terça-feira, 22 de março de 2016

A Grande Heresia. Lynn Picknett e Clive Prince. «Na Bíblia, o jovem São João, conhecido como o Amado, é quem estava, nessa ocasião, tão próximo fisicamente a Jesus a ponto de parecerem estar colados um ao outro»

Cortesia de wikipedia e jdact

O Código Secreto de Leonardo da Vinci
«(…) É possível encontrar, em qualquer lugar do planeta, as mais diferentes versões da Última Ceia de Leonardo, com todos os matizes possíveis de gosto, do sublime ao ridículo. Algumas imagens são tão familiares para nós que nunca as examinamos com uma atenção verdadeira, e embora estejam ali, à nossa frente, totalmente expostas ao olhar do observador, convidando-nos para um exame mais cuidadoso até que finalmente as capturemos em um nível mais profundo e significativo, continuam, na verdade, a ser como as páginas de um livro fechado. Assim é com a Última Ceia de Leonardo e, inacreditavelmente, com quase todas as suas obras. Foi a obra de Leonardo (1452-1519), o atormentado génio italiano do período renascentista, que nos colocou na trilha que nos levaria a revelações tão inacreditáveis em relação às suas conclusões que, à primeira vista, nos pareciam ser total e completamente improváveis: não parecia ser plausível que várias gerações de pesquisadores simplesmente não tivessem observado aquilo que havia tomado de assalto nossa espantada atenção, e nos parecia implausível que tal informação explosiva esperasse, calmamente, todo esse tempo para ser descoberta por escritores que, como nós, não fazem parte dos grupos oficiais de pesquisa histórica e religiosa. Assim, para dar um início mais apropriado à nossa história, temos que retomar à Última Ceia de Leonardo e olhá-la com outros olhos. Porém, não iremos observá-la com olhos pertencentes a um contexto de pressupostos histórico-artísticos familiares. Dessa vez o nosso olhar sobre a obra de arte mais conhecida do mundo será a de um recém-iniciado, um olhar de quem a vê pela primeira vez. E como recém-iniciados na obra, esperamos que toda a gama de conceitos pré-concebidos sejam varridos de nossos olhos e então, pela primeira vez talvez, consigamos realmente enxergá-la.
A figura central, é claro, é a de Jesus, a quem Leonardo, nas suas anotações relativas à obra, se referiu como o Redentor. (Ainda assim, o leitor é avisado a não se deixar levar por nenhum pressuposto óbvio). Jesus olha contemplativamente para baixo, levemente para sua esquerda, as mãos abertas, estendidas sobre a mesa, como que oferecendo um presente ao observador. Essa é a Última Ceia, na qual, segundo nos diz o Novo Testamento, Jesus deu início ao sacramento do pão e do vinho, incitando os seus apóstolos a compartilhá-los como sendo sua própria carne e sangue. Poder-se-ia, com razão, esperar que um cálice de vinho fosse colocado diante dele, complementando tal ritual. Afinal, para os cristãos, essa ceia passou-se no jardim de Gethsemane, imediatamente antes da Paixão, quando Cristo, pediu com fervor: Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice, (uma outra alusão ao simbolismo do vinho/sangue), e da morte pela crucificação, quando o seu sangue sagrado foi derramado em nome de toda a humanidade. Não há, porém, vinho algum diante de Jesus (e em toda a mesa há apenas alguns copos com uma quantidade mínima). Será possível que essas mãos estendidas estejam realizando, essencialmente, como observaria um artista, um gesto sem qualquer significado?
Em face da ausência de vinho, talvez não seja também um mero acaso que de todos os pães presentes na mesa apenas alguns estejam partidos. Será essa uma mensagem subtil relacionada à verdadeira natureza do sofrimento de Jesus, já que este, ao identificar o pão com seu próprio corpo, partiu-o, dando-o como representação do seu supremo sacrifício? Isso, contudo, é apenas a ponta do iceberg de toda a heterodoxia que está presente nessa obra. Na Bíblia, o jovem São João, conhecido como o Amado, é quem estava, nessa ocasião, tão próximo fisicamente a Jesus a ponto de parecerem estar colados um ao outro. Todavia a figura desse jovem, na obra de Leonardo, não está assim tão inclinada em direcção a Jesus, como teria exigido, digamos, uma direção de palco bíblica. Muito ao contrário, João é retratado afastando-se exageradamente do Redentor, com a cabeça, de um modo um tanto afectado, pendendo para a direita. E isso não é tudo o que pode ser dito a respeito dessa personagem e, portanto, devemos perdoar os recém-iniciados na obra ao vermos que podem ser tomados por pensamentos cheios de dúvida em relação ao assim chamado São João. Seria razoável, durante um certo tempo, pensar que as predilecções particulares do artista tenderiam a fazê-lo representar o supra-sumo da beleza masculina de um modo um tanto efeminado, porém, com certeza, o que nós vemos é uma mulher. Tudo o que se relaciona a ele é chocantemente feminino. Ainda que o fresco seja muito antigo e bastante castigado pelo tempo, qualquer pessoa é capaz de notar as mãos finas e graciosas, a figura bela e élfica, o colo distintamente feminino e a gargantilha dourada colocada no seu pescoço. Essa mulher, porque é disso que se trata, além de tudo veste-se com trajes que a diferenciam, tornando-a alguém especial. O seu traje é a imagem espelhada do traje do Redentor: enquanto um veste uma túnica azul e uma capa vermelha, o outro veste uma túnica vermelha e uma capa azul do mesmo estilo. Nenhum outro, na mesa, veste roupas que sejam como a imagem espelhada das roupas de Jesus. Nenhum outro na mesa é, porém, uma mulher». In Lynn Picknett e Clive Prince, A Grande Heresia, O Segredo da Identidade de Cristo, 2000, tradução de Adriano Sandoval, Editora Beca, 2000, ISBN 978-858-725-617-1.

Cortesia de EBeca/JDACT