quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Isabel de Coimbra (1432-1455). A Rainha Triste. Ana Maria Rodrigues. «Pouco se sabe sobre a vida de Jaume II e Isabel de Aragão, além de que residiram em Balaguer, nesse tempo capital do condado de Urgell, no chamado ‘Palau Formós’. Jaume desempenhou importantes funções durante o reinado de Martí, ‘o Humano’»

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Educada para reinar. Uma infância coimbrã
«Isabel era a terceira filha do infante Pedro, duque de Coimbra, e de D. Isabel de Urgell. Do pai, sobejamente conhecido, da mãe, apenas sabemos que era filha de um dos candidatos ao trono aragonês derrotados por Fernando de Antequera, pai de D. Leonor de Aragão. Comecemos por essa mãe quase ignorada entre nós, o que nos obrigará a regressar a Aragão e às primeiras décadas do século XIV.

A mãe, primogénita dos condes de Urgell. A avó infanta, Isabel de Aragão
Na verdade, não era apenas do lado do pai que Isabel estava próxima da realeza. A sua mãe descendia da Casa Real de Aragão de ambos os costados, pertencendo à nobreza titular do mais alto nível da Catalunha.
A avó materna de Isabel chamava-se, tal como a mãe, Isabel, nome muito comum na Casa Real de Aragão (basta lembrarmo-nos que outra princesa aragonesa que reinou em Portugal, a Rainha Santa, tinha o mesmo nome). Nascida em 1377, era filha do rei Pere IV de Aragão e de sua quarta esposa, Sibil-la de Fortià. Pere IV o Cerimonioso, tinha-se consorciado inicialmente com Maria de Navarra, falecida em 1347, de quem teve três filhas, Constança, Joana e Maria, e um filho que morreu pouco depois do nascimento. Como a lei sucessória de Aragão não permitia as mulheres o acesso ao trono, o monarca apressou-se a casar segunda vez, nesse mesmo ano, desta feita com Leonor de Portugal, filha de Afonso IV, com o objectivo de obter um varão; mas esta princesa morreu na Peste Negra em 1348 sem ter sequer engravidado. Pere IV casou-se de novo, desta vez com Elionor da Sicília, que lhe deu o tão desejado herdeiro, Joan, e ainda Martí, Alfons (falecido na infância) e Elionor. Morta Elionor da Sicília em 1375, o soberano ainda contraiu um último matrimónio, não já com uma princesa estrangeira mas com uma jovem viúva pertencente à baixa nobreza provincial, Sibil-la de Fortià, que ele havia tomado primeiro como concubina. Esta, não só adicionou dois infantes, Isabel e Alfons (também morto na infância), à família real como obteve do esposo numerosos bens e privilégios para si própria e para os seus familiares e amigos, causando a indignação da alta nobreza e do próprio herdeiro do trono, que se considerava lesado pelos excessos de liberalidade de seu pai. Quando Pere IV ficou doente, em 1387, e antes mesmo de ter exalado o seu último suspiro, Sibil-la e seus parentes e protegidos fugiram da corte, seguindo o futuro Joan I e o infante Martí no seu encalço. Todos foram presos, alguns julgados e condenados; a rainha e seu irmão, contudo, foram libertados e receberam de volta uma parte dos bens que lhes haviam sido oferecidos pelo defunto. O novo rei também não repudiou meia-irmã, que dotou de casa própria e para quem negociou um enlace à altura do seu estatuto de filha de rei.
Com efeito, Isabel casou a29 de Junho de 1407, em Barcelona, com o conde Jaume II de Urgell, uma das mais importantes figuras da nobreza da Coroa de Aragão. Este concedeu-lhe, a título de arras, 2000 florins aragoneses garantidos pelas rendas de um conjunto de baronias na Catalunha e no reino de Valencia, enquanto a infanta trouxe o dote considerável que o pai lhe legara em testamento: 50 000 libras barcelonesas, de que ela deveria deixar metade ao filho que sucedesse no condado e a outra metade à restante prole; se não viesse a ter descendentes, poderia dispor livremente de 20 000 libras e o resto seria devolvido a quem então fosse rei de Aragão.

O avô Jaume, o Desditoso, conde de Urgell
O condado de Urgell era um dos mais antigos da Catalunha, tendo, no seu início, estado na dependência da Coroa franca. Quando o poder dos carolíngios declinou e o império se dissolveu, em finais do século IX, o conde de Urgell, tal como os seus vizinhos, passaram a ser independentes e governados por dinastias próprias. A terceira (e última) dinastia dos condes de Urgell teve a sua origem na entrega do condado, em 1314, por Ermengol X de Urgell ao rei Pere III de Aragão, com a condição de o filho segundo deste, Alfons, casar com sua sobrinha-neta Teresa de Entença. Quando, por renúncia de seu irmão Jaume II de Aragão, o infante subiu ao trono com o nome de Alfons IV para preservar a autonomia do condado, entregou-o ao seu segundo filho, também chamado Jaume, que aos 8 anos se tornou, assim, no conde Jaume I de Urgellt. Jaume II de Urgell era seu neto, filho de Pere II de Urgell e de Margherita de Montferrato, filha de Giovanni II de Montferrato e de Isabel de Mallorca, por sua vez filha de Jaume III de Mallorca e da infanta Constança, irmã do rei Pere IV de Aragão e de Jaume I de Urgell. O avô materno de Isabel de Coimbra descendia, pois, dos reis de Aragão quer por parte do pai quer da mãe.
Pouco se sabe sobre a vida de Jaume II e Isabel de Aragão, além de que residiram em Balaguer, nesse tempo capital do condado de Urgell, no chamado Palau Formós. Jaume desempenhou importantes funções durante o reinado de Martí, o Humano, que tinha muita simpatia por seu primo e cunhado, e o nomeou lugar-tenente de Aragão em 1408. Em retribuição, o conde escolheu o soberano para padrinho de sua primogénita, Isabel, que nasceu em Agosto de 1408. Seguiram-se, como filhas do casal, Elionor em 1409 e Joana em 1413, que chegaram à idade adulta; entre estas duas, o casal pode ter tido outras meninas, mortas à nascença ou durante a infância, pois um autor fala também de Beatriu, Felipa e Caterina, omissas nas fontes que consultámos». In Ana Maria S. A. Rodrigues, As Tristes Rainhas, Rainhas de Portugal, coordenação de Ana Maria S. A. Rodrigues, Isabel Guimarães Sá, Manuela Santos Silva, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4708-3.

Cortesia de CL/JDACT