domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Soldadinho Novo. «Versão de Carvalhal, freguesia do Salvador da Aramenha. Concelho de Marvão. Recitada por D. Maria Josefa Baptista, nascida em 1919. Recolhida por Ruy Ventura. “Se tu és a minha amada, porque não olhas p'ra mim? Os olhos com qu' eu te via já de terra os enchi. Se és a minha amada, beija-me agora aqui»

Cortesia de wikipedia

Soldadinho Novo

Adeus soldadinho novo que tão triste andas na guerra.
Ou te lembra pai ou mãe ou alguém da tua terra.
o me lembra pai nem mãe, nem ninguém da minha terra,
só me lembra a minha amada, que era uma linda donzela.

Toma lá este cavalo, vai a tua amada ver,
mas no fim de sete meses há-des mo cá vir trazer.
Soldadinho, de contente, no cavalo s' amontou.
Chegando lá muito adiente, o Diabo o incuntrou.
o te espantes cavalo branco, cavaleiro que nele vem.

o te espantes cavalo branco, cavaleiro que nele vem,
aqui tens a tua amada, que t' amou com grande bem.

Onde vás ó soldadinho, por que vás todo a termer?
Deixa-me lá ó diabo, vou a minha amada ver.
Tua amada já é morta. Já é morta, bem na vi.
Dá-me os sinais que levava, que me quero fiar em ti.
Levava vestido d' ouro, camisa de carmesim.

Os padres qu' àcompanhavam não tinham conto nem fim.
Forem a abrir a cova cá no centro do jardim,
a enxada era de prata, o cabo de marafim.
Mas seja o que Deus quiser, eu p'ra diente sempre vou.
A meio da sua jornada, um nuvraceiro s' armou.
o t' espantes cavalo branco, cavalheiro que nele vem.

Aqui tens a tua amada que t' amou com grande bem.
Se tu és a minha amada, porque não olhas p'ra mim?
Os olhos com qu' eu te via já de terra os enchi.
Se és a minha amada, beija-me agora aqui.

Os lábios com qu' eu te beijava, já a cor deles perdi.
Vai-t' imbora, vai-t' imbora, vai-t' imbora amor eterno.
Já sinto por mim puxar lá das cordas do Inferno.
Eu hei-d' ir àquele outêro, eu àquele outêro hei-d' ir.
Tanta vez t' hê-de bradar, até que m' há-des acudir.

Com amizade.
Cortesia de Ruy Ventura
Publicada no suplemento cultural Fanal, do jornal O Distrito de Portalegre, nº 1/JDACT