domingo, 10 de julho de 2016

Na cama do duque. Cathy Maxwell. «Mulheres e crianças famintas. Precisa ajudá-las! Phillip suspirou. Heaton tinha razão. O escocês era muito inconveniente. Entretanto, apesar do aborrecimento, procurou falar em tom calmo e polido»

jdact e wikipedia

Escócia 1807
«O atormentado viajante que Charlotte encontrou numa noite chuvosa era o último homem a quem ela pensaria em oferecer boleia em sua carruagem! Phillip Maddox, o infame duque de Colster, instigou a revolta da sociedade londrina contra Charlotte, só porque ela persuadiu a irmã a não se casar com ele. E agora, aquele nobre sedutor e atrevido, responsável por sua ruína social, estava ali, sentado a seu lado, perto o suficiente para beijá-la... A antipatia de Charlotte por Phillip era recíproca, embora em outras circunstâncias ele tivesse adorado apelar para seu charme sensual e conquistar aquela jovem encantadora. Um perigo mortal, porém, aguardava Phillip e Charlotte naquela viagem relutantemente compartilhada. Mas poderia uma paixão indesejada e nascida em meio a uma calamidade apagar um passado doloroso e conduzir dois inimigos declarados ao mais inesperado dos destinos?...
A multidão, que lotava o Parlamento, recuou um passo, para dar passagem a Phillip Maddox, o duque de Colster, homem de poder invejável. Ele caminhava garboso e indiferente aos olhares curiosos daqueles que, por certo, assim que passasse, murmurariam entre si os mais picantes comentários a respeito do recente escândalo que atingira a reputação do duque. De facto, a maneira como Miranda Cameron havia rompido o noivado em plena festa e fugido com o amante o humilhara. Sem falar do desafio público feito por Charlotte, uma mulher sem princípios, que seria sua cunhada. O que tinha acontecido oito meses antes era problema particular do nobre, mas a sociedade não lhe permitia esquecer. A proposta de casamento feita a Miranda Cameron surpreendera a todos. Afinal, o duque havia jurado não se casar outra vez, desde a morte da esposa Elizabeth, ao dar à luz o primeiro filho que nascera sem vida. O povo tinha imaginado que a beleza da moça fosse o motivo da repentina decisão. Mas não o era. Phillip vira em Miranda uma semelhança muito grande com a falecida esposa, e, de forma inconsciente, havia fantasiado uma vida como a que tivera com Elizabeth. E esse fora o maior erro de sua vida. Desde o acontecido, o nobre retomou a decisão de permanecer viúvo, apesar dos constantes arranjos das casamenteiras que minavam a sociedade londrina.
Phillip não se importava mais com o título nem se preocupava em gerar um herdeiro. Caso algo lhe acontecesse, o primo o sucederia. E, pelo que conhecia dele, daria um excelente duque. Pensando por esse prisma, Phillip conseguira manter a paz de espírito que tanto almejava desde a perda da esposa. Assim, havia decidido sua vida de maneira definitiva. Espere, Colster. A voz de Heaton soou às costas do duque. Phillip estacou. Conhecia Heaton desde os tempos de colégio e o considerava um bom amigo. Os pais de ambos eram inseparáveis e realizaram juntos numerosas missões diplomáticas. Além da amizade, também o considerava inteligente. Valorizava seus conselhos quando actuava na Casa dos Lordes. Como está, Vossa Alteza? Muito bem, Heaton, respondeu Phillip, gesticulando para que o amigo o acompanhasse. Minha carruagem está logo à porta. Posso oferecer-lhe transporte? Aceito a gentileza. A minha ficou no clube. Não quer juntar-se a nós? Adoraria. Mas, no momento, tenho outros planos, desculpou-se Phillip. O olhar de Heaton revelava que sabia a verdade por trás da recusa. Tem medo de conhecer alguém que possa interessá-lo? Não. Heaton ergueu as sobrancelhas. Cuidado para não se tornar um eremita. A observação trouxe desconforto a Phillip, que não poderia negar a verdade. Porém, disfarçou, mudando de assunto: o que acha de..., Heaton o interrompeu com um leve toque no braço. Droga! Lá está Monarch!, exclamou o amigo, revirando os olhos. Vamos tentar despistá-lo.
Monarch?, indagou Phillip, vistoriando com o olhar os homens acotovelados na saída do Parlamento. Não o conhece?, sussurrou Heaton. Chegou recentemente de Edimburgo. Herdou o título e agora faz parte da Câmara dos Lordes. Trata-se de um revolucionário idealista. E está ansioso para conhecê-lo. Phillip desacelerou o passo. Ansioso por me conhecer? Seu pai não foi um dos primeiros defensores dos Clearance? Pois é. Monarch pretende convencê-lo a apoiá-lo na mudança de determinadas leis. Phillip precisou de um tempo para aclarar as ideias. Clearance? Refere-se àqueles proprietários de terras que despejaram os colonos? Mais ou menos isso. É uma questão escocesa. Heaton esclareceu de forma rápida, ao perceber a aproximação do rapaz de quem falavam. Monarch aparentava uns vinte e dois anos. Uma mecha dos cabelos lisos e ruivos quase lhe encobria o olho direito, emprestando-lhe um ar de adolescente. Phillip o observou com cuidado e pressentiu a imagem de um defensor da justiça social. Os experientes e sagazes homens do Parlamento inglês acabariam com ele em dois minutos. Lorde Heaton!, exclamou, Monarch com voz trémula. Olá, Monarch, cumprimentou Heaton e prosseguiu, indiferente, acompanhado de Phillip. O jovem escocês, no entanto, apressou-se em barrar-lhes o caminho, posicionando-se à frente do duque. Permita que eu me apresente, Alteza? Ouvi muitos elogios a respeito do grande duque de Colster!, exclamou o jovem, estendendo-lhe a mão. É uma enorme honra conhecê-lo pessoalmente, finalizou, ainda inseguro. Phillip notou que Monarch não tinha sotaque escocês. Com certeza, fora educado em escolas inglesas. No entanto, lutava por causas da Escócia, o que era intrigante. Heaton mostrou-se irritado com a audácia do jovem e estava a ponto de repreendê-lo, quando viu Phillip apertar a mão estendida. Como vai? Soube que é novo aqui. Monarch corou. É verdade. Então, seja bem-vindo. Obrigado, Alteza. Heaton interveio: podemos ir agora, Colster? Sim. Antes preciso pegar meu chapéu, respondeu o duque, acenando para o encarregado da guarda de pertences pessoais. O criado trouxe-lhe o chapéu de abas largas e agradeceu com uma reverência quando o duque o agraciou com alguns trocados. O porteiro uniformizado que vigiava a saída para a St. Margaret Street abriu a porta para conceder-lhes passagem. Porém, antes que a cruzassem, Monarch, insatisfeito com a rápida conversa com o duque, insistiu: por favor, Alteza. Necessito de um minuto do seu precioso tempo. Phillip estacou. Dessa vez, contrariado. Não estava disposto a falar sobre factos que envolveram os Clearance, naquele momento. Aqui, não, disse o duque em voz baixa. Marque um horário com o meu assistente Freedman. Não posso esperar, Alteza. Recebi uma chamada e devo partir o mais rápido possível. Minha sogra está muito doente. Lamento saber disso, interveio Heaton. Mas sua entrevista com o duque terá de esperar. Phillip voltou a se encaminhar para a saída. Mas o escocês não desistia. Então, elevou o tom de voz: há pessoas morrendo, Alteza. Mulheres e crianças famintas. Precisa ajudá-las! Phillip suspirou. Heaton tinha razão. O escocês era muito inconveniente. Entretanto, apesar do aborrecimento, procurou falar em tom calmo e polido: o problema é entre os proprietários das terras e os colonos. Não é caso para os lordes. Quem melhor que o Parlamento para interferir?, argumentou Monarch. A situação é desesperadora. E Vossa Alteza é descendente de escoceses. Mas não possuo terras lá. Eu sei. Seu pai foi um dos primeiros a vendê-las». In Cathy Maxwell, Na cama do duque, 2006, Editora Nova Cultura, 2008, nº 1479, Ebook.

Cortesia de ENCultura/JDACT