sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ordem de Santiago. Paio Peres Correia. «Assim, em 1238 e com o apoio da hoste de Martim Anes do Vinhal, primo direito de Paio Peres Correia, os Santiaguistas dominam a praça-forte de Mértola, chave de uma importante encruzilhada de estradas terrestres e fluvial»

Cortesia de wikipedia

Passos de gigante
«(…) Talvez a experiência militar adquirida nesses teatros de operações, no quais certamente se destacou, por um lado, bem como o contacto estreito com as mais altas individualidades da hierarquia santiaguista, designadamente com o Mestre, por outro, tenham contribuído para que tivesse sido escolhido, no Capítulo Geral reunido em Uclés entre Março e Agosto de 1232, no qual esteve presente, para ocupar o cargo de comendador-mor de Alcácer a mais alta dignidade da Ordem em Portugal. E numa altura em que a Coroa portuguesa praticamente abdicara do protagonismo das acções ofensivas da Reconquista, ninguém melhor que um guerreiro experiente, voluntarioso e com uma boa teia de relacionamentos nos lugares de topo da Ordem para assumir as rédeas do avanço das forças cristãs em direcção ao Sul. A sua escolha é, por isso, perfeitamente compreensível, justificada e terá certamente sido bem acolhida por Sancho II.
A primeira operação militar que coordenou e em que participou ao comando dos Espatários portugueses terá sido a conquista, em 1234, do castelo de Aljustrel, no extremo sul da bacia do Sado, que viria a ser formalmente entregue à Ordem, no ano seguinte, pel’O Capelo. Será essa fortaleza, em estreita articulação com outras de menor dimensão como Ferreira, Messejana, Castro Verde e talvez o Alvito, conquistadas no início dessa ofensiva, a principal base de operações dos Santiaguistas para as campanhas dos anos seguintes e cujo objectivo final era a submissão do Algarve.
É com esse propósito que a Ordem de Santiago leva a cabo uma complexa e demorada operação logística e de planeamento, fazendo deslocar para Aljustrel homens, armas, munições e mantimentos, mobilizando contingentes, recolhendo financiamentos, recorde-se a doação feita pelo rei em Outubro de 1235 dos direitos das igrejas de Palmela, de Alcácer e, em 1237 de Almada, etc... Mas toda essa preparação deve ter também exigido um enorme esforço ao nível da recolha de informações, nomeadamente acerca dos difíceis caminhos da serra algarvia, muitas das quais fornecidas por Garcia Rodrigues, que a Crónica da Conquista do Algarve identifica como tratando-se de um mercador, mas que mais parece tratar-se de um líder de uma das muitas companhias de almogávares que actuavam na fronteira meridional. De facto, a travessia da serra constituía um empreendimento de tal forma complexo e arriscado que o plano para alcançar as fortalezas do centro do Algarve através de uma ofensiva directa acabou por ser abandonado. Como demonstravam as informações entretanto recolhidas, era consideravelmente mais seguro contornar a serra pelo flanco leste, ao longo do Guadiana. Contudo, a adopção desta estratégia também não deve ter sido uma tarefa fácil, como se percebe pelo facto de decorrerem quatro anos entre a conquista de Aljustrel e o recomeço da ofensiva em direcção ao Sul.
Assim, em 1238 e com o apoio da hoste de Martim Anes do Vinhal, primo direito de Paio Peres Correia, os Santiaguistas dominam a praça-forte de Mértola, chave de uma importante encruzilhada de estradas terrestres e fluvial. As fontes indicam-nos que a conquista foi levada a cabo através de uma operação furtiva, como as que celebrizaram Geraldo, O Sem-Pavor, embora se desconheçam os contornos precisos da expedição. Sabe-se, no entanto, que os atacantes penetraram na fortaleza durante a noite, através da Torre de Oeiras, a partir da qual conseguiram subjugar a guarnição inimiga e, assim, apossar-se da fortaleza. Será para aí que, pouco tempo depois, transferem a sua sede conventual, tal como haviam feito, anos antes, com a passagem de Palmela para Alcácer, porque a oscilação da fronteira exigia o reposicionamento dos quartéis das milícias, não só de forma a garantir a posse dos territórios conquistados, mas sobretudo para facilitar as novas ofensivas, como foi já sublinhado por Isabel Cristina Fernandes». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT