sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Discurso da Resistência ou a Resistência do Discurso. Adília Ferreira. « Existiu a preocupação de caracterizar o contexto social e político anterior a 1974 e produzir alguma teorização sobre o movimento de oposição. A Liberdade. O conceito de oposição está sempre presente, sendo, a partir do qual, os passos metodológicos gravitaram»

Cortesia de wikipedia

Os assistentes sociais no movimento de oposição ao Estado Novo (1969-1973)
Dos propósitos
«O artigo que agora se apresenta tem subjacente a dissertação de Mestrado defendida no passado Março de 2004. Identificando algumas das palavras-chave, com o discurso da resistência ou a resistência do discurso, pretendeu-se uma pequena aproximação ao passado recente, mas agora, assumindo formas equidistantes da imagem conservadora do Serviço Social, no seio do Estado Novo. O Serviço Social surgiu incorporando discursos. O título o discurso da resistência ou a resistência do discurso, mais não pretende reflectir que um tipo de posicionamento rompendo com uma resistência discursiva de tipo conservador, para outro, de esforço de oposição aliado ao discurso da própria resistência. Aqui o conceito de resistência mais não serviu que para imprimir um maior impacto às acções oposicionistas, em toda a sua amplitude.
A palavra ou as palavras encerram em si conceitos que se reportam a discursos e que, por sua vez, aludem a processos, ideologias, comportamentos, éticas, movimentos e instituições. Se existiu um discurso oficial no seio da profissão de Serviço Social, acredita-se que, paralelamente, tenham proliferado muitos discursos não oficiais, praticados na singularidade, sendo estes, determinantes à alteração do curso da história. Focou-se o fluxo da oposição para nele desbravar assistentes sociais com participação cívico-política. Descobrir os seus segmentos de inserção foi a proposta, sendo que, imediatamente, surgiu o movimento CDE, através dos actos eleitorais de 1969 e 1973, para a Assembleia Nacional e os seus efeitos multiplicadores ao nível da contestação social.
Ao edificar-se a história do Serviço Social, abrem-se novas potencialidades ao perceber
que, apenas por esta lupa se poderão observar recantos mais ou menos obscuros e esquecidos, introduzindo até, alguma justiça face a factos tornados senso comum como, por exemplo, decorrente de uma ligação lógica entre a profissão e o Estado Novo, representar os assistentes sociais como um massa acrítica e apolítica e, sobretudo, portadora de uma neutralidade atrofiante.

Quanto ao ponto de partida da investigação
Para a construção do conhecimento é essencial este dialogar com a realidade do tempo passado muitas vezes oculta e ocultadora. Desbravar um plano de discursos e de intervenções cívicas daqueles que se distinguiram do papel ideologicamente instrumentalizador, dominante na profissão, foi a proposta. Esta confluência de interesses introduziu o período anterior a 1974 onde, o Serviço Social se encontraria, supostamente, e num primeiro acercar, despojado de uma perspectiva política, tanto no sentido partidário, como, concebendo política como toda e qualquer acção crítica como alternativa a uma ordem, não se encontrando por isto, o Serviço Social inscrito, por sectores ou pessoas, nos movimentos oposicionistas ao Estado Novo.
Definiram-se os seguintes eixos de análise que acabaram por corresponder, genericamente, à estruturação da própria dissertação:

Existiu a preocupação de caracterizar o contexto social e político anterior a 1974 e produzir alguma teorização sobre o movimento de oposição;
Os processos eleitorais para a Assembleia Nacional de 1969 e 1973, nas suas causas e consequências;
Analisou-se brevemente o Serviço Social para se identificar a emergência de uma nova consciência, por via da inserção dos profissionais no movimento de oposição, nomeadamente, através dos seguintes eixos de análise: Movimento CDE; Associativismo, através do sindicato dos Profissionais de Serviço Social; Prática e formação profissional identificando-se, neste plano, os aspectos germinais de um movimento de crítica; Inserção no espectro politico-partidário; Movimentos de solidariedade como a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e as vigílias pela Paz; Cooperativas culturais e outras associações, como a Pragma e a Confronto; Movimentos de mulheres, estudantes e jovens.

Tecendo considerações sobre os conceitos
Deambular pela genealogia da liberdade foi a proposta subjacente que implicou abordar contextos antagónicos, inscritos na repressão e nos processos de luta, de oposição. Pois, conforme defende Touraine, para que um movimento se forme não deverá unicamente opor-se a um controle ou dominação, mas reivindicar em nome de um atributo positivo:
  • a Liberdade. O conceito de oposição está sempre presente, sendo, a partir do qual, os passos metodológicos gravitaram.
No acto de investigar, houve que assentar alguns pressupostos sobre o que se considera movimento de oposição, estabelecendo-se uma aproximação à teoria dos movimentos políticos». In Adília Ferreira, Wikipédia, bibliografia de Alcina Martins, A formação Académica dos Assistentes Sociais, uma retrospectiva crítica da institucionalização do Serviço Social no Estado Novo, revista Intervenção social.

Cortesia de Wikipédia/JDACT