sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Sociedades Secretas no 31. Philip Gardiner. «Eles apontam para significados ocultos a respeito de guerras nucleares e ditadores do Médio Oriente como se eles próprios tivessem recebido uma espécie de revelação divina»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Sem o trabalho árduo desses historiadores teria sido impossível escrever um livro como este, ainda que as suas conclusões estejam em flagrante contraste com a visão aceita. Devemos lembrar-nos de que muitos dos livros de história que hoje lemos foram escritos ou, no mínimo, os seus assuntos foram pesquisados durante uma Era Vitoriana de elevado Cristianismo, período em que qualquer teoria ou facto se inclinava a um ponto de vista cristão. Por exemplo, quando se descobriu que existiram antigos deuses crucificados anteriores a Cristo, eles foram ocultados, destruídos ou mesmo considerados prova de um conhecimento dado por Deus da futura crucificação de Cristo. Isso, com certeza, é um disparate completo, vindo de uma religião que foi, ela mesma, fruto de antigos cultos. Também precisamos compreender que muitos historiadores, artistas, construtores, políticos, religiosos e leigos quiseram passar a verdade adiante, mas não conseguiram. Elaboraram, então, criptogramas, códigos e simbolismos para que os seus pares e as futuras gerações decifrassem. A beleza de muitos desses símbolos está no facto de que a maioria já era conhecida e possuía significados ortodoxos, de modo que o sentido oculto poderia ser disfarçado com facilidade na religiosidade dominante.
Os símbolos estão escondidos ao nosso redor como uma sequência de pistas que levam a um tesouro. Entramos em contacto com eles em qualquer lugar a que formos, desde a arquitectura simbólica e os vitrais pintados das igrejas medievais até, por exemplo, o logotipo de uma empresa… O logo da minha própria empresa simbolizava a Transição de Fase, a mudança de uma substância noutra. Para uma empresa de marketing, era o ideal. Contudo, somente as pessoas que sabiam de tais coisas poderiam ver isso. Outras veriam apenas uma seta com uma linha ondulada. Ocultei uma figura simbólica num logotipo de uma empresa que, do contrário, parece comum. A humanidade usa essa linguagem subtil há milhares de anos. A cada geração, essa forma alternativa de comunicação desenvolveu-se e ficou cada vez mais complexa, tornando-se mais difícil de ser decifrada. O único meio de descobrir os segredos do simbolismo é separar, em cada pintura, edificação ou texto, todo e qualquer significado possível, bem como considerar tanto o povo que criou tais artefactos quanto a época em que viveram. Esses achados devem ser examinados, então, com base em factos históricos conhecidos, tais como informações arqueológicas.
Uma das maiores obras de simbolismo, em todos os aspectos, é a Bíblia. Para o estudioso que conhece os significados alternativos de alguns dos textos do Apocalipse, é óbvio, há muito tempo, que neles existem verdades escondidas. Para muitos outros, o princípio subjacente ao livro inteiro é astrológico-teológico, Jesus como o Sol, Maria como a Lua, e os 12 apóstolos são, assim, signos do Zodíaco. Mas existem tantas camadas ocultas mostrando que quaisquer números de significados são possíveis que é necessário nos lembrarmos de que mentiras também são ocultadas em códigos. É claro que, para acrescentar, existem centenas de textos e de assim chamados Evangelhos, escritos no mesmo período em que a Bíblia, que simplesmente nunca passaram no teste dos primeiros activistas cristãos e foram afastados da liturgia. Esses textos são válidos, da mesma forma, agora, para a história do homem; caso contrário, estaremos, mais uma vez, susceptíveis à manipulação dos que escolheram os conteúdos da Bíblia no passado.
É preciso também que tenhamos cuidado para não inferir demais dos textos, pois correríamos o risco de vê-los à luz da nossa própria sociedade moderna. Existem muitos exemplos recentes de livros nos quais estruturas e textos antigos são considerados evidências de visitas extraterrestres. Independentemente de qualquer outra interpretação mais terrena e de uma imensa falta de compreensão das tradições religiosas e culturais da época, essas evidências são eivadas por ideias ou teorias predeterminadas. Outro exemplo disso é como os modernos evangélicos utilizam o Livro do Apocalipse como prova do retorno iminente do Senhor. Eles apontam para significados ocultos a respeito de guerras nucleares e ditadores do Médio Oriente como se eles próprios tivessem recebido uma espécie de revelação divina. A verdade é que, como qualquer historiador lhe dirá, todas as gerações, desde que o Apocalipse foi escrito, afirmaram que o fim estava muito próximo. Isso é, em parte, da essência do Evangelho solar cíclico, completamente mal interpretado, como sempre. Todas essas falsas interpretações dificultam a interpretação do código em factos». In Philip Gardiner, Sociedades Secretas, colecção Millenium, Publicações Europa América, 2008, ISBN 978-972-105-876-7.

Cortesia de PEAmérica/JDACT