domingo, 5 de junho de 2016

Uma Rainha Inesperada. Isabel Pina Baleiras. «… o facto de Leonor ser natural de Trás-os-Montes e ter lá muitos parentes. Leonor teve antepassados com ligação a Bragança e a Trás-os-Montes. Afonso Teles Córdova, filho do primeiro casamento…»

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«(…) Em 1355 encontramos outra referência do cronista a Martim Afonso Telo. A rainha dona Maria estava em Toro acompanhada de Martin Alfonso Tello, que era natural de Portogal, é viniera com la Reyna Doña María quando ella vino de Portogal, segundo dicho avemos. De Toro, dona Maria pediu aos seus enteados, Henrique Trastâmara Fradique, que fossem ter com ela àquela cidade, antes de o rei seu filho lá chegar, pois temia que este se vingasse da protecção que ela lhes tinha prestado anteriormente. Estes acederam e foram ter com a rainha. Em 1356, a rainha continuava em Toro, com Martim Afonso Telo, a condessa dona Joana, mulher de Henrique Trastâmara e outros cavaleiros. A aproximação do rei de Castela fê-los ir para a alcáçova da cidade, onde julgaram estar mais protegidos. Pedro I e os seus escudeiros entraram em Toro e mataram diversos cavaleiros que estavam contra o rei. Ao chegar à alcáçova, o rei exigiu que a mãe viesse ao seu encontro. Maria ainda tentou negociar o perdão dele para os homens que a acompanhavam, mas o filho mandou-a ir ter com ele, acrescentando que logo saberia o que fazer com os cavaleiros em questão. O resultado foi a morte destes, aos pés de dona Maria e de dona Joana, situação que provocou o desmaio às duas senhoras. Um desses cavaleiros foi Martim Afonso Telo. Ao recuperar os sentidos, a rainha amaldiçoou o filho e a vida e desejou morrer. Dias depois, Maria pediu ao filho que a enviasse para Portugal; o que de facto veio a suceder. A 10 de Janeiro de 1357 a rainha parece ter estado em Toro, segundo a Crónica de Alcântara, mas o Cronicon Conimbricense e a História genealógica da Casa Real portuguesa referem que a 18 de Janeiro a rainha dona Maria faleceu em Évora, depois de ter ido visitar os pais a Leiria.
A Crónica do rei Afonso IV (1325-1357) confirma que Maria faleceu viúva em Évora, mas não indica o ano. Acrescenta só que o corpo foi depois trasladado para a Capela dos Reis em Sevilha. A Crónica de Pedro I, de Fernão Lope, indica que Pedro I de Castela pediu ao seu homónimo, o rei Pedro I de Portugal, seu tio, logo que este começou a reinar, que lhe enviasse o corpo da mãe, para o sepultar ao lado do de seu pai, o rei Afonso XI, na Capela dos Reis, em Sevilha. Solicitou igualmente o envio das joias pertencentes a dona Maria. A História genealógica da Casa Real portuguesa afiança ainda que no testamento da rainha, outorgado a 8 de Novembro de 1351 (um ano depois de ficar viúva), Maria solicitava ser sepultada na dita capela, ao lado do marido, mas que, se este fosse trasladado para outro lugar, fizessem o mesmo com ela. Esta fonte não fez qualquer alusão ao adultério de Maria com o pai de Leonor Teles, antes descreveu a rainha como uma mulher que sempre dedicou ao marido o seu amor, quer em vida deste, quer depois da sua morte. Pero López Ayala também referenciou o óbito de Maria em 1357, e acrescentou-lhe um dado curioso, de que não encontrámos menção nas fontes portuguesas acima mencionadas: Maria morreu vítima de envenenamento causado pelo próprio pai, o monarca Afonso IV de Portugal: segund fué fama, dixeron que el Rey Don Alfonso de Portogal, su padre della, le ficiera dar hierbas con que moriese, por quanto non se pagaba de la fama que se oia della. O rumor era, pois, o adultério de Maria com Martim Afonso Telo, o pai de Leonor Teles.

O nascimento de Leonor Teles
Do nosso ponto de vista, consideramos credível que Leonor fosse natural de Trás-os-Montes. Vejamos os factos: na carta de doação de Vila Real de Trás-os-Montes dada a Leonor Teles, no ano de 1375, Fernando apresentou dois motivos para o acto: a obrigação que o casamento implicava e que o levou a ter de dar bens à rainha para ella sofrer os encargos que escusar nom poder; o facto de Leonor ser natural de Trás-os-Montes e ter lá muitos parentes. Leonor teve antepassados com ligação a Bragança e a Trás-os-Montes. Afonso Teles Córdova, filho do primeiro casamento de Afonso Télez (o quarto avô paterno de Leonor Teles), surge em 1258 como tenente de Bragança. Por outro lado, o irmão de João Afonso Telo I (o trisavô paterno da rainha dona Leonor Teles) foi Martim Afonso, que foi tenens de Santa Maria, Bragança e Montenegro. Por fim, Afonso Martins Telo (avô paterno da rainha) casou com Berenguela Lourenço, de Valadares. Esta família dos Valadares possuía importantes territórios no Norte de Portugal, nomeadamente em Trás-os-Montes, através de ligações matrimoniais estabelecidas com os senhores de Chacim. Leonor possuía, pois, relações familiares com a dita comarca, que prosseguiram ao longo da vida, já que a sua filha Beatriz foi presenteada por seu pai com a vila de Bragança em dote de casamento». In Isabel Pina Baleiras, Uma Rainha Inesperada, Leonor Teles, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-989-644-230-9.

Cortesia de CLeitores/Temas e Debates/JDACT