terça-feira, 15 de julho de 2014

Memória Acerca dos Portugueses na Abyssínia. 1894. Visconde de Soveral. «O espirito esclarecido e eminentemente prático do insigne Affonso de Albuquerque manifestam-se em toda a sua magnificencia n’aquellas paragens»

Cortesia de wikipédia

«(…) O padre Lobo não perdeu o tempo na Abyssínia, nem mesmo escapou a agudeza de seu espírito investigador apontar Macuá como ponto estratégico e chave da Abyssínia. Os italianos assim o reconheceram há poucos anos, quando ocuparam aquela cidade. Os abexins favoreceram e trataram bem os portugueses enquanto careceram do seu auxilio, nas dissensões internas; passado o perigo, a sua conduta tornou-se insuportável. O próprio Patriarca João Bermudez foi preso, e se conseguira a liberdade, ele mesmo declara deve-la ao auxilio de três portugueses, cujos nomes menciona: Manoel Soveral, Peropalha e Denis Lima. O Patriarca conseguiu por fim abandonar o país em 1565. É innegavel que os padres da Companhia praticaram importantes serviços à religião e à civilisação; não é, porém, menos exacto que o seu empenho de avassallar e de amontoar riquezas, foram causas de seu desprestigio no seculo passado. Na Abyssinia, a impopularidade contra a Companhia chegou aos frades indigenas, os quaes se sentiram desconsiderados e humilhados por estranhos. Quanto fica relatado acerca da extraordinaria influencia e poderio dos portuguezes nos mares Roxo e Persico, está comprovado em documentos irrefragaveis, sobretudo os relativos aos annos de 1512 e 1544 – 1606 e 1690, os quaes encerram materia de subido interesse com referencia á Abyssinia e á Persia.
Figuram entre aquelles documentos, as capitulações negociadas pelo general do exercito de Ormuz e mar Roxo, Antonio Machado Brito com Calil Baxa Bassora; como tambem os da missão de Gregorio Pereira Fidalgo, na qualidade de Embaixador de El-Rei Dom Pedro II junto do Rei da Persia, para felicital-o pela sua elevação ao throno, e para ratificar a Liga efeituada por Francisco Pereira Silva, capitão-mór da armada de alto bordo do Estreito de Ormuz e mar Roxo. O espirito esclarecido e eminentemente prático do insigne Affonso de Albuquerque manifestam-se em toda a sua magnificencia n’aquellas paragens. Damos por terminada a nossa investigação, a qual tivera por objecto reunir dados historicos àcerca dos primeiros portuguezes que penetraram na Abyssinia». In Visconde de Soveral, Memória acerca dos portugueses na Abyssínia, Porto, Tipografia do Comércio do Porto, 1894.

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