sábado, 27 de julho de 2019

A Política Matrimonial da dinastia de Avis. Maria Helena C. Coelho. «... despois de vistos e examinados os contratos do dito casamento, e assy os poderes que traziam (os procuradores) pera o fazer, o recebimento antre a Emperatriz e o Procurador do Emperador…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Leonor e Federico III da Alemanha
«Na narratividade deste nosso texto, uma história de caso. Mas de um caso que, na sua densidade, condensa facetas múltiplas do individual e colectivo, afigurando-se pertinente resgatá-lo do passado para a memória do presente. Ouçamos as palavras de uma crónica. A pena é do cronista régio Rui de Pina:

... despois de vistos e examinados os contratos do dito casamento, e assy os poderes que traziam (os procuradores) pera o fazer, o recebimento antre a Emperatriz e o Procurador do Emperador se ordenou de fazer, e fez sollenemente per pallavras de presente nos paços do Duque, que sam junto com Sam Cristovam a hum Domyngo IX, dias d'Agosto de mil e quatrocentos cinquenta e hum, ao qual foram El Rey, e o Yfante Dom Fernando seu Irmaaõ, e ho Ifante Dom Anrrique seu Tio, e Condes e Perlados e muytos Senhores, e assy foy a Raynha com a Yfante Dona Joana, e com muitas outras donas e donzellas de grande condyçam.

Contemplemos agora as formas e personagens de um fresco da catedral de Siena. O pintor é Pintorrichio:
e eis que deparamos, sob o pano de fundo urbano de uma cidade, uma centralidade média demarcada por um símbolo. Trata-se de um padrão, onde se inscrevem os escudos de Portugal e da Alemanha. Para então nos aproximarmos de um primeiro plano axializado sobre um homem com as insígnias de Imperador e uma bem ataviada senhora, enquadrados ambos pelos seus ricos e vistosos séquitos de cavaleiros e donzelas, os quais, com alguma presteza da parte do homem e um grande encanto e recato por parte da mulher, procedem à immixtum manum, na presença santificadora de um alto dignitário da Igreja, uma figura de bispo. E assim, pela escrita e pela imagem, desenha-se perante nós, no primeiro quadro, o casamento por palavras de presente da infanta dona Leonor de Portugal com o procurador do imperador Frederico III, em Lisboa, a 9 de Agosto de 1451, e, no segundo, o primeiro encontro, ao vivo, dos esposos, na cidade de Siena, onde Frederico III, acompanhado do seu irmão, o duque Alberto, e do seu sobrinho, o pequeno Ladislau, se apressa a ractificar a união, agora com o entrelaçar das mãos direitas, e com o assentimento espiritual de Eneas Sílvio Piccolomini, prelado de Siena. Dois passos do consórcio entre a filha do rei Duarte e de dona Leonor de Aragão e o imperador da Alemanha Frederico III, que será a estirpe fundadora da casa dos Habsburgo de onde, a partir de Maximiliano I, descenderão todos os membros da família imperial da Austria-Hungria, como o grande imperador Carlos V, que também acabará por casar com uma infanta portuguesa. Na realidade, a dimensão política do matrimónio da princesa portuguesa com o imperador alemão pode bem aferir-se pelas numerosíssimas fontes, documentais, literárias e iconográficas, sobre ele produzidas, que, felizmente, até nós chegaram. Por certo nenhuma união da família real portuguesa ficou tão bem documentada, prova cabal do seu magno significado». In Maria Helena Cruz Coelho, A Política Matrimonial da dinastia de Avis, Leonor e Federico III da Alemanha, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Revista Portuguesa de História, XXXVI, 2002-2003, Wikipedia.

Cortesia de RevistaPdeHistória/JDACT