sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Leonor de Aragão (1405/1408-1445). Duarte I. A Triste Rainha. «Soube-se na corte que Fadrique, filho bastardo de Enrique II e conde de Benavente, efémero noivo da infanta Beatriz de Portugal, ia ‘pedir a mão da condessa Leonor’ alegando precisamente a perda desse casamento que lhe teria dado acesso ao trono português»

Selo da infanta Leonor
jdact e joseantoniosilva

Uma Infanta entre Castela, Aragão e Portugal
A avó Beatriz de Castro, bastarda régia portuguesa
«(…) Nessa mesma ocasião, também se combinou o consórcio de uma filha ilegítima de Fernando I, D. Isabel, com Alfonso Enríquez, bastardo de Enrique II e conde de Gijón y Noreña (de que vieram a sair os Noronhas portugueses) e ainda o da infanta D. Beatriz, herdeira do trono de Portugal, com Fadrique, conde de Benavente, outro bastardo do rei castelhano, união que nunca chegou a efectivar-se. Por aqui se vê que, embora numa posição subalterna em relação às filhas legítimas, as bastardas também constituíam uma (reserva) das casas reais para as alianças que pretendiam construir através da cedência de mulheres em casamento, quer a inimigos (tendo por objectivo a paz) quer a parceiros (tendo por objectivo a guerra contra terceiros); os receptores dessas mulheres podiam, da mesma forma, ser ilegítimos. A união de Sancho e Beatriz não durou muito, pois o conde faleceu no ano seguinte, em Burgos, ao interpor-se entre homens armados envolvidos nume rixa, que não o reconheceram e por isso não hesitaram em matá-lo. Foi tempo suficiente para deixar, porém, a esposa grávida, nascendo Leonor Urraca em Setembro desse mesmo ano de 1374. Entre essa data e o falecimento de D. Beatriz de Castro, em 1382, nada sabemos sobre qualquer uma delas.
Leonor não teria mais de 8 anos à morte da mãe e teve de ser confiada a alguém que a criasse e tomasse conta dos seus bens até chegar à idade núbil. Ignoramos, porém, quem foi incumbido de tal tarefa e o que sucedeu à órfã até tal momento. Podemos pensar, todavia, que o monarca castelhano a terá mantido debaixo de olho, pois se tratava da mais rica donzela de Castela, cujos domínios teriam feito feliz qualquer jovem nobre pouco dotado de herança, podendo tornar-se numa ameaça caso caíssem nas mãos de senhores já poderosos. Com efeito, às terras de Haro, Briones, Cerezo y Beldorado, na Rioja, Ledesma e as chamadas Cinco Villas, no baixo Tormes, Alburquerque, Medellín, La Cadesera, Alconetar, Alzagala e Alconchel, na Estremadura, vindas do seu pai, Leonor, conhecida como la Rica hembra (fêmea) pela sua imensa fortuna, juntou ainda Villalón e Urueña, a ela dadas pelo seu primo Juan I, sucessor de Enrique II, em troca de várias outras povoações que ele lhe pedira para agraciar partidários seus. Era também dona, ao que dizem, do maior rebanho da Meseta.

Uma herdeira muito pretendida
Foi quando Juan I faleceu inesperadamente, em 1390, de uma queda de cavalo, que tudo se precipitou. Soube-se então na corte que Fadrique, filho bastardo de Enrique II e conde de Benavente, que já encontrámos atrás como efémero noivo da infanta Beatriz de Portugal, ia pedir a mão da condessa Leonor alegando precisamente a perda desse casamento que lhe teria dado acesso ao trono português e a necessidade de uma compensação, se não de nível semelhante, pelo menos proveitosa em termos patrimoniais. É preciso dizer, para que se percebam todos os contornos do problema, que ao falecer o monarca castelhano deixara como sucessor um filho, Enrique, com apenas 11 anos de idade, não sendo a rainha Beatriz de Portugal a respectiva mãe, o que a excluía da tutoria do moço. Alguns familiares do rei, conhecidos pelos historiadores espanhóis como os epígonos Trastâmaras, tentaram então apoderar-se da regência: o já referido Fadrique, Pedro, conde de Trastâmara, Leonor, rainha de Navarra, e Alfonso de Aragão, marquês de Villena. O casamento do primeiro com Leonor de Alburquerque ter-lhe-ia trazido vantagens nada desprezíveis nesta luta: riqueza, poderio militar e o controlo de algumas fortalezas-chave junto da fronteira com Portugal. Ao bando dos epígonos Trastâmaras opuseram-se, porém, Pedro Tenorio, bispo de Toledo, e outros servidores do monarca defunto, que conseguiram evitar o casamento do conde de Benavente com Leonor Urraca, comprometendo-a com o infante Fernando, irmão mais novo do rei menino. Desta forma, todos os bens da noiva, incluindo os castelos situados junto à fronteira de Portugal, em vez de irem engrossar o património já vasto de um senhor turbulento que ameaçava o poder real, ficariam seguros nas mãos da Coroa castelhana. Pelo menos por uns tempos...» In Ana Maria S. A. Rodrigues, As Tristes Rainhas, Rainhas de Portugal, coordenação de Ana Maria S. A. Rodrigues, Isabel Guimarães Sá, Manuela Santos Silva, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4708-3.

Cortesia de CL/JDACT