sábado, 21 de dezembro de 2019

Poemas de Alcipe. Marquesa de Alorna. «Do fado injusto choro o delírio, e o meu martírio grava Amor em meu peito com bem custo»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…)
Pássaros
Sensíveis Passarinhos, até quando
Nesses brandos gorjeios que formais
Haveis de copiar meus tristes ais?
Hei de viver convosco suspirando?
Convosco falam
Estes gemidos,
Que, enternecidos,
Grutas, penhascos, montes, tudo abalam.

Quanta inveja vos tenho, ternas aves,
Que explicais, nesse canto delicado,
Talvez o mesmo que eu num triste brado,
E fazeis vossas mágoas mais suaves!
Oh! se algum dia
Eu, suspirando,
Tornasse brando
O motivo do mal que me agonia!...

Nos salgueiros, nas frescas bordas de água,
No tosco seio de algum tronco informe,
Asilo a vosso gosto achais conforme,
E eu choro em desamparo a minha mágoa.
Do fado injusto
Choro o delírio,
E o meu martírio
Grava Amor em meu peito com bem custo.

Bem que, aves, fôsseis ninfas engraçadas,
E que o fogo amoroso ou terna história
De vós mesmas conserve só memória,
Nos gestos infelices transformadas,
Cortais libertas,
Gemendo, os ares,
E os meus pesares
Eu choro entre prisões, que, ó Fado, apertas!

Se a filha de Corônis sofre a pena
De ver perdido o gesto encantador,
Por clamorosos ais a mágoa, a dor
Faz ouvir a que Palas a condena.
[…]
Poemas de Leonor Almeida Portugal Lorena Lencastre, (1750 – 1839), in Poemas de Alcipe’

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