segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Poesia. Inês Lourenço. «Neste simulacro de horizonte onde principiam e finalizam os meus dias, para além da barra de inox e dos tubos de vermelho…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…)
Ephebo
«Sim à harmoniosa proporção,
à linha do pescoço na teia
esvoaçante dos cabelos, ao dorso
flexível, no ímpeto animal dos passos.
Sim ao desafio fascinado dos olhos,
na incerteza nocturna do horizonte».

Pentagrama
«Uma estrela é um corpo
em estado de brilho, a cinco
mil graus de temperatura. O brilho
do núcleo (um fluído ou um plasma?)
protege-se até chegar à superfície.
Que parte dele fica aprisionada»

A Cama Voadora de Frida Kahlo
«Neste simulacro de horizonte
onde principiam
e finalizam os meus dias,
para além da barra de inox
e dos tubos de vermelho
sanguíneo que atravessam
o azul mais intenso
da penugem de uma ave exótica.
Este cheiro forte das tintas
encobre o do meu corpo,
que deixou de me pertencer
para entrar no espelho cortante
do tecto, que fito
no umbral do quadro
onde provoco o negro
das minhas sobrancelhas
e a espessura dos matizes.
Os meus seios
que ficaram incólumes
no atrito das chapas,
transformaram-se em dálias
enormes, da cor do leite
e os monstros recuam inertes
por entre vestidos brancos
e rosa, e as flores do México
acesas nos meus olhos»

In Cidália Dinis, Corpo Refectido, Inês Lourenço, Revista da Faculdade de Letras, Línguas e Literaturas, II Série, Volume XXIII, Porto, 2006, [2008], Wikipedia.

Cortesia de RFLPorto/JDACT