sexta-feira, 10 de julho de 2015

Conferências Públicas. 1891. Rio de Janeiro. Christovam Colombo e o Descobrimento da América. Pereira da Silva. «É mister penetrar nestas miudezas para se compreender a temeridade dos Portuguezes ao coalhar os mares com navegantes e descobridores de terras: hoje a navegação é fácil…»

Cortesia de wikipedia e jdact

NOTA: De acordo com o original

Primeira Gonferencia. 17 de maio de 1891
«(…) Quasi que não passava a navegação de costeira; fugia-se aos altos mares; apenas a bússola introduzida pelos Árabes servia de instrumento náutico; consistiam os navios em náos, de cerca de 200 ou mais toneladas, para carregamentos de mercadorias particulares; em galés de guerra com tombadilhos á popa e proa, espigões de ferro na proa, vãos no centro para 40 a 50 romeiros, dous ou tres mastros para pequenas velas; em galeotas que se armavam também em guerra, mais pequenas; em caravellas e fustas, sem convez, e as maiores de cem toneladas, e ninguém ousava praticar viagens sinão com a terra sempre á vista. Os Venezianos, Genovezes, Pizanos, e Catalães iam buscar as mercancias indiàticas ao Egypto, á Syria, á Constantinopla, ao mar Negro, onde ellas chegavam em caravanas, provenientes pelo golpho Pérsico e pelo mar Vermelho; percorriam o Mediterrâneo, dobravam as costas de Portugal e Hespanha, dirigiam-se á França, Inglaterra, Allemanha e até á Moscovia. Os Normandos, Bretões e Flamengos seguiam do norte para o sul encostados tambem e sempre á terra, e penetravam no Mediterraneo. Os Arabes conheciam únicos a navegação do Indostão e da Africa oriental, onde largamente traficavam, trazendo do Egypto para a Mauritania os géneros de que careciam.
É mister penetrar nestas miudezas para se compreender a temeridade dos Portuguezes ao coalhar os mares com navegantes e descobridores de terras: hoje a navegação é facil, grandes os navios, movidos até pelo vapor, machinismos o construcções admiráveis, instrumentos náuticos perfeitos, conhecidos os caminhos talhados nos oceanos, e manifestas as posições dos astros: então eram tudo trevas, difficuldades, perigos, terrores.
Que fim tinham levado as ilhas da Atlantida e das Antilhas, de que fallaram Platão e Aristóteles? As terras que os Phenicios diziam ter conhecido, e que denominavam afortunadas? Onde estavam as ilhas das sete cidades e de S. Barandon, que se inscreviam nas cartas geographicas da época, confusa e diferentemente? Por que se não chegaria ao mar tenebroso, como se intitulava o Atlantico próximo ao equador, ás zonas torridas, que se pintavam inaccessiveis e inhabitaveis? Por que se não dobraria a Africa, que se pensava acabar á 10 gráos de latitude Norte, correndo então para o oriente á ajuntar-se ás Indias, conforme os dizeres dos Arabes, que de Marrocos por terra chegavam até quasi o Senegal?
Todas estas questões se propunham e ventilavam-se no areopago fundado em Sagres pelo infante Henrique de Vizeu. Plinio, Ptolomêo, Strabo, o Veneziano Marco Paulo (?), os Arabes Endrisi e Averrohes, eram os oraculos pelos seus livros; Jaime Malhorca e Vasseca os desenhadores mais habilitados de cartas geographicas. Convém aqui summariar as lendas que a respeito se espalhavam, e que, acreditadas não só pelo vulgo, como pelos espirites cultos e sabios da epoca, espalhavam terrores de approximar-se ao sul da Mauritania». In J. M. Pereira da Silva, Conferências Públicas, propriedade do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro e Academia Real de Sciencias de Lisboa, Brazil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Library University of California, 1892.

Cortesia de IHGB/ARC de Lisboa/JDACT