, nomeadamente aqueles que se opunham a Sancho II, apontam como os principais responsáveis por todo esse quadro de instabilidade, tumultos e insegurança que em última análise irá levar, em 1245, à deposição do rei.
Reencontramo-lo em Maio de 1237, em Santarém, entre os confirmantes do escambo da vila de Mafra pelo castelo da Juromenha, entregue à Ordem de Avis. No final do ano volta a Santarém, onde está já no dia 4 de Novembro, a confirmar a renovação da doação régia do padroado das igrejas de Alcácer e de Palmela, a que se acrescentaram as de Almada, concedida à Ordem de Santiago.
Em Maio de 1238 Martim Gil encontra-se, de novo, em Coimbra, onde testemunha a carta destinada ao papa com o texto da composição entre o rei e o bispo do Porto, Pedro Salvadores, pela qual se punha termo, ou pelo menos era isso que o rei esperava conseguir, a um longo diferendo provocado pela disputa dos direitos de apresentação das igrejas da cidade, do foro eclesiástico e das dízimas reais. Mas este documento, para além de revelar, através das cedências do rei, a debilidade do poder e da autoridade de Sancho, demonstra também, como sublinha Hermenegildo Fernandes, o seu isolamento, pois junto de si encontram-se apenas o alferes Martim Anes de Riba de Vizela e os três Soverosa: Gil Vasques e os seus filhos Martim Gil e Vasco Gil, este último nascido do seu segundo casamento, com Sancha Gonçalves Orvaneja.
Ressurge no dia 16 de Janeiro de 1239,em Lisboa, a confirmar a doação à Ordem de Santiago, do castelo de Mértola e a doação à mesma Ordem do castelo de Alfajar da Pena. Não deixa de ser interessante a sua intervenção, enquanto confirmante, nas sete doações régias feitas à Ordem de Santiago e ao comendador-mor Paio Peres Correia entre 1235 e 1239, ou seja, precisamente no período em que se verifica a maior ascensão da Ordem. Provavelmente não passa de um mero reflexo da sua presença constante na corte, mas ainda assim não deixa de ser tentadora a possibilidade de existir alguma proximidade entre o Soverosa e o futuro Mestre de Santiago, outro dos membros do grupo restrito que, por essa altura, rodeava o monarca, que pode ter tido em Martim Gil um dos seus principais apoiantes». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT