sexta-feira, 8 de julho de 2016

Memórias Paroquiais. Joana Braga. «Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino? Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras cousas dignas de memória?»

Cortesia de ANTT

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Esta colecção é constituída pelas respostas elaboradas pelos párocos ao interrogatório, através do qual se pretendia obter informações sobre as paróquias, abrangendo a totalidade do território continental português. Apesar de a exaustividade das respostas não ser constante, apresentam-se, na generalidade, de forma sequencial aos pontos do interrogatório (que está dividido em três partes relativas à localidade em si, à serra, e ao rio) fornecendo dados de carácter geográfico (localização, relevo, distâncias), administrativo (comarca, concelho, dimensão, e confrontações), e demográfico (número de habitantes), sendo possível obter informações sobre a estrutura eclesiástica e vivência religiosa (orago, benefícios, conventos, igrejas, ermidas, imagens milagrosas, romarias), a assistência social (hospitais, misericórdias, irmandades), as principais actividades económicas (agrícola, mineira, pecuária, feira), a organização judicial (comarca, juiz), as comunicações existentes (correio, pontes, portos marítimos e fluviais), a estrutura defensiva (fortificações, castelos ou torres), os recursos hídricos (rios, lagoas, fontes), outras informações consideradas assinaláveis (pessoas ilustres, privilégios, antiguidades), e quais os danos provocados pelo terramoto de 1755. Os volumes 42 e 43 contém apontamentos sobre múltiplas freguesias, elaborados pela mesma pessoa, provavelmente o Padre Luís Cardoso, incluindo algumas respostas originais de párocos, datadas de 1722, 1730 e 1732, e que deverão corresponder a um inquérito anterior ao de 1758.
O Dicionário Geográfico do Reino de Portugal, que o erudito e infatigável padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, tinha composto sobre as memórias que os párocos do reino enviaram, por ordem superior, à Secretaria de Estado, perdeu-se miseravelmente nas ruínas do terramoto de 1755, escapando apenas, as letras A B e C do primeiro e segundo volumes, por estarem já impressas, e distribuídos por partes, aonde não chegou o estrago. A simples leitura destes volumes, que restam, basta para convencer os verdadeiros portugueses, quero dizer, os amantes da glória, e da Pátria, de que a perda dos que faltam, foi grande e irreparável, e o seria muito mais, se o autor, apesar de ser já avançado em anos, não concebera o projecto de refundar a sua obra, adicionando-a com a relação dos estragos e catástrofe, que acaba de mudar a face de todo o Reino. Com este fim pediu novamente, instou e conseguiu da Secretaria do grande e respeitável Sebastião José de Carvalho e Melo, ordem para que todos os párocos do Reino enviassem novas descrições das suas freguesias, com aquelas escrupulosas e circunstanciadas miudezas que mais abaixo constarão da cópia dos interrogatórios, que impressos, lhes foram enviados com o preceito de responderem, que a maior parte dos párocos cumpriram no mesmo ano de 1758, com que lhes foi intimado; não quis porém o padre Cardoso destas participações.
Não quis ou não pôde, porque as enfermidades, ou a velhice ou o pressentimento da morte, ou tudo junto fez, que o padre Cardoso olhasse como impossível a execução do seu projecto, e assim, por sua morte em 1769, ficaram em montão confuso mas bem guardado, todas as descrição que lhe tinham sido enviadas, guardadas até agora em que um padre da mesma Congregação do Oratório, e Casa das Necessidades, zeloso da utilidade, e instrução pública as fez arranjar com forma de dicionário e mandou encadernar em 44 volumes de fólio, incluso este índice para na biblioteca da mesma casa estarem patente a instrução, utilidade e curiosidade portuguesa. De todos os 43 volumes, todos com o título “Dicionário Geográfico de Portugal” se extraiu o presente índice geográfico para facilitar a invenção de qualquer cidade, vila, concelho ou aldeia paroquial, devendo advertir-se, que havendo sido, apesar de bem guardadas, havendo sido desvairadas mais de 500 descrições, foi necessário, para completar a obra, suprir com a leitura, estas faltas, suplemento que certamente, não há-de de satisfazer a muitos leitores; mas na sua mão está emendarem, e corrigirem nos suplementos, ou volumes 42 e 43. De resto, damos a cópia dos interrogatórios conforme aos quais se acham feitas as respostas e são do teor seguinte:
1. Em que província fica, que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2. Se é d'el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3. Quantos vizinhos tem e o número das pessoas?
4. Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se descobrem dela, e quanto dista?
5. Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?
6. Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, todos pelos seus nomes?
7. Qual é o orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem irmandades, quantas, e de que santos?
8. Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?
9. Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10. Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?
11. Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem?
12. Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas cousas?
13. Se tem ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, e a quem pertencem?
14. Se acode a eles romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?
17. Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou beetria?
18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras, ou armas?
19. Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?
20. Se tem correio, e em que dias da semana chega e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21. Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino? Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras cousas dignas de memória?
22. Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial qualidade?
23. Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
24. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação.
25. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?
26. Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está reparado?
27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório?» In Joana Braga, Memórias Paroquiais, Índice, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 270.01.03, 1/2014, Lisboa, 2014, ID L 712.

Cortesia de ANTT/JDACT