domingo, 2 de fevereiro de 2020

História e Declínio de Três Povoações na Fronteira. Carlos E. Cruz Luna. «Em 1 de Junho de 1512, Ouguela recebeu uma nova carta de foral (reinado de Manuel I). Claro que Ouguela, ou melhor, as suas gentes, terão participado na gesta dos descobrimentos iniciada no século XV»

Cortesia de wikipedia e jdact

Ouguela
«Quem hoje se afasta de Campo Maior para norte, ou nordeste, encontra, a cerca de 10 quilómetros, uma povoação, Ouguela, de pouco mais de 60 habitantes. Um castelo de grandes dimensões, e que desde logo nos surpreende, domina a paisagem. Trata-se de mais um caso de uma povoação que já teve alguma grandeza, e que conheceu um grande declínio, um pouco como sucedeu com Juromenha, e, em menor escala, com Terena, para já não falar de outras. Algumas fontes antigas dizem que ali, existiu uma povoação romana chamada Budua, e que nos tempos visigodos, e até talvez árabes, se chamava Niguella. Não se sabe se há fundamentos para tais afirmações ou se estamos perante lendas.

Por volta de 1220 ou 1230, a região de Ouguela, bem como Campo Maior, foi conquistada por leoneses. As duas localidades tornaram-se aldeias de Castela-Leão, com algumas situações de conflito sem grande importância, até que, em 1297, pelo tratado de Alcañices, passaram para Portugal, tal como, na região, Olivença (e Táliga). Ouguela (assim se passou a chamar) recebeu foral do mesmo tipo do de Évora, logo em 1298. Todavia, com Campo Maior e Olivença, dependeu do bispado de Badajoz até 1415. O castelo foi mandado reconstruir em 1300 (o que indica que já existia algo de fortificações no local, a não ser que se trate dum erro). Outras fontes indicam 1310, o que parece ser menos provável.
A importância de Ouguela, estava na sua posição estratégica, já que defendia um dos caminhos de entrada em Portugal, primeiramente conta Leão e Castela, depois contra a sua sucedânea Espanha. Ouguela quase não é citada na crise de 1383-85, presumindo-se que terá sido anulada por Campo Maior, que se colocou do lado de Castela. Portanto, só terá regressado à coroa portuguesa entre 1348 e 1390. É muito possível que se tenham desenrolado combates na região, e que a população tenha sofrido com isso. O seu castelo é várias vezes reforçado nos séculos XIV e XV, o que significa que mantinha a sua importância estratégica.
Em 1475, segundo a lenda e alguns documentos, ter-se-á travado um estranho combate singular entre João Silva, alcaide-mor de Ouguela, e João Fernandes Galindo (Juan Fernández Galindo), alcaide-mor de Albuquerque (Espanha). Parece que um contingente castelhano penetrara na vila. Ambos morreram dos ferimentos sofridos, tendo em 1551 Diogo Silva, neto do alcaide-mor então falecido, a caminho do Concílio de Trento, mandado colocar no local de combate uma cruz comemorativa, hoje no museu de Elvas (Cruz de Galindo). Não se sabe o que haverá de fantasioso em tal episódio.
Em 1 de Junho de 1512, Ouguela recebeu uma nova carta de foral (reinado de Manuel I). Claro que Ouguela, ou melhor, as suas gentes, terão participado na gesta dos descobrimentos iniciada no século XV, e terão vivido a decadência portuguesa da segunda metade do século XVI e do século XVII. Em 1527, o numeramento (censo) de Portugal dava a Ouguela 144 fogos (cerca de 600 a 650 habitantes), ao lado de Campo Maior (cerca de 2.900 habitantes), Alegrete (cerce de 1.000 habitantes), Arronches (cerca de 3.300 habitantes), Elvas (8900 habitantes), Olivença (4.900 habitantes), Juromenha (600 habitantes), Terena (600 habitantes também), Vila Viçosa (3.000 habitantes), Borba (3800 habitantes), Estremoz (4.500 habitantes), Marvão (1.700 habitantes), Monforte (2.500 habitantes).

Séculos XVI e XVII
A guerra da restauração (1640-1668) levou novas agruras para a sua população. Datam dessa época alguns troços de muralha com os primeiros trabalhos em 1647, mas que se estenderam pelo século XVIII. Logo em 1642, Ouguela fora atacada, mas o exército espanhol não levara a melhor, conseguindo a vila resistir vitoriosamente. Um episódio semelhante ocorreu em 1644, mas aí os combates foram bem mais ferozes. A população resistiu com bravura, tendo várias lendas nascido na época». In Carlos E. Cruz Luna, História e Declínio de Três Povoações na Fronteira, Wikipédia.

Cortesia de Wikipédia/JDACT