segunda-feira, 12 de agosto de 2019

A Política Matrimonial da dinastia de Avis. Maria Helena C. Coelho. «… as festas do casamento da infanta dona Leonor no reino e a sua viagem por Itália até chegar à Alemanha, intitulado Historia Desponsationis Frederici III cum Eleanora Lusitanica»

Cortesia de wikipedia e jdact

Leonor e Federico III da Alemanha
«(…) Declaravam-se, inicialmente, as etapas do casamento, naquele momento ele ficava desde logo ajustado por palavras de futuro, para depois ter lugar, no espaço de seis meses, por palavras de presente, à face da Santa Madre Igreja. O dote da noiva seria de 60 000 florins de ouro de câmara, correntes na cúria romana, sendo as arras do noivo (donatio propter nuptias) do mesmo valor, segundo os costumes da Alemanha. Ficava ao critério do imperador a doação matutina (donationem matutinam in crastinum scilicet nuptiarum), um acréscimo simbólico à compra do corpo virgem da noiva, o verdadeiro dom da manhã, após a consumação do acto, dos costumes germânicos. O dote, satisfá-lo-ia o rei de Portugal, em Bruges, na Flandres, ou em Florença, na Itália, conforme o determinasse o rei dos Romanos, no prazo de 15 meses após a consumação do matrimónio, devendo ser-lhe descontados 10000 florins, que se afectavam às despesas de viagem da noiva. O imperador comprometia-se a discriminar os bens cujos réditos reverteriam para a infanta, no espaço de quatro meses, o que de facto virá a concretizar, por carta de 16 de Março de 1451, afectando-lhe o vicedomínio de Laibach, no ducado de Carníola, o castelo e vila de Bliburgo, no ducado de Caríntia, e o castelo de Stuchsenstein, no ducado de Áustria. A segurança da noiva, neste acto de passagem, traduzia-se no montante de 120 000 florins, usufruindo a infanta plenamente de bens nesse valor para manter a sua honra e estado. A infanta devia estar em Itália até inícios de Novembro, vinda por mar, desembarcando no porto que o imperador determinasse, entre Pisa e Nápoles. Tudo foi jurado, sob a palavra de honra dos procuradores e o testemunho de Deus, pondo eles as mãos nos Evangelhos, assim comprometendo o nome e a alma dos seus reis.
Mais inexoravelmente comprometendo a vida futura de dona Leonor, escandida, toda ela, por marcantes e simbólicas passagens. Acordado deste modo o casamento por palavras de futuro, imperioso era avançar para o passo seguinte, a sua efectivação por palavras de presente. Por carta de 14 de Março de 1451, o rei dos Romanos credita como procuradores, para tal acto, os seus capelães Tiago Motz, bacharel em Teologia, e Nicolau Valckenstein. Embaixada assaz reduzida e pobre para um imperador, como já tem sido amplamente notado, bem expressiva de alguns dos seus traços de carácter, como a parcimónia, se não mesmo a avareza, acumulada da astúcia, já que pelo estado eclesiástico dos seus procuradores justificava a humildade da delegação. Como se sabe, o capelão Nicolau Lanckmann Valckenstein escreveu um diário sobre a sua viagem até Portugal e depois sobre as festas do casamento da infanta dona Leonor no reino e a sua viagem por Itália até chegar à Alemanha, intitulado Historia Desponsationis Frederici III cum Eleanora Lusitanica.
Somos então informados que a jornada dos embaixadores alemães foi atormentada, atravessando o ducado de Sabóia (com ida a Genebra), o reino de França (aí visitando Chartreuse, Saint-Antoine, Montpellier, Toulouse) e seguindo depois por Narbona e Perpignão para a Catalunha. Já na Península percorreram os reinos de Aragão, Navarra, Castela e Leão, passando por Gerona, Barcelona, onde receberam salvos-condutos da rainha de Aragão, Saragoça, S. Domingos (de la Calzada, próximo de Logronho), Burgos, Leão e Astorga. Aqui, havendo guerra, disfarçaram-se de peregrinos e avançaram para a Galiza, mas acabaram por ser atacados, ficando sem roupa, dinheiro, cavalos e até mesmo sem as cartas do imperador». In Maria Helena Cruz Coelho, A Política Matrimonial da dinastia de Avis, Leonor e Federico III da Alemanha, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Revista Portuguesa de História, XXXVI, 2002-2003, Wikipedia.

Cortesia de RevistaPdeHistória/JDACT