segunda-feira, 20 de abril de 2020

O Último Teorema de Fermat. Simon Singh, «Depois de vinte anos de viagens, Pitágoras tinha assimilado todo o conhecimento matemático do mundo conhecido. Então ele velejou para seu lar, a ilha de Samos, no mar Egeu…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Pitágoras adquiriu as suas habilidades matemáticas nas suas viagens pelo mundo antigo. Algumas histórias fazem-nos crer que ele teria ido até à Índia e a Inglaterra, mas o mais certo é que aprendeu muitas técnicas matemáticas com os egípcios e os babilónios. Esses povos antigos tinham ido além da simples contagem e eram capazes de realizar cálculos complexos que lhes permitiam criar sistemas de contabilidade sofisticados e construir prédios elaborados. De facto, os dois povos viam a matemática como uma ferramenta para resolver problemas práticos. A motivação que conduziu à descoberta de algumas das leis básicas da geometria era a necessidade de refazer a demarcação dos campos, perdida durante as enchentes anuais do Nilo. A palavra geometria significa a medida da Terra. Pitágoras observou que os egípcios e os babilónios faziam os seus cálculos na forma de uma receita que podia ser seguida cegamente. As receitas, que tinham sido passadas através de gerações, sempre produziam a resposta correcta, e assim ninguém se preocupava em examinar, ou questionar, a lógica subjacente daquelas equações. O importante para essas civilizações era que os cálculos davam certo. Porque davam certo era irrelevante.
Depois de vinte anos de viagens, Pitágoras tinha assimilado todo o conhecimento matemático do mundo conhecido. Então ele velejou para seu lar, a ilha de Samos, no mar Egeu, com o propósito de fundar uma escola devotada ao estudo da filosofia e, em parte, voltada para a pesquisa da matemática que acabara de conhecer. Queria entender os números e não meramente utilizá-los. Pitágoras esperava encontrar uma grande quantidade de estudantes de mente aberta que pudessem ajudá-lo a desenvolver filosofias novas e radicais. Mas, durante sua ausência, o tirano Polícrates tinha transformado a outrora liberal Samos numa sociedade intolerante e conservadora. Polícrates convidou Pitágoras a fazer parte da sua corte, mas o filósofo percebeu que o objectivo da oferta era meramente silenciá-lo e recusou a honra. Depois deixou a cidade e foi morar numa caverna, numa parte remota da ilha, onde podia continuar os seus estudos sem medo de ser perseguido.
Pitágoras não apreciava o isolamento e acabou subornando um menino para ser seu primeiro aluno. A identidade do garoto é incerta, mas alguns historiadores sugerem que ele também se chamaria Pitágoras e que o estudante mais tarde ficaria famoso ao sugerir que os atletas deveriam comer carne para melhoria da constituição física. Pitágoras, o mestre, pagava ao seu aluno três ébolos para cada aula a que ele comparecia. Logo percebeu que, à medida que as semanas se passavam, a relutância inicial do menino em aprender se transformava em entusiasmo pelo conhecimento. Para testar seu pupilo, Pitágoras fingiu que não podia mais pagar o estudante e que teria de interromper as aulas. Então o menino ofereceu-se para pagar pela sua educação. O pupilo tornara-se discípulo. Infelizmente este foi o único adepto que Pitágoras conquistou em Samos. Ele chegou a estabelecer temporariamente uma escola conhecida como o Semicírculo de Pitágoras, mas suas ideias de reforma social eram inaceitáveis e o filósofo foi obrigado a fugir com sua mãe e seu único discípulo». In Simon Singh, o Último Teorema de Fermat, 1997, Edição BestBolso, nº 367, Editora Record, 2011-2014, 978-857-799-462-5.

Cortesia de ERecord/JDACT