quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Memórias da Repressão. Uma Leitura de Amada. Toni Morrison. Ivens M. Silva e Rosani K. Umbach. «Actualmente se evidencia um crescente interesse em estudos que versam sobre a relação entre a literatura e a memória. Tais pesquisas caracterizam-se…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«A memória no ambiente ficcional vem sendo um tema amplamente discutido na actualidade por apresentar o passado de minorias sociais silenciadas pelo uso do poder e da dominação. Motivadas pela luta para que tais experiências não caiam num completo esquecimento, as configurações literárias de memória assumem papel cada vez maior na actualidade. É neste contexto que se insere a obra Amada, de Toni Morrison, que apresenta um resgate da experiência afro-americana do período anterior e posterior à escravidão através de memórias. Tendo em vista tal característica, o presente artigo tem por objectivos analisar o romance de acordo com os conceitos de memória subterrânea, traumática e colectiva, além de verificar quais seriam as funções dos processos mnemónicos presentes na narrativa». In Resumo

«Actualmente se evidencia um crescente interesse em estudos que versam sobre a relação entre a literatura e a memória. Tais pesquisas caracterizam-se por possuírem como foco principal analisar e apresentar através do ambiente ficcional, o passado de minorias sociais silenciadas pelo uso abusivo do poder e da dominação, bem como lutar para que tais experiências não caiam num completo esquecimento. Com o advento da pós-modernidade, as artes em geral, e a literatura em particular, passam a acentuar as relações existentes entre aquelas áreas de estudo. Segundo Tânia Pellegrini (2001), neste período literário ocorreu uma verdadeira crise de paradigmas sobre a análise da realidade aliada ao fim da crença em verdades absolutas sobre o passado, bem como uma verdadeira quebra de fronteiras entre diferentes áreas de estudos.
Sob esta perspectiva começam a serem publicadas obras que passaram a apresentar os problemas presentes na sociedade, além de realizarem uma releitura do passado, agora sob a perspectiva daqueles que foram excluídos da historiografia tradicional. Além disso, nota-se uma significativa produção de obras elaboradas por grupos minoritários, como foi o caso de mulheres, negros e homossexuais, entre outros, que passaram a representar e afirmar vozes que até então eram reprimidas e conseguem ganhar espaço e reconhecimento no cenário literário e artístico. Aliando esse momento de mudança na literatura ao advento das pesquisas sobre a memória, podemos destacar a importância dada aos estudos referentes às chamadas memórias da repressão. Essas memórias estariam intimamente ligadas à violência, à catástrofe e aos traumas provenientes do uso da violência e repressões extremadas que vieram a estigmatizar o século XX.
No contexto pós-moderno norte-americano, as memórias da repressão fazem-se presentes nas produções literárias e artísticas de escritores e artistas negros que passaram a utilizar a arte como uma forma de crítica e denúncia acerca dos problemas sociais inerentes à condição social dos afro-americanos. Nas artes visuais podemos citar a artista Kara Walker que representa nas suas obras o período da escravidão e a opressão racial naquele país após a abolição. No meio literário, escritoras como Maya Angelou e Alice Walker dramatizam a condição social dos afro-americanos no contexto da segregação racial, no qual linchamentos de pessoas negras eram frequentes em todo o território norte-americano. Será sob essa perspectiva, de aliar a arte a uma forma de denúncia e crítica social, que irão destacar-se as obras da renomada escritora afro-americana Toni Morrison. Com nove romances publicados, ela tornou-se conhecida mundialmente por apresentar nas suas obras a complexidade de ser identificado como negro em certas regiões dos Estados Unidos, como também pelo resgate histórico acerca das injustiças cometidas contra gerações de afro-americanos durante a escravidão e por expor uma reflexão acerca dos problemas raciais que ainda se apresentam no contexto sócio-histórico e cultural americano». In Ivens M. Silva e Rosani K. Umbach, Memórias da Repressão, Uma Leitura de Amada, Toni Morrison, Revista Literatura e Autoritanismo, nº 21, 2013, ISSN 1679-849X.

Cortesia de RLAutoritanismo/JDACT