sexta-feira, 19 de julho de 2019

Em Torno do Pensar Poetizante de Agostinho da Silva. Lúcia Helena A. Sá. «Devido às ideias e posições sólidas quanto ao sentido da liberdade, incomodou os órgãos administrativos portugueses, sofrendo acirrada investida dos agentes…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Entre 1931 e 1933, foi bolseiro da Junta Nacional de Educação na Sorbonne e no Collège de France. Em Paris, conheceu exilados políticos portugueses como, por exemplo, o historiador Jaime Cortesão com quem firmou duradoura amizade e dele recebeu notícias históricas sobre a doutrina paraclética que tomou importância significativa nos seus estudos sobre a tradição mítico-religiosa da história de Portugal. Agostinho, também, admitiu que a matriz de Portugal é a Idade Média, pois foi neste período histórico que se adensou a dimensão mitológica ao heroísmo português no trabalho hercúleo das Grandes Navegações, ao universalismo da experiência antropológica dos navegadores. O professor Agostinho era homem de vida conversável (a expressão vida conversável é oriunda do depoimento de um viajante português do século XVI que fazia o levantamento do litoral brasileiro; escreveu o viajante que as viagens e a expansão marítimas portuguesas dariam ao mundo a chance de fazer da vida uma obra conversável; aproveitamos o ensejo para apontarmos que essa ideia de construção de uma vida conversável, no que tange ao sentido de comunhão entre os povos formando uma só comunidade, o mundo tornando-se Um porque se valerá do que é conversável, isto é, a união das gentes de todos os quadrantes, combina com os dizeres de Fernando Pessoa de que, no Universo, todos os contrários se harmonizam, pois a verdadeira compreensão é unitiva nos versos do poema O Infante, de O Mar Português, segunda parte da obra Mensagem: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce./ Deus quis que a terra fosse toda uma,/ Que o mar unisse, já não separasse./ Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, [...], isto é, mantinha-se arraigado e confiado a constantes conversações intelectuais que nunca o permitiram render-se a factos que não fossem verídicos, sabendo rejeitá-los quando em contradição com os seus próprios ideais. Recusou veementemente ter chefes e submeter-se a ordens, sendo, pois, firme em dizer que para se ser livre é necessário que se tenha, ao mesmo tempo, liberdade política e económica.
Devido às ideias e posições sólidas quanto ao sentido da liberdade, incomodou os órgãos administrativos portugueses, sofrendo acirrada investida dos agentes apoiadores de António Salazar devido, especialmente, a duas publicações. Uma, intitulada O Cristianismo (1942), na qual exibiu um julgamento panteísta de Deus que cremos estar próximo da filosofia de Baruch Espinosa no que respeita à compreensão de que Deus é uma substância aferida de atributos. A outra, nomeada por A Doutrina Cristã (1943), na qual, além de criticar todo e qualquer preceito que impede o homem de ser livre, discorre sobre a universalidade de Deus. Também julgamos que esta obra apresenta proximidade com a perspectiva espinosana de que cada ente é a aparência de um atributo de Deus, marcando a sua presença ou aparição indelével nas coisas do mundo. Nessas duas edições, Agostinho defendeu a figura de Cristo como sendo um revolucionário sem o vincular a entidade transcendente alguma, instigando, assim, controvérsias entre católicos e aguçando a atenção da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) que o acusou de ser subversivo.
As actividades culturais desenvolvidas pelo professor Agostinho foram condicionadas por um ambiente opressivo e conflituoso e, por isso, a partir de 1935, inicia uma diáspora intelectual, indo para a Espanha como bolsista do Ministério das Relações Exteriores daquele país. Lá estando, estudou, no Centro de Estudos Históricos de Madrid, a lírica religiosa do Renascimento (século XVI) nas obras dos místicos espanhóis Santa Tereza D’Ávila e São João da Cruz. Regressa a Portugal em 1936, dada a eminência da Guerra Civil espanhola, e cria a Escola Nova de São Domingos de Benfica e, no ano seguinte, funda o Núcleo Pedagógico Antero de Quental, para o qual estabeleceu actividades sócio-pedagógicas importantes para a renovação da educação portuguesa que se estenderam até 1943, e, também, começou a escrever, na revista Seara Nova, uma série de textos conhecidos por Biografias e Cadernos de Informação Cultural, publicações que se constituíram numa espécie de universidade popular por correspondência, pois as enviava para todo Portugal, cumprindo os objectivos da actividade pedagógica daquele núcleo que havia fundado». In Lúcia Helena Alves Sá, Em Torno do Pensar Poetizante de Agostinho da Silva, Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, como obtenção do título de Doutor em Literatura, Teoria do Texto Literário, Brasília, 2013, Wikipedia.

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