quinta-feira, 18 de julho de 2019

Em Torno do Pensar Poetizante de Agostinho da Silva. Lúcia Helena A. Sá. «Na Grécia, a Beleza e o Amor foram cultuados e nela encontram-se os germes do pensamento racional de nossa consciência religiosa…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a Lúcia Helena Alves Sá

«A alethopoíesis de Agostinho da Silva deixou-me ver as coisas diante das coisas, olhando-as. As coisas se admiram de um tanto de coisas. Delas concebi a expansão do que sou»

«Este estudo apresenta o professor Agostinho da Silva como uma das personalidades mais extraordinárias do século XX que compôs o cenário da cultura lusófona. Objectiva, sobretudo, interpretar alguns poemas e quadras e uma biografia com especial interesse no pensar poetizante acerca de Deus à luz da dialogicidade de textos agostinianos, de Espinosa, Heidegger, Bachelard e Teilhard de Chardin. Também, aborda a diáspora intelectual do filósofo, as suas realizações pedagógicas e as contribuições culturais para os povos de língua portuguesa. A pesquisa aponta as orientações político-sociais de Agostinho direccionadas para a instauração do Reino do Espírito Santo. Ademais, evidencia a cristalização do mito do monarca Sebastião no panorama literário e artístico brasileiro em um poema de Cecília Meireles e outro de Caetano Veloso para que se realizem analogias com o pensador luso-brasileiro».

Do Peregrino Venturoso
«Agostinho da Silva, apesar de não ter sido um historiador das religiões, foi estudioso do cristianismo, do taoísmo, do budismo-zen e da religiosidade afro-brasileira do candomblé. Incorporava os saberes histórico e antropológico, filosófico e mitológico da cultura ocidental. Analisava as obras de Joaquim Flora, Baruch Espinosa, Hegel entre outros, mas foi a cultura grega o que mais o interessava porque a civilização helénica deixou influências significativas para outras gerações seja na política ou na filosofia, na poesia ou no teatro, na história ou nas artes plásticas, na astronomia ou em estudos anatómicos, na arquitectura ou em registoos linguísticos.
Na Grécia, a Beleza e o Amor foram cultuados e nela encontram-se os germes do pensamento racional de nossa consciência religiosa a que os gregos associavam à Alegria. À maneira agostiniana, diz-se que a religião grega é singularmente próxima da filosofia por que os helenos pensavam a Beleza e a procuraram realizar sobre a terra. É esta religião uma prática efectiva da Beleza que não é senão o cuidado laborioso pela perfeição a qual se une a realização do Amor nas acções quotidianas dos homens: à vida profana reúne-se o sagrado. Podemos, aqui, traçar uma proximidade de Agostinho da Silva com Eudoro Sousa no que respeita à mesma matriz de um pensar filosófico-religioso oriundo da cultura grega.
Desse modo, o ideário agostiniano, especialmente em A Religião Grega (1930), era, regressando ao mundo helénico, fazer notório que a vida pública e a dinâmica da sociedade renovar-se-iam a partir da religião responsável pela estruturação espiritual dos homens, haja vista que tenha sido a religião grega a preconizadora das bases do Cristianismo no que tange à amorosidade. Agostinho detinha, também, conhecimento do grego, do latim e de quinze línguas. Publicou ensaios interpretativos como cronista de textos filosóficos e literários; traduziu obras clássicas como, por exemplo, as de Virgílio e Horário; escreveu textos pedagógicos, ensaios a respeito da cultura portuguesa, além de temas diversos, incluindo, na sua escrita, poesia e obras novelísticas.
Em 1924, ingressou na Faculdade de Letras do Porto e quadro anos depois concluiu a Licenciatura com tese sobre o poeta latino Catulo. No ano de 1929, doutorou-se com trabalho intitulado Sentido histórico das civilizações clássicas. Durante o ano de 1927, manteve colaboração na revista da Renascença Portuguesa A Águia e, por 10 anos, escreveu para a revista Seara Nova. Frequentou, na Lisboa do ano de 1930, a Escola Normal Superior para adquirir a habilitação para lecionar no ensino oficial e logo tornou-se professor no Liceu Alexandre Herculano. O entusiasmo e empenho do professor Agostinho para fundar centros de estudo e de cultura iniciou-se em 1932 quando organizou a abertura do Centro de Estudos Filológicos da Universidade Clássica de Lisboa». In Lúcia Helena Alves Sá, Em Torno do Pensar Poetizante de Agostinho da Silva, Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, como obtenção do título de Doutor em Literatura, Teoria do Texto Literário, Brasília, 2013, Wikipedia.

Cortesia da UBrasília/TLLiterário/Wikipedia/JDACT