terça-feira, 16 de julho de 2019

A Rainha Liberdade. A Guerra das Coroas. Christian Jacq. «O Afegão e o Bigodes treparam a colina com a vivacidade de combatentes habituados às expedições perigosas. Menos de meia hora depois, estavam de regresso»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Ao crepúsculo, pareceu-lhe distinguir o seu mensageiro ao longe. O avanço era hesitante, o voo mais pesado do que o habitual. No entanto, era realmente ele! Larápio poisou no ombro de Ah-hotep. Com o flanco direito coberto de sangue, estendeu orgulhosamente a pata direita à qual estava preso um pequeno papiro selado. A Rainha felicitou-o acariciando-o docemente, retirou a missiva e confiou o corajoso mensageiro a Teti, a Pequena. Deve ter sido ferido por uma flecha. Trata dele com cuidado. É superficial considerou a Rainha-Mãe, depois de ter examinado a ferida. Daqui a alguns dias o Larápio estará de perfeita saúde. Segundo o curto texto de um resistente da região de Assiut, a cidade fora quase completamente destruída, com excepção dos túmulos antigos. Tinha apenas uma pequena guarnição hicsa, que recebia as mercadorias provenientes dos oásis de Khargeh e Dakhla. A caminho decidiu Ah-hotep.
De madrugada, o navio acostou ao porto de Assiut. Viajar de noite era perigoso, porque havia o risco de encalhar num banco de areia ou incomodar hipopótamos, cuja cólera era arrasadora. Mas, de dia, o Nilo não era seguro. Os hicsos rondavam por todos os lados. Outrora muito activo, aquele porto estava ao abandono. Velhos navios e uma barcaça esventrada apodreciam. Nem Risonho nem Vento do Norte detectaram qualquer presença inquietante. O molosso desembarcou primeiro, seguido pelo burro, a Rainha, o Afegão, o Bigodes e uma dezena de jovens archeiros bem alerta. Aliada de Ah-hotep, a Lua iluminava a paisagem. A cidade estendia-se ao abrigo de uma falésia na qual tinham sido escavados os túmulos, entre os quais o de um Sumo Sacerdote de Up-uaut, o Abridor dos caminhos, detentor da enxó indispensável para ressuscitar a múmia. Se eu fosse o comandante hicso considerou o Afegão seria exactamente neste lugar que colocaria as minhas sentinelas. Não há melhor ponto de observação. Vamos verificar isso declarou o Bigodes. Se tiveres razão, sempre serão alguns hicsos a menos. O Bigodes era um egípcio do Delta, arrastado quase involuntariamente para a resistência, que se tornara a sua razão de viver.
Espoliado pelos invasores, o Afegão apenas sonhava restabelecer o comércio de lápis-lazúli com um Egipto novamente respeitador das leis comerciais. Os dois homens tinham corrido juntos muitos perigos. Admiradores incondicionais da Rainha Ah-hotep, a mulher mais bela e mais inteligente que tinham conhecido, bater-se-iam ao lado dela até ao fim, fosse ele qual fosse. O Afegão e o Bigodes treparam a colina com a vivacidade de combatentes habituados às expedições perigosas. Menos de meia hora depois, estavam de regresso. Quatro sentinelas definitivamente adormecidas disse o Bigodes. O caminho está livre.
Como Ah-hotep seguia o mesmo treino dos soldados, não teve qualquer dificuldade em subir a encosta. Vários túmulos tinham sido profanados e o do Sumo Sacerdote Up-uaut fazia infelizmente parte deles. Os hicsos armazenavam nela armas e mantimentos. Com a raiva no coração, a Rainha explorou os destroços à luz de uma tocha. Atingiu a pequena sala situada próximo do fundo do túmulo, onde o ritualista tinha o costume de depositar os objectos mais preciosos. Jaziam no chão fragmentos de cofres e de estátuas. A Rainha revistou aquele caos. E, por baixo de um cesto contendo alimentos mumificados, encontrou a enxó de ferro celeste utilizada durante os rituais de ressurreição. A porta do túmulo de Seken fechou-se e foi o seu filho mais velho, auxiliado pelo intendente Qaris, que colocou o selo da necrópole. Depois de Ah-hotep ter aberto os olhos, a boca e as orelhas da múmia, a alma do Faraó deixou de estar presa à terra. Temos de falar da situação, Majestade sugeriu Qaris. Mais tarde. Deveis interromper o mais rapidamente possível a vossa estratégia». In Christian Jacq, A Rainha Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN 978-852-861-216-5, Bertrand Editora, 2006, ISBN 978-972-251-281-7.

Cortesia de BEditora/JDACT