terça-feira, 6 de agosto de 2019

Os Lactários Municipais (1925-1927). Ana Brites. «Os lactários portugueses encontram o seu modelo de funcionamento em instituições similares, surgidas na mesma época por toda a Europa»

Cortesia de wikipedia e jdact

Contextualização e abordagem histórica
«Os lactários municipais surgem numa época em que o Estado desempenhava um papel proeminente na organização da assistência aos indigentes, pelo que os lactários enquadram num conjunto de iniciativas levadas a cabo, desde o final do século XIX, pela monarquia. Recorde-se por exemplo o papel da rainha dona Amélia e da duquesa de Palmela no auxílio aos tuberculosos, na criação das cozinhas económicas (destinadas à alimentação de pobres e mendigos), dos bodos, e na dinamização dos cuidados de higiene e de saúde a prestar aos indigentes. Deve-se igualmente à rainha dona Amélia a criação, em 1903, do primeiro lactário, situado no Largo do Museu da Artilharia. Segue-se, em cooperação com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o lactário de S. José, uma iniciativa da Associação Protectora da Primeira Infância, fundada em 1901 com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa que nesse mesmo ano concedeu um donativo monetário para a construção das instalações daquele organismo.
Os lactários portugueses encontram o seu modelo de funcionamento em instituições similares, surgidas na mesma época por toda a Europa. Veja-se o caso dos Kindermilch, lactário modelo subsidiado por certas edilidades alemãs, nomeadamente a de Berlim, para distribuição de leite de qualidade às crianças desvalidas; os Infant Milk Depots, em Londres e outras cidades inglesas, leitarias municipais para fornecimento de leite pasteurizado às crianças; ou as Gouttes de Lait, instituições francesas subsidiadas por várias edilidades, como as de Paris, Lion ou Brest, cuja missão era de distribuir leite pasteurizado e controlado laboratorialmente (estas instituições não eram responsáveis pela produção, apenas pela distribuição).

Os Lactários Municipais
Os lactários municipais são entidades orgânicas, directamente dependentes do pelouro de Instrução e Assistência, tendo sido criados em 1925, mediante proposta do vereador responsável do pelouro, Alexandre Ferreira, que no seu relatório de actividades de 1925, o vereador afirmava: propuz a esta câmara a criação de Lactários Municipais, proposta que mereceu o voto unânime da edilidade portuguesa. Em nenhuma outra acta de sessão de Câmara, deste ano e anteriores, se encontra registada uma proposta específica para a criação de um Lactário Municipal, pelo que é este o momento em que o assunto é, pela primeira vez, objecto de debate. Todavia, em sessão de Câmara de 22 de Outubro de 1924, o vereador Alexandre Ferreira havia já lançado para a mesa de trabalho a proposta de criação de um Estábulo Municipal cujo objectivo era fornecer leite na cidade em vários postos lactários à população infantil e a outros adultos doentes, segundo as prescrições médicas. Estes estábulos municipais seriam instalados nos subúrbios de Lisboa e teriam o número de vacas indispensável à produção do leite consumido nos postos lactários.
No final dessa sessão de 22 de Outubro, o mesmo vereador terminava a sua apresentação afirmando sêr necessário combater a mortalidade infantil, que aumentava em Lisboa. A Câmara Municipal têm o dever de cuidar da alimentação lactea das creancinhas, que definham devido á péssima qualidade e falsificação do leite que se vende na cidade. Conclue por declarar que era preciso olhar para o futuro das creanças. Não tendo sido encontrada, como foi já referido, nenhuma outra proposta apresentada anteriormente em acta de Sessão de Câmara e, considerando que o vereador Alexandre Ferreira, no seu relatório de actividades de 1925, afirmava que o propósito dos Lactários Municipais é o de fornecer leite puro de vaca a crianças até à idade de desmamamento, isto é, até aos 18 meses de idade, tendo a preferência, na admissão, os filhos dos indivíduos mais necessitados, e verdadeiramente indigentes, conclui-se que, com a proposta de 22 de Outubro de 1924, que criava os Estábulos Municipais, terão também sido instituídos, em estreita articulação, os referidos lactários, tendo em vista o fornecimento de leite às crianças pobres de Lisboa». In Ana Brites, Os Lactários Municipais (1925-1927), Cadernos do Arquivo Municipal de Lisboa, 1ª Série, nº 7.

Cortesia de Wikipedia/JDACT