segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D. Afonso V (1448-1481). Douglas M. Xavier Lima. «Ao analisar o período do pós-guerra, Jean Thobie assinalou que na França a área assumiu a influência do método marxista aplicado à história, as críticas do movimento dos Annales…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Doutor Douglas Xavier Lima

«(…) Stéphane Péquignot lembra que foi na sociedade oitocentista que as pesquisas, tomando como base os trabalhos de Otto Krause e Adolf Schaube, inclinaram-se ao problema das origens do direito internacional e, principalmente, das embaixadas permanentes. Formou-se, segundo o autor, o ponto de ruptura entre a diplomacia medieval, caracterizada pelas embaixadas ad hoc, e a diplomacia moderna, marcada pelas representações permanentes. A partir destas delimitações e pautada numa história événementielle a área afirmou-se e fundou as bases que seriam alvo de crítica após a Primeira Guerra Mundial. Foi em plenas Grandes Guerras que as Relações Internacionais se estruturaram como campo académico e desprenderam-se da História Diplomática. Tal movimento direccionou a área aos problemas da contemporaneidade, em especial à compreensão da natureza da guerra a fim de promover a paz entre as nações. Esse período pode ser sintetizado na criação da cátedra Woodrow Wilson de Política Internacional, em 1919, na Universidade de Gales, com académicos preocupados em livrar a humanidade de novas guerras e promover a paz através do estudo das relações internacionais, e nas publicações de Edward Carr, The Twenty Year’s Crisis – 1919-1939 (1939), e Hans Morgenthau, Politics Among Nations (1948), que sustentavam que a nova área deveria se concentrar no estudo das relações de poder entre os Estados, perspectiva que fundamentaria a teoria realista das Relações Internacionais.
Ao analisar o período do pós-guerra, Jean Thobie assinalou que na França a área assumiu a influência do método marxista aplicado à história, as críticas do movimento dos Annales, e os debates sobre as origens da guerra. Nesse contexto francês destacam-se dois aspectos que tiveram impacto na historiografia e implicações nos estudos medievais. Em primeiro lugar, a ascensão dos Annales. Lucien Febvre, em Contra a história diplomática em si. História ou Política? Duas reflexões: 1930, 1945, favoreceu o recuo da temática entre os historiadores, formulando as bases da crítica a uma História Diplomática restrita aos documentos oficiais e aos usos protocolares, caracterizada por não avançar em problemas mais profundos, a mesma profundidade proposta pelos Annales. No bojo desse movimento lembra-se ainda da centralidade adquirida pela história económico-social entre os anos 30 e 60, expressa na produção de Braudel e Labrousse, na qual as anteriores preocupações da diplomacia são deixadas de lado.
Em seguida, recupera-se a senda aberta por Pierre Renouvin, que se inclinou a reflectir acerca das forças profundas, por exemplo, geografia, demografia, economia e mentalidades colectivas, envolvidas nas relações internacionais. O autor, ao organizar a colecção Histoire des Relations Internationales, nos anos 50, e, juntamente com Jean-Baptiste Duroselle, publicar a obra Introduction à l’histoire des Relations Internationales (1964), favoreceu a aproximação entre o movimento francês de mudanças historiográficas e o campo das RI. Acrescenta-se que Renouvin confiou a François Ganshof a redacção do primeiro volume da Histoire des Relations Internationales, permitindo que o medievalista desenvolvesse um expressivo ensaio acerca da Idade Média, estudo esse que permanece um clássico na historiografia e será retomado mais à frente. Num balanço recente das correntes historiográficas francesas dos séculos XIX e XX, Pierre Renouvin aparece descrito como o terceiro grande mestre da história do pós-guerra [ao lado de Braudel e Labrousse] (...). O verdadeiro fundador de uma história renovada das relações internacionais, especialmente por sua noção de forças profundas. No que pese os limites de tal afirmação fora do ambiente académico francês, observa-se que a inclinação de Renouvin reorientou as preocupações de pesquisa na França, contribuindo para a passagem da História Diplomática para a história das Relações Internacionais, assim como constituiu o campo das RI através do diálogo com as demais ciências sociais, com ênfase especial nos problemas económico-sociais». In Douglas M. Xavier Lima, A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D. Afonso V (1448-1481), Tese de Doutoramento História Medieval, Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, Niterói, 2016.

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