terça-feira, 17 de setembro de 2019

Isabel I. O Anoitecer de um Reinado. Margaret George. «Achei que essa fosse a sua função, disse Drake. Walsingham ficou mais tenso e disse: faço o melhor que posso com o que está ao meu dispor»

Cortesia de wikipedia e jdact

Isabel. Maio de 1588
«(…) Toda a frota?, perguntou Charles Howard. Isso nos deixaria desprotegidos. Se a Armada conseguir escapar, entrará aqui sem resistência alguma, afirmou, arqueando as sobrancelhas para expressar a sua preocupação. Charles era um homem calmo, diplomático, que conseguia lidar com personalidades difíceis, o que fazia dele um alto comandante ideal. Mas Drake era difícil de ser controlado e acalmado. Nós os encontraremos, disse. E, quando o encontrarmos, não poderemos ter poucos navios. Robert Dudley, conde de Leicester naquele ambiente formal, irritou-se com a afirmação e disse: preocupa-me mandar todos os navios de uma só vez. V parece uma velhota falando!, bradou Drake. Então somos duas velhotas, disse Knollys. Ele era reconhecidamente cauteloso e tinha muitos escrúpulos. Se fosse um monge, usaria uma camisa de silício com frequência para punir a si mesmo. A sua militância pelo protestantismo foi um bom substituto. Somos três, disse Burghley, unindo-se aos demais. William Cecil sempre defendeu uma estratégia defensiva, tentando manter tudo dentro das fronteiras inglesas. Tudo depende de recebermos informações precisas sobre quando a Armada sairá de Lisboa, disse o secretário Walsingham. Caso contrário, será um risco inútil e perigoso.
Achei que essa fosse a sua função, disse Drake. Walsingham ficou mais tenso e disse: faço o melhor que posso com o que está ao meu dispor. Mas não há meios para transmissão instantânea de notícias. Os navios são mais rápidos do que meus mensageiros. Ah, posso ver portos distantes, disse Drake com uma risada.
V não sabia disso? Sei que os espanhóis creditam a El Draque, o dragão, esse feito, disse Walsingham. Mas eles são ingénuos e simplórios em geral. Concordo! Chega dessa conversa. Quais são as outras opções de defesa? Proponho dividirmos a frota em duas: esquadrão oeste para vigiar a entrada do Canal e esquadrão leste para vigiar o estreito de Dover, explicou Charles Howard. Sei qual é o plano do inimigo, disse Drake, interrompendo Charles. A Armada não está vindo para lutar. O exército de Parma de Flandres fará isso, a Armada os escoltará pelo Canal. Vão vigiar os barcos cheios de soldados a fim de encurtar a travessia. São somente trinta e poucos quilómetros. O exército inteiro poderia fazer a travessia entre oito e doze horas. Esse é o plano deles! Drake bradou, olhando em redor com os olhos claros penetrando nas dúvidas dos conselheiros, e continuou a argumentar: devemos desarmar a frota. Devemos impedi-los de aportar na Costa de Flandres. Os nossos aliados holandeses nos ajudarão. Eles já vêm impedindo Parma de conseguir um porto para ancorar há anos e podem atrapalhar quando tentarem usar os canais menores. A imensa frota da Armada, destinada a assegurar uma travessia segura, pode ser também a sua ruína.
Ele fez uma pausa e continuou a dizer: claro que um plano alternativo seria conquistar a Ilha de Wight do nosso lado do Canal e construir uma base lá. Mas, se passarem por ela, só avistarão um porto novamente quando chegarem a Calais. O nosso papel é apressá-los. Isto é, obviamente, supondo que consigam chegar lá. Agora, se seguirmos o meu plano original para interceptá-los... Levantei a mão para calá-lo por um instante e disse: mais tarde. Por enquanto temos que decidir a implantação dos nossos recursos gerais. Assim, almirante Howard, V recomenda dois esquadrões separados de navios? Não seria melhor posicioná-los todos na entrada do Canal?» In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN 978-858-130-076-4.

Cortesia de GeraçãoE/JDACT