sábado, 24 de maio de 2014

Mosteiro de Santo Tirso. De 978 a 1588. «… superiormente dirigida por um Abade Geral sedeado em Tibães, e, enquanto se esperaria pela resignação do comendatário, a administração do convento de Santo Tirso correu provisoriamente por conta dos Priores trienais e eleitos (1570-1590)»

Cortesia de wikipedia

O mosteiro de Santo Tirso, antes de 1092. Silhueta de uma entidade projectada no chão de uma história milenária
De 1402 a 1588
«(…) Outro poder, entretanto, e mais alto!, se alevantou. O rei João I, através do cardeal de Nápoles, intercepta o despacho das Bulas Pontifícias. Tutto calculato: este candidata-se à prelazia de Santo Tirso que, de facto, obtém da Cúria Romana. E, logo depois, a vai depositar nas mão do monarca português. Daqui transitará direitinha para a posse do seu favorito: o galego e fidalgo Martim Aires, da família dos Vieiras. A partir daqui, poderes mais altos decidem da liderança conventual. E passa-se por cima da opção dos monges e das atribuições concretas dos padroeiros. Vão ainda reagir uns e outros, por 1430. Mas inutilmente... Numa nota introdutória aos prazos quatrocentistas do mosteiro, diz-se que foi Martim Aires o primeiro abade comendatário de Santo Tirso. E o seu sobrinho o segundo prelado deste género. Em Março, porém, de 1401, Martim Aires é só e ainda administrador do nosso convento. Mas, a 15 de Junho de 1402, era já o abade efectivo da casa tirsense Os abades comendatários de Santo Tirso terminarão em 1588, com a resignação do cardeal Alexandre Farnese, a troco de uma pensão de 400.000 reis anuais. E mais que vitalícia, que os frades só dela se redimiram em 1617. Ou seja, vinte e oito anos depois da morte do neto de Paulo III, que se daria em 1589, um ano depois da renúncia à comenda de Santo Tirso.

1590-1834: período dos abades eleitos e trienais
Há, antes de mais, um período de transição. Desde que Santo Tirso aderiu à Reforma, que incorporaria os mosteiros numa Congregação, superiormente dirigida por um Abade Geral sedeado em Tibães, e, enquanto se esperaria pela resignação do comendatário, a administração do convento de Santo Tirso correu provisoriamente por conta dos Priores trienais e eleitos (1570-1590). Período de transição, repita-se. Findo este, pela resignação do cardeal Alexandre Farnese, é então eleito o primeiro Abade trienal de Santo Tirso, que foi Luís do Espírito Santo. Dos abades subsequentes, após 1590, conhece-se bem o princípio e o fim, salvo uma que outra vez, quando a morte lhes antecipou o fecho do seu mandato; quando uma falta do Prelado, física ou psicológica, se remedeia com suspensão da prelazia; ou quando uma sustatória vier a impedir aos monges o livre exercício da sua opção. Não só, pois e em princípio, se conhece o ano, como até o mês. A partir dos finais do século XVI, os Abades são eleitos, por regra, em Maio e terminam o seu mandato três anos depois, a 30 de Abril. Os estadistas eleitos nos Conselhos, na ponta final da prelatura, fazem então o relato do estado em que se encontrava o mosteiro, aquando da tomada de posse, e do estado em que o mesmo ficou, após o encerramento do seu abaciado. No relatório, darão notícia, mais ou menos pormenorizadamente, de tudo quanto o abade se teria desempenhado no fio da administração que a Providência lhe demarcou. Tanto em Santo Tirso, como no Priorado da Foz, ou nas outras igrejas anexas.

Uma fermentação em marcha. Monástica e senhorial. Um tecido de malha rarefeita
Já vão serenando, um tanto ou quanto, as ondas que agitaram as águas da investigação histórica, a respeito da questão famosa do ermamento do vale do Douro. Não queremos dar nenhuma achega que serene os ânimos. Só um pormenor que a documentação e a arqueologia parecem insinuar. A saber, se as invasões árabes, ou até fenómenos naturais, como pestes, por exemplo, não provocaram uma desertificação, pelo menos, parece-me segura a hipótese de uma rarefação e de uma certa desorganização com uma tal ou qual ruptura administrativa, aqui, junto do Ave. Já o documento da geração goda de 876  nos dá a sensação de que os primeiros repovoadores chegados à margem do Ave, Alvarelhos, Branderiz (S. Tiago da Carreira) e Brufe (Famalicão), aqui arribariam pela segunda parte do século IX. Curiosamente, as escavações do Padrão, como as de Alvarelhos, anotam uma obscuridade total entre a segunda parte do século III, o Padrão, ou século V, segunda parte, no caso de Alvarelhos, após um período de maior ou menor brilho de épocas anteriores. E retomariam um tanto ou quanto de fôlego mais tarde, pelo século X. Claro que estas ideias não podem dar a proporção, que sirva de norma a todas as partes deste Entre-Douro-e-Minho. Pegadas de presença humana, por exemplo, em Braga, se vislumbram, com mais ou menos evidência, no tapete continuado da sua história.
A retoma de uma presença humana férvida e coerente far-se-ia dois-três séculos adiante deste prolongado eclipse, que não digo total. As causas daquela letargia poderão ser diferentes. Mas não há dúvida de que a agressão das hostes muçulmanas nada ajudaria a uma presença da população hispano-romana germanizada, numa vivência tranquila, a respeito do homem e da terra. A expressão do papa Pascoal II, em 1115, Postea uero per annos multos yspaniae maiorem partem a mauris uel ysmaelitis inuasam atque possessam urbium uel ecclesiarum abolitio manifestat et nostrorum temporum memoria non ignorat, e, depois, em 1120, Calisto II, dum portugalensis prostrata iaceret ecclesia, manifesta uma situação anormal, face à história da igreja e da sociedade de épocas anteriores. E ambos não falam de cor, que das situações lhes chegam informes pelo testemunho pessoal e local dos primeiros bispos, após a reconquista.
A presença mais vincada de repovoadores nesta zona far-se-á no contexto das lutas contra os árabes. Já com Afonso III, que alargou o território da ocupação cristã até ao Douro. Daí a demora habitual da família de Guterre Mendes, em Santo Tirso. Aliás, como pouco antes, já em diversos pontos nevrálgicos, dentro da área a norte do Douro, outros nomes sonantes avultariam, como Vímara Peres, o conde Odoário, nas presúrias de que foram líderes sobre o Porto e sobre Chaves, respectivamente.

Um solo donde brota a Primavera
O mosteiro de Santo Tirso encontra-se na região situada entre os rios Ave, Vizela, Douro e Tâmega. Esta unidade geográfica incluiria, dentro de si, duas grandes terras: a da Maia, a ocidente, e a de Sousa, a nascente. Ao século XIII, subdividir-se-ia em vários Julgados e Termos: Bouças, Maia, Gondomar, Refojos de Riba d’Ave, Aguiar de Sousa, Penafiel de Sousa, Santa Cruz de Sousa, Lousada, Portocarreiro e Felgueiras. Duas estradas romanas passavam pelas imediações do mosteiro de Santo Tirso: a de Porto-Braga, e uma outra, que, saindo da primeira destas cidades, numa orientação mais a leste, passava por S. Tiago da Carreira (Santo Tirso), rumo à Ponte de Negrelos, na mira da junção à via romana, em S. João da Ponte, e que, oriunda da Bracara Augusta, conduzia os viandantes até Mérida». In Francisco Carvalho Correia, Maria Luz Ríos Rodrigues, Wikipédia, Universidade de Santiago de Compostela, Faculdade de Xeografia, História e Arte Departamento de História Medieval e Moderna, 2007, ISBN 978-8498-8703-81

Cortesia USCompostela/JDACT