segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Príncipe dos Poetas Portugueses. Camões. «Francisco Barreto, bastante severo, quis assinalar o seu governo pela reorganização dos serviços públicos. Foi nesta crise que escolheu Camões para provedor-mor dos defuntos e ausentes de Macau»

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(Continuação)

«A pobre senhora dispunha somente duns pequenos recursos que seu marido havia trazido da viagem. Manuel de Portugal, sabendo desta dolorosa situação, foi ao paço com Afonso de Noronha, impetrar a clemência real, para que Luís de Camões ficasse em Lisboa, mas só puderam conseguir, que fosse perdoado com a proibição formal de aparecer nos paços, quer de el-rei quer da sua real família, sob pena de ser mandado em ferros para o Brasil, ficando-lhe até fora dos paços proibido de se incorporar com os fidalgos da Corte em qualquer acto público. Camões não queria aceitar semelhante perdão, mas o amigo Manuel de Portugal pediu-lhe que o não rejeitasse, em nome de sua mãe viúva e sem ânimo. Camões resignou-se, e começou a trabalhar na sua imortal obra, Os Lusíadas, poema que lhe resgataria talvez as culpas de que o acusavam, e lhe abriria novamente as portas do paço, porque sendo o príncipe João, filho de João III, muito amante da poesia, contava com a sua protecção, se pudesse conseguir ler-lhe o poema. Assim se passaram dois anos com muitos sacrifícios; D. Ana de Sá restabeleceu-se, e Camões tinha já muito adiantados Os Lusíadas.
Deu-se, porém, um novo incidente, e bem funesto. Era o dia do Corpo de Deus de 1559; quando Gonçalo Borges, moço dos arreios de João III, passava no Rossio para a rua de Santo Antão, dois embuçados riram-se do seu garbo, e acharam-se dali de repente as espadas desembainhadas. Por fatalidade apareceu Camões, e conhecendo os embuçados como seus amigos, atirou uma espadeirada a Gonçalo Borges, que o fez cair do cavalo, já moribundo. Então é que ficou irremediavelmente perdido; foi preso e encerrado na cadeia do Tronco da Cidade, onde jazeu perto dum ano, saindo a 7 de Março de 1553, livre por perdão do próprio Gonçalo Borges, que conseguira restabelecer-se. Tinha, porém, de partir para a Índia na armada, a 24 desse mês, capitaneada por Fernão Álvares Cabral, embarcando na nau Bento. Uma terrível tempestade destroçou a armada, a apenas a nau S. Bento pôde chegar em princípio de Setembro desse ano à Índia, sem ter aportado a Moçambique. Entrando em Goa partiu logo para uma expedição perigosa contra a Chembé; em 1551 esteve no largo e doentio cruzeiro do Mar Roxo junto ao Monte Félix, regressando a Goa na época dos festejos pela nomeação do governador Francisco Barreto, em 1555, em que cooperou com o seu Auto de Filodemo, e em que contraiu os ódios que o fizeram ser mandado para Macau. Segundo os cronistas, a vida em Goa era então muito dissoluta, e Francisco Barreto, bastante severo, quis assinalar o seu governo pela reorganização dos serviços públicos. Foi nesta crise que escolheu Camões para provedor-mor dos defuntos e ausentes de Macau, lugar judicial administrativo, que longe da metrópole das colónias só poderia ser exercido por um homem conhecedor de direito, valente e honrado. Camões partiu para Macau em 1556, regressando a Goa no fim de dois anos em 1558, debaixo de prisão, por ser vítima de novas intrigas. Durante o tempo que esteve em Macau continuou escrevendo o seu imortal poema, vivendo na célebre e memorável gruta, que fica colocada dentro duma quinta, a pouca distância daquela cidade. No centro vê-se hoje o busto de Camões, sobre um pedestal; o busto foi modelado por Bordalo Pinheiro, e fundido no arsenal do exército de Lisboa. No regresso a Goa naufragou na foz do rio Mecong, nas costas do Cambodja, onde se salvou a nado, salvando também a odisseia das glórias portuguesas. Ao chegar a Goa, foi logo recolhido à cadeia, a ali recebeu então a notícia da morte prematura de D. Catarina de Ataíde, sucedida em 1556. A 3 de Setembro de 1558 sucedeu no governo da Índia o vice-rei Constantino de Bragança, e o poeta foi logo posto em liberdade. Em 1561 houve novo vice-rei, o conde de Redondo, que soube aproveitar-se do talento de Camões para trabalhos da sua secretaria. A situação económica do poeta não melhorara, e no ano de 1562 encontramo-lo preso por dívidas a requerimento de Miguel Rodrigues, de alcunha o Fios Secos. Um gracioso memorial dirigido ao conde de Redondo lhe fez recuperar a liberdade. Este vice-rei faleceu em Fevereiro de 1564, e Camões gozando vida mais sossegada, continuou a empregar-se no serviço das armas». In Enciclopédia, Wikipédia.

continua
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