segunda-feira, 13 de junho de 2016

Liberta-me. J. Kenner. «Apoio as mãos na amurada da varanda e debruço-me para a frente, atraída pela beleza intensa e inalcançável do pôr do sol; se saíres à noite, leva sempre um agasalho»

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«Um brisa fresca vinda do oceano acaricia-me os ombros nus e faz-me estremecer: quem me dera ter seguido o conselho da minha companheira de casa e trazido um xaile. Só cheguei a Los Angeles há quatro dias e ainda não me habituei à ideia de as temperaturas no Verão descerem com o pôr do sol. Em Dallas, em Junho faz calor, Julho aquece mais e Agosto é um inferno. Não se passa o mesmo na Califórnia, pelo menos junto à praia. Lição n.º 1 de Los Angeles: se saíres à noite, leva sempre um agasalho. É claro que eu poderia sair da varanda e voltar para a festa lá dentro. Conviver com os milionários. Tagarelar com as celebridades. Admirar respeitosamente os quadros. Estamos na inauguração de uma exposição, e o meu patrão trouxe-me para conhecer, cumprimentar, encantar e conversar. Não para ficar extasiada com o panorama que ganha vida à minha frente. Nuvens vermelhas como sangue a explodirem no céu de um tom claro de laranja. Ondas azul-acinzentadas onde cintilam pontos dourados. Apoio as mãos na amurada da varanda e debruço-me para a frente, atraída pela beleza intensa e inalcançável do pôr do sol, arrependendo-me de não ter trazido a Nikon maltratada que já tenho desde os tempos da escola secundária. Não que me tivesse cabido na carteira diminuta. E uma mala volumosa para uma máquina fotográfica com um simples vestido preto é um grande erro de estilo.
Porém, diante do meu primeiro pôr do sol sobre o oceano Pacífico, decido-me a documentar o momento. Saco do meu iPhone e tiro uma fotografia. Quase faz com que os quadros lá dentro pareçam redundantes, não acha? Reconheço a voz rouca e feminina e viro-me para Evelyn Dodge, atriz reformada que depois se fez agente e, por fim, mecenas das artes, e que é a minha anfitriã desta noite. Peço imensa desculpa. Sei que devo parecer uma turista tonta, mas a verdade é que não temos pores do sol destes em Dallas. Não peça desculpa, diz ela. Eu pago pela vista todos os meses quando passo o cheque para pagar a hipoteca ao banco. É bom que seja espectacular, caraças. Rio-me, imediatamente mais à vontade. Está aqui escondida? Perdão? É a nova assistente do Carl, não é?, pergunta-me, referindo-se àquele que é o meu chefe há três dias.
Nikki Fairchild. Já me lembro. A Nikki que veio do Texas. Observa-me de cima a baixo e fico a pensar se estará desapontada por eu não ter uma grande cabeleira e botas à cowboy. Então, quem é que ele quer impressionar? Impressionar?, repito eu, como se não soubesse perfeitamente o que ela queria dizer. Ela arqueia apenas uma sobrancelha. Querida, o homem preferiria andar sobre carvões em brasa a vir a uma exposição artística. Anda à pesca de investidores e a menina é o isco. Emite um som brusco e gutural. Não se preocupe. Não vou insistir para que me conte quem é. E não a julgo por se ter escondido. O Carl é genial, mas é um bocado intratável. - Eu assinei contrato com a parte genial, replico, ao que ela solta uma risada. Mas a verdade é que ela tem razão quanto a eu ser o isco. Usa um vestido de gala, dissera-me o Carl. Qualquer coisa sedutora. Estás a falar a sério? Quer dizer: mesmo a sério?!
Deveria ter-lhe dito que usasse ele um vestido de gala. Mas não o disse. Porque quero este emprego. Esforcei-me por conseguir este emprego. Nos últimos dezoito meses, a empresa do Carl, a C-Squared Technologies, lançou três produtos cibernéticos com bons resultados. Esse feito chamou a atenção da indústria e o Carl tinha sido considerado um homem a manter debaixo de olho. Mais importante, na minha perspectiva, era que isso implicava que ele era um homem com quem eu poderia aprender, pelo que me preparara para a entrevista de emprego com uma intensidade a raiar a obsessão. Obter aquele lugar fora uma coisa em grande para mim. Que importava que ele quisesse que eu vestisse algo sedutor? Era um pequeno preço a pagar. Mer…»  In J. Kenner, Liberta-me, 2012, Topseller, 20/20 Editora, 2013, ISBN 978-989-862-622-6.

Cortesia de Topseller/JDACT