segunda-feira, 20 de abril de 2020

O Último Teorema de Fermat. Simon Singh, «A vida, príncipe Leon, pode muito bem ser comparada a estes jogos. Na imensa multidão aqui reunida alguns vieram à procura de lucros, outros foram trazidos pelas esperanças…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Pitágoras partiu para o sul da Itália, que era então parte da Magna Grécia. Ele se estabeleceu em Crotona, onde teve a sorte de encontrar o patrono ideal em Milo, o homem mais rico de Crotona e um dos mais fortes de toda a história. Embora a reputação de Pitágoras como o sábio de Samos já estivesse se espalhando pela Grécia, a fama de Milo era ainda maior. Tratava-se de um homem de proporções hercúleas, que fora doze vezes campeão nos jogos olímpicos e de Pítias. Um recorde. Além de sua capacidade como atleta, Milo também apreciava e estudava a filosofia e a matemática. Ele cedeu uma parte de sua casa para que Pitágoras estabelecesse sua escola. E, assim, a mente mais criativa e o corpo mais poderoso formaram uma aliança. Seguro no seu novo lar, Pitágoras fundou a Irmandade Pitagórica, um grupo de seiscentos seguidores, capazes não apenas de entender os seus ensinamentos, mas também de contribuir criando ideias novas e demonstrações. Ao entrar para a irmandade cada adepto devia doar tudo o que tinha para um fundo comum. E se alguém quisesse partir receberia o dobro do que tinha doado e uma lápide seria erguida na sua memória. A irmandade era uma escola igualitária e incluía várias irmãs. A estudante favorita de Pitágoras era a filha de Milo, a bela Teano, e, apesar da diferença de idade, os dois acabaram casando.
Logo depois de fundar a irmandade, Pitágoras criou a palavra filósofo, e, ao fazê-lo, definiu os objectivos da sua escola. Quando assistia aos jogos olímpicos, Leon, príncipe de Pilos, perguntou a Pitágoras como ele descreveria a si mesmo. Pitágoras respondeu: Eu sou um filósofo, mas Leon nunca tinha ouvido a palavra antes e pediu que explicasse.

A vida, príncipe Leon, pode muito bem ser comparada a estes jogos. Na imensa multidão aqui reunida alguns vieram à procura de lucros, outros foram trazidos pelas esperanças e ambições da fama e da glória. Mas entre eles existem uns poucos que vieram para observar e entender tudo o que se passa aqui. Com a vida acontece a mesma coisa. Alguns são influenciados pela busca de riqueza, enquanto outros são dominados pela febre do poder e da dominação. Mas os melhores entre os homens se dedicam à descoberta do significado e do propósito da vida. Eles tentam descobrir os segredos da natureza. Este tipo de homem, eu chamo de filósofo, pois embora nenhum homem seja completamente sábio em todos os assuntos, ele pode amar a sabedoria como a chave para os segredos da natureza.

Embora muitos conhecessem as aspirações de Pitágoras, ninguém fora da irmandade conhecia os detalhes ou a extensão de seu sucesso. Cada membro da escola era forçado a jurar que nunca revelaria ao mundo exterior qualquer uma das suas descobertas matemáticas. Mesmo depois da morte de Pitágoras, um membro da irmandade, que quebrou o juramento, foi afogado. Ele revelou, publicamente, a descoberta de um novo sólido regular, o dodecaedro, construído a partir de doze pentágonos regulares. Esta natureza altamente secreta da Irmandade Pitagórica contribuiu para os mitos que se criaram em torno de estranhos rituais que seriam praticados. E também explica porque existem tão poucos relatos confiáveis das suas conquistas matemáticas. O que se sabe com certeza é que Pitágoras estabeleceu um sistema que mudou o rumo da matemática. A irmandade era realmente uma comunidade religiosa e um de seus ídolos era o número. Eles acreditavam que se entendessem as relações entre os números poderiam descobrir os segredos espirituais do universo, tornando-se, assim, próximos dos deuses. Em especial, a irmandade voltou sua atenção para os números inteiros (1, 2, 3, ...) e as fracções. Os números inteiros e as fracções (proporções entre números inteiros) são conhecidos, tecnicamente, como números racionais. E entre a infinidade de números, a irmandade buscava alguns com significado especial, e entre os mais importantes estavam os chamados números perfeitos». In Simon Singh, o Último Teorema de Fermat, 1997, Edição BestBolso, nº 367, Editora Record, 2011-2014, 978-857-799-462-5.

Cortesia de ERecord/JDACT